quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS



TRISTÃO DA SILVA

Manuel Augusto Martins Tristão da Silva, filho de Francisco Tristão da Silva e Teodora Augusta Martins, nasceu a 18 de Julho de 1927 na Freguesia da Penha, em Lisboa.
Quando Manuel Tristão da Silva inicia a escola passa “os seus momentos livres a cantar, para o que demonstrava decidida vocação.” (“Álbum da Canção”, Nº29, 1 de Julho de 1965). E, no início de 1937, quando contava apenas 9 anos, foi contratado pelo empresário José Miguel, para actuar aos domingos na «matinée» do Café Mondego. Nesta altura usava o nome Manuel da Silva, mas ficou conhecido pelo “Miúdo do Alto do Pina”.
Conclui a instrução primária e torna-se empregado numa drogaria na Graça, de onde transita para outra situada na Rua Morais Soares e, mais tarde, aprende o ofício de serralheiro. Ainda assim, e apesar de contar com apenas 15 anos, estas actividades profissionais não o impedem de prosseguir a carreira artística, cantando em muitas das sociedades de recreio e, posteriormente, nas casas de Fado de Lisboa. Tristão da Silva fez parte dos primeiros elencos da Sala Júlia Mendes, no Parque Mayer, e do Café Monumental, na Rua Carvalho Araújo.
Com o sonho de se tornar um artista mais popular, o fadista faz, várias vezes, provas para entrar nos quadros da Emissora Nacional, mas acaba por ser recusado. Entretanto vai cumprir o serviço militar obrigatório e é incorporado no Regimento de Artilharia Ligeira 3, onde lhe é permitido sair para cantar nas noites em que tem contratos de espectáculo.
Com cerca de 22 anos, depois de terminado o serviço militar, Tristão da Silva é apresentado ao maestro Belo Marques, então director musical da editora Estoril, sendo contratado por Manuel Simões para fazer algumas gravações discográficas, acompanhado pela orquestra de Belo Marques.
Datam de 1954 dois grandes êxitos que trouxeram a Tristão da Silva a consagração junto do público: o tema “Nem às Paredes Confesso”, de autoria de Max e Artur Ribeiro, e “Maria Morena”, com letra de Radamanto e música de Casimiro Ramos.
Admitido como artista da Emissora Nacional passa a apresentar-se em vários programas de rádio, obtendo naturalmente grande sucesso. Tristão da Silva actua, em 1955, na Ilha da Madeira e, no ano seguinte, nos Açores. O fadista faz, também, gravações em Espanha e uma deslocação a África, para além de ser dos primeiros artistas a apresentar-se nos programas da RTP, então transmitidos a partir da Feira Popular.
Em 1960 viaja até ao Brasil, onde acaba por permanecer durante 4 anos, para actuar na Rádio e na TV Tupi do Rio de Janeiro e nas várias casas típicas portuguesas da cidade. Participa em peças teatrais, nomeadamente com Osvaldo Lousada numa peça intitulada "O Assunto É Mulher ". Posteriormente desloca-se a São Paulo, onde também actua na Rádio, na Tv e nas principais “boites” da cidade; e faz uma digressão que o leva ao Recife, Baía, Porto Alegre, João Pessoa, Pelotas, Fortaleza e Brasília. Em Porto Alegre é contratado para uma nova digressão desta vez para actuar na Bolívia, Chile, Paraguai, Argentina, Uruguai e Perú.
De salientar na sua estadia no Brasil o prémio “Sassy”, que recebe em 1961, em São Paulo, destinado “à melhor atracção internacional do “music-hall” em exibição naquela capital.” (“Álbum da Canção”, Nº29, 1 de Julho de 1965).
Tristão da Silva regressa a Lisboa em 1964, pela mão de Vasco Morgado que o contrata para actuar na revista "Férias em Lisboa". Nesta altura, o fadista apresenta-se, também, em programas da RTP, e canta na casa típica de Fernanda Maria, o Lisboa À Noite.
Tristão da Silva passa pelos elencos das mais populares casas de Fado de Lisboa , como O Faia, A Tipóia, A Parreirinha de Alfama, o Forcado ou O Luso, e canta, também, em sessões cinematográficas do Politeama e em peças teatrais como a “Marujinhos à Vela” ou a já mencionada “Férias em Lisboa”, em cena respectivamente nos teatros Maria Vitória e Monumental.
Ilustrativas da sua popularidade são as quadras que o poeta Carlos Conde lhe dedica, na sua rubrica “Galarim da Semana”:
“Justamente consagrado / Todos sabem que Tristão
Tem sido grande no Fado / P’ra ser maior na canção!
