ARGENTINA
SANTOS
Argentina
Santos cantou, essencialmente, no restaurante de que sempre foi proprietária, A
Parreirinha de Alfama. Para além do seu "cantinho", durante muitos
anos apenas aceitou, pontualmente, alguns convites que lhe foram dirigidos para
cantar em algumas festas de amigos ou pequenas comemorações.
A
fadista Argentina Santos, de nome completo Maria Argentina Pinto dos Santos,
nasceu na Mouraria, em Lisboa, a 6 de Fevereiro de 1924. Filha mais nova de 3
irmãos, iniciou a instrução primária, mas pela necessidade de trabalhar não
chegou a terminar. Já em idade adulta frequentou aulas para aprender a ler e
escrever.
Ainda
criança começou por fazer recados e compras para as senhoras do bairro e depois
foi trabalhar numa peixaria, onde se manteve até 1950, altura em que abriu com
o seu companheiro, a casa Parreirinha de Alfama, uma casa de pasto, rapidamente
transformada em Casa de Fado. Neste espaço mantém-se até hoje, acumulando a
gestão com a interpretação do Fado, actividade que iniciou passados 3 anos de
estar nessa casa. Argentina Santos é viúva e não tem filhos.
Mulher
corajosa e de muito trabalho dedicou-se à cozinha do espaço que abriu. Aí se
juntavam muitos fadistas para petiscar e cantar e, a pouco e pouco, criaram o
ambiente do restaurante que ainda hoje se mantém. Argentina Santos não pensava
em cantar, conforme conta em entrevista a Baptista-Bastos, quis o acaso que um
dia alguém da assistência lhe pedisse para cantar, e assim "entrou numa
desgarrada" por brincadeira. Atrás desse pedido outros vieram e o que
começou por um mero acaso, acabou por tornar-se um "caso sério" na
sua vida: para além de proprietária e cozinheira, passou a cantar para os seus
clientes sempre que estes lho pediam e, “valha a verdade”, nunca mais deixaram
de o fazer.
Por
isso mesmo, o grande público do seu país apenas a conheceu quando, pela mão do
seu grande amigo e admirador Carlos do Carmo é vista na televisão, nos
concertos por ele realizados no Coliseu dos Recreios (1994) e no Centro
Cultural de Belém (1998).
A
partir de 1994, pontificou ainda em inúmeros programas de televisão, sozinha ou
ao lado de Carlos do Carmo, Jorge Fernando, Carlos Zel e a convite de
entrevistadores como Júlio Isidro, Júlia Pinheiro ou João Baião.
Posteriormente
a essas actuações deslocou-se ao Brasil (a S. Luís do Maranhão, em 1995, a
convite de Pedro Caldeira Cabral, e a S. Paulo, em 1999 actuando na Casa de
Portugal, com Carlos do Carmo), à Grécia (com Carlos Zel), à Escócia (com
Carlos Zel, Rodrigo Félix e Pedro Caldeira Cabral), a França (com Jorge
Fernando), à Holanda (com Carlos Zel e Miguel Capucho) ao País de Gales (com
Jorge Fernando), a Londres (com Mafalda Arnauth, Carlos Zel e Rodrigo Félix) e
a Itália (com Carlos Zel).
A
sua Parreirinha de Alfama tem sido cenário de muitos afectos: por lá têm
passado grandes poetas do fado e compositores que lhe têm oferecido todo o
reportório que possui. E, consciente da importância de ter um repertório
próprio, Argentina Santos faz questão de cantar temas exclusivos, à excepção do
fado "A Lágrima", de Amália Rodrigues, e do "Lisboa Casta
Princesa", do repertório de Ercília Costa, mas popularizado por Lucília do
Carmo.
Temas
como "A Minha Pronúncia", o "Chafariz d' El Rei", “As Duas
Santas” e “Juras” são a sua imagem de marca, os quais foram registados nos seus
primeiros trabalhos discográficos, ainda em formato de 78 rpm, gravados para a
editora Estoril, logo no ano da sua estreia, em 1953.
Os
CDs "Argentina Santos", edição de 1998 da Movieplay, e
"Argentina Santos", colecção Antologia, editado pela CNM em 2004, são
os mais recentes trabalhos discográficos, duma produção discográfica que não se
tornou muito vasta fruto da sua personalidade tímida, mas também do facto do
seu companheiro não gostarem de a ver cantar em público nem apoiarem a sua
carreira como fadista.
Durante
muitos anos a fadista recusou a exposição pública e inúmeras deslocações,
participando em poucos espectáculos e cingindo-se às apresentações na sua Casa
de Fados e a uma ou outra festa particular. Ainda assim, ao longo de mais de 50
anos de carreira, a fadista cantou ao lado de quase todas as figuras relevantes
da interpretação do Fado, uma vez que a sua casa se tornou uma referência para
o público de Fado e por ela passaram e actuaram grandes nomes, como é o caso de
Berta Cardoso, Celeste Rodrigues, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Maria
da Fé ou Fernanda Maria.
Em
1999, no dia 28 de Novembro, foi-lhe prestada uma festa de homenagem no Museu
do Fado, tendo tido a cantar para si amigos tão especiais como Rodrigo, Jorge
Fernando, Maria da Nazaré, Teresa Tapadas, e, como não podia deixar de ser,
Carlos do Carmo. Na altura foi-lhe entregue uma medalha de louvor pelo senhor
vereador da Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, Engº António
Abreu.
No
ano seguinte, a 28 de Abril, foi-lhe prestada uma homenagem no Coliseu dos
Recreios em Lisboa, onde participaram inúmeros fadistas das várias gerações,
que lhe teceram elogiosos comentários, demonstrativos do grande respeito
inspirado pela fadista Argentina Santos aos seus colegas. Renderam-lhe
homenagem grandes vozes como Carlos do Carmo, Camané, Jorge Fernando, Maria da
Fé, Carlos Macedo, Rodrigo e Mafalda Arnauth.
Actualmente
canta na sua Casa de Fados e, para além dos seus concertos individuais,
participa no projecto de Ricardo Pais “Cabelo Branco é Saudade”. Este é um
espectáculo dirigido por Ricardo Pais e estreado no Teatro de São João, no
Porto, em Julho de 2005, onde participam, para além de Argentina Santos, os
fadistas Celeste Rodrigues, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro. Com este
espectáculo tem, também, efectuado diversos espectáculos e inúmeras deslocações
nacionais e ao estrangeiro.
A
Fundação Amália Rodrigues, na sua primeira atribuição de prémios, em 2005,
distinguiu Argentina Santos com o prémio "Carreira".
Nesse
mesmo ano a sua casa, a Parreirinha de Alfama, foi também agraciada com o
troféu para Casas de Fado entregue no concurso Grande Noite do Fado.
Fonte:
Museu do Fado - Última actualização: Março/2009.
Entretanto,
Argentina Santos faleceu na Casa do Artista em 18 de Novembro de 2019 com 95 anos.
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