JOSÉ
NUNES
José
Nunes Alves da Costa, José Nunes, nasce no Porto, em Paranhos, a 28 de Dezembro
de 1916. Cedo perde o pai, oficial do exército e regente da banda do extinto
Regimento de Infantaria 18. Aos 5 anos, José Nunes começa a aprender a dedilhar
na guitarra o Fado Menor e aos 8 anos vem para Lisboa, ingressando o Instituto
dos Pupilos do Exército, onde permanece até aos 16, e conclui o curso de
Electrotecnia, ao mesmo tempo que, por iniciativa própria, aprende a tocar
guitarra. Frequenta então uma casa de lotarias e taberna que ficava na Rua dos
Cavaleiros, pertencente a Costa Delgado (antigo agente da Polícia de
Investigação Criminal), que tinha uma guitarra e uma viola e um compartimento
próprio para receber a "malta" amante do fado, que ali se reunia
todas as tardes.
Com
14 anos tocou no “Café Ginásio”, no “Café Luso” (Av. Liberdade) e no “Café
Mondego”. Foi neste último que viria a estrear-se como profissional (1936)
acompanhado à viola por Alfredo Mendes. Manteve-se nesta casa até 1945, na fase
em que passou a chamar-se “Retiro do Marialva”.
Em
1935 José Nunes integra a formação da Orquestra Aldrabófona, de música popular
portuguesa. Colaborou no “Solar da Alegria”, sob a direcção artística de Júlio
Proença, no período em que ali se realizaram as célebres noites de "Fado
Antigo", formando um conjunto de guitarras e violas composto por Casimiro
Ramos, Alfredo Mendes e Pais da Silva. Manteve-se ainda, durante 7 anos, no
“Café Luso” (Travessa da Queimada).
Entretanto
emprega-se nas Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, onde veio a exercer
o cargo de adjunto do chefe da rede geral de gás. Funcionário consciencioso,
sempre conseguiu conciliar a actividade artística com os seus deveres
profissionais, revelando nas suas atitudes uma verticalidade que levava a que
alguns o considerassem um homem de feitio difícil. Apesar disso conseguiu
reunir muitos amigos ao longo da vida.
Revelando
uma extraordinária técnica, José Nunes actuou em directo nos primeiros
programas radiofónicos de fado em 1935/36, na Rádio Graça e em 1936/37 na Rádio
Luso e, durante 30 anos, manteve na Emissora Nacional um programa que viria a
estimular a vocação de uma nova geração de futuros guitarristas.
José
Nunes foi também o primeiro guitarrista a actuar na Radiotelevisão Portuguesa
ainda no período experimental com início em 1956. A partir de então seguiram-se
outras actuações nos programas «O fado do português» (1972) e «Fado vadio»
(1979).
No
cinema teve também uma intervenção acompanhando as vozes de Paquita Rico e de
Carlos Ramos no filme «Lavadeiras de Portugal» (1956).
A
par do seu talento, revelado acima de tudo no percurso das casas de fado e no
acompanhamento de vozes, José Nunes participou em festas particulares e
espectáculos públicos em Lisboa e todo o país, integrando designadamente os
elencos artísticos dos programas para os «Soldados de Portugal» (1948/1951),
dos «Serões para trabalhadores», em que colaborou durante 11 anos, e dos
programas de fados da «Robbialac», em que com o violista Miguel Ramos
acompanhou Maria Pereira.
Acompanhou
vozes como: Beatriz da Conceição, Deolinda Rodrigues, Fernanda Peres, Júlia
Barroso, Julieta Brigue, Maria Albertina, Maria de Fátima Bravo, Natalina
Bizarro, Virgínia Soller, Alfredo Marceneiro, Américo Lima, Carlos do Carmo,
Fernando Farinha, Carlos Zel, João Ferreira Rosa e Vicente da Câmara, entre
muitos outros. Na década de 60 acompanhou Amália Rodrigues em inúmeros
espectáculos em Portugal e no estrangeiro, "desistindo de o fazer devido à
sua fobia de andar de avião".
Emparceirou
com grandes violistas, como Alfredo Mendes (com quem se estreou), Castro Mota,
Domingos Silva, Agostinho Dias, Francisco Perez Andion (Paquito), Humberto de
Andrade, Joel Pina, José Inácio, José Maria Nóbrega, Júlio Gomes, Martinho
D´Assunção, Pais da Silva, entre outros.
Gravou
mais de meia centena de discos "todas elas com a marca da sensibilidade,
da maviosidade, da pessoalíssima, requintada e primorosa execução que
caracterizaram as suas interpretações", no dizer de Eduardo Sucena.
São
composições originais suas: "Ana Cristina", "A Ti Manuel dos
Santos" (fado com letra de Lavadinho Mourato, criação de Julieta Brigue),
"Caixa de Música", "Caixinha de Música", "Chula de
Sabrosa", "Divagações no Fado Mayer", "Fado Bolero",
"Fado Micas", "Fado Pedro", "Fado Pereiró",
"Fado Quina", "Valsa Fantasia", "Valsa Filipa",
"Variações no Fado Ana Maria", "Variações no Fado João de
Deus", "Variações no Fado Lopes", "Variações no Fado
Paloma", "Variações Nostálgicas", "Variações Num
Comboio", "Variações em Lá Menor" (1 e 2), "Variações em Lá
Maior" e "Vira de Frielas".
Foi
homenageado, pelos seus muitos amigos, em 3 de Maio de 1964, na Tertúlia da
Festa Brava. No mesmo local foi sentidamente evocado a 19 de Maio de 1979, com
o descerramento do seu retrato, "em reconhecimento pela forma generosa
como durante anos dera colaboração aos convívios daquela casa"
Faleceu
a 23 de Fevereiro de 1979, no Hospital de Santa Maria, vítima de um acidente
vascular cerebral.
José
Nunes é hoje considerado um dos mais criativos e influentes guitarristas,
referência para outros instrumentistas como Fontes Rocha, António Chaínho,
Carlos Gonçalves, José Luís Nobre Costa. António Parreira, José Pracana,
António Luís Gomes, Alcino Frazão e Sebastião Gomes Pinto (Pinto Varela),
alguns dos quais viriam depois a adoptar o seu próprio estilo.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização:
Maio de 2008.