Não pediu nada a ninguém / P’ra chegar onde chegou;
O prestígio que hoje tem / A seu tempo o conquistou!
O Tristão não é dos tais / Que julgam muito saber,
Por isso é que vale mais / Do que o que julga valer!”
(revista “Plateia”, s/d.)
Viria a falecer, com 50 anos, num brutal acidente de viação em Janeiro de 1978, quando regressava de uma actuação na casa de Fados O Forcado. Terminou assim, abruptamente, uma carreira recheada de grandes êxitos, como os já citados, “Nem às Paredes Confesso” e “Maria Morena”, ou ainda “Da Janela do Meu Quarto”, “Aquela Janela Virada P’ró Mar” e “Calçada da Glória”. Temas interpretados em estilo romântico que a voz grave e fortemente personalizada de Tristão da Silva eternizou.
Em 2004, a Câmara Municipal de Lisboa prestou a sua homenagem ao cantor, atribuindo o seu nome a um jardim situado nas freguesias do Alto do Pina e do Beato.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Outubro/2008




VICENTE DA CÂMARA

Dom Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara nasceu em Lisboa, no Alto de Santa Catarina, no dia 7 de Maio de 1928. Descende de uma antiga família cujas raízes remontam a João Gonçalves Zarco. Filho de Maria Edite e João Luís da Câmara, jornalista e locutor na Emissora Nacional, começou a interessar-se pelo Fado ouvindo os discos de João do Carmo de Noronha, seu tio avô, e assistindo aos ensaios de sua tia, Maria Teresa de Noronha.
Vicente da Câmara começou a “puxar para a fadistice” e, com 15 anos, já interpretava o fado como amador, frequentando com os amigos espaços como a Adega Mesquita, a Adega Machado ou a Adega da Lucília. Nesta altura aprende também a tocar guitarra. Apesar de presença habitual nestes espaços, o fadista nunca integrou nenhum elenco fixo das casas de fado. Incentivado pela tia e por Henrique Trigueiro participa num concurso da Emissora Nacional, nesse ano a vencedora é Júlia Barroso, mas no ano seguinte Vicente da Câmara ganha o 1º prémio. A partir dessa data, 1948, actuou num grande número de programas daquela estação, como os “Serões para Trabalhadores”, programas de estúdio e sobretudo no programa que a sua tia, Maria Teresa de Noronha, manteve naquela emissora até 1962. Por essa altura, em 1950, e em vésperas da sua partida para Luanda (Angola), onde permanecerá 2 anos, assina o seu primeiro contrato discográfico, com a Valentim de Carvalho, e grava o seu primeiro disco, lançando os temas: "Fado das Caldas" e "Varina".  A 23 de Abril de 1955 casa-se com D. Maria Augusta de Mello Novais e Atayde, com quem terá 6 filhos. O mais novo, José da Câmara, segue as pisadas do pai, chegando os dois a pisar o mesmo palco e a gravar juntos, como acontece no CD “Tradição” (EMI, 1993), onde se juntam a Nuno da Câmara Pereira numa homenagem a Maria Teresa de Noronha.
Vicente da Câmara passa a ser contratado da editora Custódio Cardoso Pereira em 1961. É neste período que escreve "A Moda das Tranças Pretas", hoje reconhecidamente o seu maior. Em 1967 celebra um contrato com a Rádio Triunfo, onde grava temas como "Guitarra Soluçante", “O Fado Antigo é Meu Amigo” e "Há Saudades Toda a Vida".
No cinema participou na "Última Pega" (1964), filme realizado por Constantino Esteves, com Leónia Mendes e Fernando Farinha. Vicente da Câmara protagoniza uma desgarrada com Fernando Farinha. Só voltará ao cinema em 2007, mas as suas participações em programas de televisão serão uma constante ao longo de toda a carreira.
Após o 25 de Abril o fado passa por um conhecido período de menor popularidade que se reflecte para o fadista numa quase total ausência de espectáculos. Vicente da Câmara mantém a sua actividade profissional, durante 19 anos, como inspector da CIDLA, pelo que a sua dedicação ao fado como profissional, com uma actividade bastante intensa, a nível nacional e internacional, atinge o auge na década de 80.
Desde então tem realizado espectáculos na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Holanda, Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Seul, Coreia, Malásia, Brasil, Moçambique e Angola. Em 1989, por ocasião dos seus 40 Anos de Carreira Artística, os amigos organizam uma Festa de Homenagem, no Cinema Tivoli, onde ele próprio actuou e, como confidencia "jamais esquecerá".
