sábado, 28 de janeiro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS



ALBERTO JANES

Alberto Janes nasceu a 13 de Março de 1909 em Reguengos de Monsaraz, filho mais novo de Maria do Carmo Fialho e de Armando Janes. O pai era farmacêutico, proprietário e director técnico da farmácia Moderna na mesma localidade. A família Janes vivia no prédio que albergava a farmácia. Alberto tinha um irmão mais velho, Carlos, que veio a falecer prematuramente, vítima de pneumonia.
Desde pequeno que Alberto Janes demonstrou interesse e uma habilidade especial pela música e pela escrita, mas durante o seu percurso escolar, no liceu de Évora, começa também a sentir o gosto pela química e pela área farmacêutica. Alberto Janes acaba por enveredar pelos estudos na área farmacêutica e frequenta a Escola Superior de Lisboa, na velha “Quinta da Torrinha” e, posteriormente, transita para a Faculdade de Farmácia do Porto, onde acaba por concluir os seus estudos, em meados dos anos 30. Os colegas de curso caracterizavam Janes como «estudante com “mesada-farta”, músico e poeta, pouco dado ao estudo dos assuntos farmacêuticos e mais voltado para outras leituras e para as noitadas. É no final da licenciatura que Alberto Janes integra uma equipa de estudantes, para realizar uma récita de despedida. Esse espectáculo musicado ficou conhecido como “As pílulas do Sr. Doutor”, tendo sido «toda escrita e musicada por Alberto Janes, que acabou por desempenhar, de modo exemplar, o papel de “compére”.
Finalizada a licenciatura regressa a Reguengos de Monsaraz e, após a morte de seu pai, torna-se proprietário e director técnico da farmácia da família. Em 1936 casa com Maria de Lurdes Figueiredo, da qual tem dois filhos. Durante a sua vivência em Reguengos de Monsaraz nos anos 40 e 50, passava longos serões no Café Central de Reguengos, em tertúlias, onde tocava e compunha de improviso. Durante estas décadas, Alberto Janes isolava-se muitas vezes ao piano, para compor e a escrever. É nesta altura que escreve a célebre música “Foi Deus”, que ele próprio indicou que “era um fado para a Amália”.
Segundo entrevista dada por Amália Rodrigues, Alberto Janes chegou a sua casa e contou-lhe que era farmacêutico e que tinha uma farmácia em Reguengos, mas que a sua grande paixão era a música, era ser artista e que tinha um fado para ela. Amália considerou as palavras que ele escreveu e a música que ele compôs e interpretou-a com grande sucesso ao longo de toda a sua carreira.
Na década de 60 a família de Alberto Janes desloca-se para Lisboa e sedia-se em Oeiras. Amália já tinha gravado outras peças musicais da autoria de Alberto Janes, como “As rosas do meu caminho” e “Fadista Louco”. De facto, nesta altura, o compositor e letrista já só escrevia para Amália Rodrigues. Nesta década, surgem outras obras como “Um fado nasce” e “Vou dar de beber à dor”, esta última um grande sucesso da sua carreira que até motivou a gravação de versões noutras línguas latinas.
Entretanto, a família Janes, mantinha contacto próximo com a família de Aluisio Marques Leal, seu ex-colega de Curso, o qual na altura fazia parte de uma antiga sociedade anónima do sector farmacêutico à qual pertencia a farmácia Estácio, na baixa de Lisboa. Por estes tempos, a farmácia necessitava de um farmacêutico e Alberto Janes estava interessado em retomar a actividade farmacêutica. Passa, então a dirigir a referida farmácia Estácio.
Em 1970, Amália canta “É ou não é?”, lançando uma versão longa em vinil inteiramente com composições de Janes, entre as quais se integra “A Rita Yé, Yé”, “Vai de roda agora” e “Lá na minha Aldeia”. “Oiça lá Ó Senhor Vinho” é gravado em 1971, sucesso que deu nome a um novo vinil de Amália Rodrigues, último que Alberto Janes viu nascer.
Alberto Janes faleceu subitamente a 23 de Outubro de 1971, com 62 anos, após o segundo enfarte do miocárdio. No entanto, a sua contribuição para a herança discográfica de Amália Rodrigues ainda não tinha terminado, pois Amália edita mais um trabalho seu, a que deu o nome de “À Janela do Meu Peito”.
A influência de Alberto Janes no fado português continuou a fazer-se sentir na década de 70 e 80, com temas como “Caldeirada”, “Ao poeta perguntei”, Il mare é amico mio”, e muitas outras composições cantadas por nomes como Francisco José, Fernando Machado Soares, Hermínia Silva ou Alfredo Marceneiro.
Em 1981 a família e os amigos prestaram-lhe homenagem ao descerrarem uma placa na sua casa em Reguengos de Monsaraz. Também a Câmara Municipal de Reguengos, a 25 de Abril de 1984, lhe prestou, homenagem ao dar o seu nome a uma rua da localidade.