No dia 25 de Setembro, na inauguração do Museu do Fado (do qual é um dos membros do Conselho Consultivo), abriu o espectáculo realizado no Largo Chafariz de Dentro, gravado pela RTPi.
Poeta e intérprete do fado, acompanhando-se à guitarra, D. Vicente continua a manter a tradição do fidalgo fadista, imprimindo às suas interpretações um cunho muito particular, destacando-se uma característica única, o timbre e musicalidade da sua voz, numa sempre clara articulação dos poemas. O seu registo discográfico mais recente, “O rio que nos viu nascer”, foi editado pela Ovação em 2006. O mercado acolhe também algumas reedições das suas gravações em formato CD, de que salientamos as colectâneas do seu trabalho nas colecções “O Melhor dos Melhores” (Movieplay, 1994) e “Biografia do Fado” (EMI, 2004). Em 2007 regressa ao cinema, no filme de Carlos Saura, "Fados", protagonizando um excerto dedicado às Casas de Fados, onde se junta a Maria da Nazaré, Ana Sofia Varela, Carminho, Ricardo Ribeiro e Pedro Moutinho para recriar o ambiente das interpretações.
Em 2009, Vicente da Câmara festeja os seus 60 anos de carreira artística. O Teatro Tivoli é novamente o palco de comemoração da efeméride com um espectáculo onde, para além do próprio actuaram José da Câmara, Maria João Quadros, Teresa Siqueira e António Pinto Basto, entre outros. Ainda neste ano a Fundação Amália Rodrigues distinguiu-o com o “Prémio Carreira”.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Abril/2009
(Entretanto Vicente da Câmara faleceu no dia 28 de Maio de 2016)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS




RODRIGO

Nasceu no seio de uma família com enormes carências económicas, pelo que aos 12 anos deixou de estudar e começou a trabalhar para ajudar a família, na UTIC, uma empresa de peças para automóveis. Mais tarde entra para a Companhia Nacional de Navegação onde se manteve até aos 19 anos. É neste período que dá os primeiros passos na música fazendo parte de um grupo vocal chamado "Os Cinco Réis", que interpretava músicas latino-americanas, em versões portuguesas. Essa banda chega a gravar um disco: "O Pepe" e a aparecer em vários programas de televisão. Mas, entretanto Rodrigo é chamado para o serviço militar e a banda termina.
Aos 21 anos de idade Rodrigo emigra pela primeira vez, com destino a França, impelido por uma vontade de conhecer e aprender novas coisas. Na véspera da viagem, juntamente com os amigos, terminam a noite de despedida numa casa de Fados em Alcântara, a "Cesária", uma experiência singular para Rodrigo, não só pelo ambiente que o rodeia, como pelo facto de cantar pela primeira vez em público o único Fado que sabia: "Biografia do Fado" de Carlos Ramos. Foi esta a sua "apresentação ao Fado", um sucesso entre os que o ouviam, deixando-o definitivamente seduzido pelo género.
Este momento deixa marcas na sua vida e durante a permanência em França sintonizava os programas da Emissora Nacional para ouvir Fado.
Rodrigo regressa em definitivo a Portugal aos 26 anos e passa a frequentar e a cantar assiduamente nas casas de Fado amador, a sua grande maioria situadas em Cascais e arredores, onde conhece uma singular geração de fadistas; Teresa Tarouca, António Melo Correia, João Braga, José Pracana, Carlos Zel, Carlos Guedes Amorim, Teresa Siqueira, entre outros. Começou a ser solicitado para espectáculos ao vivo e convidado para a primeira gravação.
Profissionaliza-se em 1975, mas ainda como amador gravou os seus primeiros discos, como é o caso de "Eu sou povo e canto esperança", em 1973.
A projecção nacional chegará com o álbum "Coentros e Rabanetes", editado em 1976, e com ele inúmeros concertos, entrevistas e programas na televisão. Rodrigo chega inclusivé a ser convidado para uma Gala no Casino da Figueira da Foz.
No início dos anos 80 abriu a sua própria casa de Fados, em Birre, nos arredores de Cascais, "O Arreda", seguiu-se o "Picadeiro" e o "Estribo" que passou para "Forte D. Rodrigo", dedicando-se quase em exclusivo à sua grande paixão, o Fado.
Em meados da mesma década Rodrigo foi um dos impulsionadores da União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV).
Face ao assinalável êxito, são inúmeras as viagens e espectáculos que integra, salientando a forte ligação às comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo. Todos os espectáculos são preparados ao ínfimo pormenor, desde o cuidado na escolha do repertório, dos músicos que o acompanham, -habitualmente António Parreira, José Nobre Costa na guitarra portuguesa, Francisco Gonçalves e Raúl Silva na viola - até a uma pequena introdução sobre o poema que se vai cantar.
Recebeu um título de Cidadão Honorário atribuído pelo Senado do Estado de Rhode Island (E.U.A.)
Do seu repertório destacamos os grandes êxitos: "Cais do Sodré" de Francisco V. Bandeiras, "Gente do Mar" e "Eu sou povo e canto esperança" de João Dias, "Coentros e Rabanetes" de Jorge Atayde.
Com uma personalidade muito própria, Rodrigo continua a ser um assinalável caso de popularidade.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Fevereiro/ 2008




TONY DE MATOS

Tony de Matos é uma das figuras mais carismáticas do meio artístico português. Filho de Afonso de Matos e Mila Graça, António Maria de Matos, nasce no Porto a 28 de Outubro de 1924. Vive até aos 5 anos nesta cidade, altura em que a sua mãe passa a integrar a Companhia de Teatro itinerante de Rafael de Oliveira. Tony, como era tratado por todos, começa cedo a pisar os palcos e passa grande parte da sua infância e adolescência, de cidade em cidade.
Aos 13 anos estreia-se como ponto e, por os pais o quererem afastado da vida artística, aprende o ofício de barbeiro, o qual vai pondo em prática nas terras onde a companhia se vai estabelecendo.
O desejo de cantar fá-lo rumar até Lisboa, onde, paralelamente, se emprega na Comissão Reguladora das Moagens de Ramas. Tony de Matos é recusado, por duas vezes, no concurso de admissão à Emissora Nacional, mas com a interpretação dos temas “Se Eu Morrer Amanhã” e “Noite de Luar” é finalmente aprovado em 1945.
Três anos mais tarde, num regresso à Companhia de Teatro, e em noite de exibição numa das muitas Verbenas, desta feita no Atlético, Tony canta alguns temas do repertório de Alberto Ribeiro e, naturalmente, impressiona quem o ouve. Júlio Peres é, nessa data, director artístico do recinto e logo o convida para se apresentar no Luso, casa onde é de imediato contratado para integrar o elenco, recebendo 50 escudos por noite. É nesta altura que Tony de Matos, com 23 anos, se profissionaliza, num "ambiente puramente fadista", facto que justifica, em entrevista, dizendo: “também sou fadista a meu modo porque, como sabe, entre os meus números de mais agrado encontram-se alguns de fado-canção…” (“A Voz de Portugal”, 10 de Setembro de 1954).
Tony de Matos alcança grande popularidade quando integra a programação da APA (Agência de Publicidade Artística) e o "Comboio das Seis e Meia", com os quais percorre todo o país, em inúmeros espectáculos. São os temas românticos que passam a marcar todo o seu percurso artístico.
Logo a abrir a década de 50, Tony de Matos é convidado por Manuel Simões a gravar o primeiro disco, em Madrid, de onde se destaca o tema "Cartas de Amor", um estrondoso sucesso na rádio. No regresso a Portugal é convidado a filmar o documentário “Almourol”, realizado por Fernando Garcia.
Data de 1953 a sua estreia no teatro de revista, primeiro no elenco de "Cantigas Ó Rosa", a que se segue a peça "Saias Curtas", onde faz um dueto com Maria José da Guia.
Em finais desse mesmo ano, e graças ao sucesso alcançado até então, surge o convite de empresário Mangioni para uma temporada no Brasil. Para além de se apresentar em programas de televisão e rádio, Tony de Matos é contratado para actuar nas casas: Oásis, Lord e Esplanada. Permanece no Brasil por um período de seis meses e grava 4 discos de 78 RPM, onde revela um novo êxito, o tema "Rosinha dos Limões".
Regressa a Lisboa por apenas um mês e volta ao Brasil, a bordo do "Santa Maria", para uma visita às cidades do Rio de Janeiro e Santos. Em entrevista, Tony de Matos revela: "Contratos não faltam, felizmente. O público do país irmão tem-me acarinhado de tal maneira que eu no Rio ou em São Paulo, estou como em minha casa!" (“A Voz de Portugal, 10 de Setembro de 1954).
Tony de Matos é então dos artistas mais destacados da época e passa a ser solicitado em todo o mundo para espectáculos e digressões, que passam pelas ilhas dos Açores e Madeira, e por países como Espanha, Itália, São Tomé, Angola, Moçambique, África do Sul, Congo, Rodésia, Goa, Líbano, Iraque, Egipto, Turquia, entre outros.