Fonte: Museu do Fado - Última Actualização: Outubro / 2011
 


AUTORES DO FADO

 








sábado, 21 de janeiro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS




ALAIN OULMAN

Compositor de uma enorme sensibilidade, Alain Bertrand Robert Oulman nasceu no Dafundo, arredores de Lisboa, a 15 de Junho de 1928, filho de Alberto Bensaúde Oulman e Nicole Calmann-Lévy, um casal francês radicado em Portugal.
Estudou no colégio St. Julian’s em Carcavelos e, ainda muito novo, mostrou-se um entusiasta do teatro, da música e da pintura, e sobretudo dos livros e da poesia portuguesa. Mas, apesar dos seus interesses, a prematura morte do seu irmão mais velho, como voluntário na II Guerra Mundial, fez de Alain o herdeiro da carreira e dos negócios do pai, pelo que seguiu estudos de química, a contragosto, em França e na Suíça.
Após finalizar os estudos, dedicou-se intensamente ao trabalho nas empresas do pai, sempre mantendo a sua paixão pela música.
A sua importância no contexto da música portuguesa é descrita desta forma por David Mourão-Ferreira: “Deve-se a Alain Oulman, logo a partir de finais dos anos 50, a pioneira missão de estabelecer um determinado e fecundo enlace entre a poesia portuguesa de matriz “culta” e essa específica forma da música popular – o Fado – que até aí era objecto de um quase geral e sobranceiro menosprezo por parte da “intelligentzia nacional.” (”Primavera:David Mourão-Ferreira”, pp. 82). E será Amália Rodrigues, a partir do início da década de 1960, a principal divulgadora desse seu talento.
Foi na Ericeira que se deu o encontro entre Alain e Amália. O compositor mostrou-lhe o poema “Vagamundo” de Luís de Macedo e este foi o ponto de partida para a fadista conhecer o intenso trabalho de pesquisa de Alain Oulman. Procurava, na Biblioteca Nacional, os grandes poetas portugueses e, depois, musicava os seus poemas. Esta actividade era realizada com um enorme respeito pela poesia, conforme o próprio expressa em entrevista: “Tenho feito, no que me toca, sempre a música para um poema já escolhido. Só me lembro de um caso em que se passou o contrário: “A Gaivota”, de Alexandre O’Neill, que foi escrita para uma música que já tinha composta. É que um poema de qualidade é uma coisa muito séria e por isso parece-me melhor aceitá-lo e procurar-lhe uma música adequada do que subordiná-lo às exigências de uma composição que lhe foi alheia e o ignorou completamente ao longo da sua elaboração.” (“A Capital”, 27 de Fevereiro, 1971).
O primeiro álbum de trabalho com Amália Rodrigues, o “Busto”, foi editado em 1962, integrando os poemas “Asas Fechadas”, “Cais de Outrora” e “Vagamundo” de Luís Macedo; “Maria Lisboa”, “Madrugada de Alfama”,”Abandono” e “Aves Agoirentas” de David Mourão-Ferreira, todos com música de Alain Oulman. Outros álbuns se seguiram, revelando musicalmente novas composições de Alain Oulman para poetas como Pedro Homem de Mello, José Régio, Alexandre O’Neill ou Luís de Camões. A edição do EP “Amália canta Luís de Camões”, em 1965, escandalizou alguns dos meios tradicionais do Fado, e essa abordagem à poesia de Camões foi inclusive tema de polémica nos jornais da época.
O exílio político aconteceu em 1966, altura em que Alain Oulman era director artístico da Companhia Portuguesa de Comediantes. Na manhã de 18 de Fevereiro três agentes da Pide entraram na casa das Amoreiras, que compartilhava com Felicity Serra, uma inglesa com quem foi casado entre 1962 e 1970, e levaram-no algemado para a sede da Polícia política e, mais tarde, para a prisão de Caxias.
Alain Oulman frequentava os círculos artísticos e literários de Lisboa e, tal como muitos dos seus amigos, era antifascista. Mas a sua colaboração com a Frente de Acção Popular, que levou à sua prisão, resumiu-se a pequenas ajudas que prestava aos pedidos de amigos, “fosse para transmitir uma mensagem, para arranjar um esconderijo por uma noite ou para fazer fotocópias no escritório da firma – Alain Oulman nunca dizia não” (“Indy”, 5 de Dezembro, 1997). Permaneceu cinco semanas na prisão de Caxias, sofrendo longos interrogatórios e as torturas da estátua e do sono.