Depois de percorrer vários continentes faz, em 1957, nova viagem de regresso ao Brasil, onde ficará por seis anos. Tony de Matos, entretanto casado com a cantora Maria Sidónio, abre com ela, em Copacabana, o restaurante "O Fado", em 1959. Tony de Matos continua com apresentações na rádio e televisão brasileiras, com destaque para a TV Rio, TV Tupi, Rádio Nacional e Clube 36. Corre todo o Brasil e arrecada inúmeras ovações, faz novas gravações e para a sua crescente popularidade também contribuem Joaquim Pimental e António Rodrigues, que lhe escrevem, entre outros, o tema "Vendaval", um dos seus maiores sucessos, rapidamente difundido pela rádio e televisão.
Volta a Portugal com vários discos gravados, onde se encontram músicas que serão futuros êxitos, casos de, por exemplo: "Lugar Vazio", "Lado a Lado", "Procuro Mas Não te Encontro", "Poema do Fim", ou a já referida "Vendaval". Assina contrato com a editora Valentim de Carvalho para as futuras gravações, passando a receber uma percentagem record (7%) da receita das vendas.
Neste seu regresso Tony de Matos sonha em abrir um restaurante semelhante ao que havia possuído no Brasil (O Fado) e, em 1964, inaugura um espaço a que chama Lado-a-Lado. Ainda em 1964, faz a sua estreia no grande ecrã, no filme "A Canção da Saudade", de Henrique Campos, onde interpreta o tema "Só nós dois". A 3 de Abril de 1965 Tony de Matos recebe o Prémio Música Ligeira, para melhor cançonetista, e, nesse mesmo ano, volta ao cinema, protagonizando ao lado de Leónia Mendes o filme "Rapazes de Táxis", realizado por Constantino Esteves.
Em 1966, Tony de Matos concorre ao Festival da Canção, com "Nada e Ninguém", um poema de autoria de António José, mas classifica-se no último lugar. Dois anos mais tarde fará o seu regresso ao teatro no elenco da revista "Arroz de Miúdas", onde criou "O Que Sobrou da Mouraria", com letra de Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha e música de João Nobre.
Tony de Matos é uma das vozes mais proeminentes e populares no mundo da canção portuguesa, como nos diz a revista “Antena”: “cantou em quatro continentes, a sua voz está implantada em milhares de discos, o rosto surgiu na tela grande, a presença firmou-se na retina de quem o aplaude no teatro ou na televisão, quem o escuta nas mais diversas horas do dia penetrando em nossos lares” (“Antena”, 15 de Setembro de 1967).
As suas participações em películas cinematográficas incluem, ainda, os filmes: "O Destino Marca a Hora", realizado por Henrique Campos, em 1970; e "Derrapagem", de Constantino Esteves e datado de 1974.
Após a Revolução de Abril de 74, Tony de Matos sente um decréscimo na sua popularidade e consequente contratação para espectáculos. Inicia uma digressão pelos Estados Unidos da América, volta a apaixonar-se, a casar e por ali fixa residência durante cerca de 8 anos.
O retorno a Portugal coincide com novas experiência no teatro de revista, revelando-se uma das principais vedetas em algumas peças. Estabelece uma relação "séria, feliz, duradoura" com a fadista Lídia Ribeiro, que o acompanhará até ao fim da sua vida (“A Capital”, 24 de Setembro de 1988). No mesmo período, partilha com Carlos Zel e Filipe Duarte a gerência da casa Fado Menor, por onde passam grandes vultos do Fado.
Em 1985 João Henriques escreve-lhe a canção "Romântico" que, aliada ao convite de Vitorino para um concerto realizado no Coliseu dos Recreios, que resultou numa plateia rendida ao seu talento; o vai projectar de novo para a fama. Prova disso mesmo é o concerto em nome próprio que realiza em Novembro de 1985, onde, para gáudio de todos os presentes, interpreta grande parte dos temas mais célebres da sua longa carreira.
Tony de Matos morre a 8 de Junho de 1989, pondo fim a uma carreira repleta de êxitos. Ficará para sempre recordado como o cantor romântico que, com a sua característica voz, moldada num timbre único e inimitável, tão bem soube exaltar o amor.
Em 2006 é editado, numa produção RTP e Ovação, o DVD do último concerto de Tony de Matos e, em 2007, é lançado o álbum "A Vida de um Romântico", sob a chancela da Farol.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Outubro/2008