Por pressão do Governo francês e do seu pai, acabou por ser libertado e expulso do país. Alain Oulman foi para França, mas antes de se estabelecer definitivamente em Paris, em 1968, viveu em Londres. Nesse primeiro ano na capital inglesa, Alain Oulman fez cursos de cenografia e de arte dramática, dedicou-se à música e ao teatro. “Em Portugal estivera já muito ligado ao grupo Lisbon Players, onde conhecera a sua mulher. E à Companhia Portuguesa de Comediantes, de que foi director artístico”, onde trabalhou com actores como Rogério Paulo, Eunice Muñoz e João Perry com quem criou amizades que permaneceram por toda a vida (“Indy”, 5 de Dezembro, 1997). Foi também em Londres que nasceu o seu primeiro filho, Nicolas Oulman.
Radicou-se em Paris em 1968, onde passou a trabalhar com Robert Calmann-Lévy, na editora de livros, aberta por familiares seus em 1836. O contacto entre Amália e Oulman, apesar da distância, manteve-se permanente. E, em 1970, foi editado o álbum “Com que Voz”, novamente um excelente trabalho desenvolvido pelo compositor e pela fadista. Este álbum foi vencedor do IX Prémio da Crítica Discográfica Italiana, em 1971, e em 1975 do Grande Prémio da Cidade de Paris e Grande Prémio do Disco. Desta feita surgem composições para poemas de Cecília Meireles, David Mourão-Ferreira, Manuel Alegre, Luís de Camões, António de Sousa, Alexandre O’Neill, Pedro Homem de Mello e Ary dos Santos. Posteriormente Alain Oulman continuou a compor para Amália. Ao longo da sua carreira, a fadista gravou vinte e duas composições suas em 8 álbuns. Anos mais tarde, Amália Rodrigues revelou, em entrevista: “Para além da música, o Alain, com a sua vasta cultura, fez-me travar conhecimento com grandes poetas. Ele não só fazia as músicas, como ia procurar, aos livros de poesia, letras para as músicas. Dedicou-me um tempo grande. (…) Trabalhámos muito os dois. (…) O Alain trouxe um público que não estava comigo e, ao mesmo tempo, afastou um bocadinho outro público. A começar pelos guitarristas. O José Nunes quando ia tocar coisas do Alain, dizia sempre: “Vamos às óperas!” (“Amália uma biografia”, pp.150).
Com o fim do salazarismo deixou de ser proibida a sua entrada em Portugal e Alain Oulman passou a dividir a sua vida entre Paris e Lisboa. É em Lisboa que nasce o seu segundo filho, Alexandre Oulman, em 1970. Mas, após a morte do seu tio, em 1982, Alain Oulman passa a dedicar-se a tempo inteiro à editora Calmann-Lévy.
Por falta de tempo Alain Oulman adia por três vezes uma operação ao coração e acaba por falecer a 29 de Março de 1990. Nesta data tinha ainda composições prontas para Amália Rodrigues. As suas músicas foram cantadas por outros fadistas, Carlos do Carmo cantou o poema “Gaivota” e António Mourão “Meu amor, meu amor”, mas Alain Oulman sempre fez as suas composições a pensar na voz de Amália Rodrigues. Foi com ela que Alain Oulman deixou marcas na história do Fado, pela abertura deste género à poesia dita erudita.
Em 2002 o compositor foi homenageado no âmbito do Festival da Música e dos Portos, num espectáculo de Katia Guerreiro, José Fontes Rocha, Paulo Parreira, António Pinho Vargas e João Mário Veiga.
Mais recentemente, em 2006, na anual Festa do Avante, Alain Oulman foi objecto de mais um momento de homenagem, protagonizada por uma geração de novos fadistas: Carla Pires, Liana e António Zambujo.
Considerando Alain Oulman um figura fulcral no desenrolar da História do Fado, em particular na segunda metade do século XX, o Museu do Fado apresentou, em Junho de 2009, uma exposição dedicada ao compositor, com o título: “As Mãos Que Trago. Alain Oulman.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Agosto/2009



AUTORES DO FADO








sábado, 14 de janeiro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS





ADELINA RAMOS

Filha de Joaquim Ramos e de Hermínia Ramos, Adelina Ramos nasce em Lisboa (Monte Pedral), no bairro da Graça, a 14 de Junho de 1916.
Em 1929, com apenas 14 anos, canta pela primeira vez no Grémio Instrutivo Familiar Os Trovadores, que então existia na Calçadinha do Monte. Nesta sociedade recreativa do bairro da Graça, era frequente a passagem de algumas das figuras mais emblemáticas do Fado lisboeta como Ercília Costa, Berta Cardoso ou Alfredo Marceneiro.
Adelina Ramos faz assim a sua entrada na vida artística, mantendo-se como amadora durante cerca de quatro anos (1929-1933), espaço de tempo em que é muito solicitada para actuar em clubes recreativos e festas de beneficência. Aos 17 anos, em Março de 1933, com o intuito de auxiliar nas despesas da casa e por a sua mãe se encontrar doente, Adelina Ramos tira a carteira profissional.
Decorridos apenas 6 meses da sua profissionalização já o jornal Trovas de Portugal lhe dedica a primeira página da publicação (Trovas de Portugal, 20 de Setembro de 1933), apresentando uma entrevista com a fadista.
Como profissional, Adelina Ramos percorre Portugal de lés-a-lés e integra o elenco de algumas das principais Casas de Fado da época, como o Retiro da Severa, o Solar da Alegria ou o Luso. Beatriz Costa, na sua primeira ida ao Brasil quer levá-la consigo, mas a mãe não aceita que a filha viaje sem a sua companhia e a viagem fica adiada. Mais tarde recusará, também, uma digressão à América do Norte, limitando a sua carreira às actuações em Portugal e, em particular, à Casa de Fados que abrirá no Bairro Alto.
No final da década de 1930 faz uma digressão pelo Norte do país em conjunto com outros intérpretes do Retiro da Severa: Manuel Monteiro, Alberto Costa, Maria do Carmo Torres e Maria Emília Ferreira. A actuação no Teatro Sá da Bandeira no Porto tem especial destaque pelo grande impacto que tem junto do público.
No emblemático Royal Cine do bairro que a viu nascer realizam-se duas festas artísticas em sua homenagem, a primeira a 21 de Abril de 1939 e a segunda a 13 de Dezembro de 1940, a última uma homenagem partilhada com a fadista Maria Emília Ferreira.
Alguns anos mais tarde casa com José Maria Baptista Coelho, de quem adopta os dois sobrenomes. Em 1950 ambos fundam e gerem a Tipóia, restaurante típico situado na Rua do Norte no Bairro Alto. Nos 22 anos da sua existência, Adelina Ramos dirige artisticamente o espaço, com intenção de proporcionar um melhor serviço ao público de Fado, dando ao género um local apropriado. Por ali passa toda a elite do Fado, de onde se destacam os nomes de Manuel de Almeida, Carlos Ramos, Celeste Rodrigues, Deolinda Rodrigues ou Fernanda Baptista, todos permanecendo por longos anos no elenco da casa.
O "Fado do Cauteleiro" é o seu primeiro grande sucesso. Adelina Ramos aprecia sobretudo o Fado Antigo, em detrimento do Fado canção, como revela em entrevista ao jornal Canção do Sul de Maio de 1940. Na década de 1940 faz alguns duetos com Fernando Farinha nas actuações no Luso. Os temas “O meu casamento” e a resposta “Começa o ciúme”, de autoria de Carlos Conde, são de tal forma populares que constam dos anúncios publicados na imprensa para publicitação do restaurante típico.
A fadista foi a criadora do tema “Não passes com ela à minha rua”, mais tarde celebrizado na voz de Fernanda Maria, bem como das faixas "Ouvi cantar o Ginguinhas" de Linhares Barbosa e "Achei-te tanta diferença" de João de Freitas.
Após o 25 de Abril, a Tipóia sofre os efeitos da redução do número de frequentadores, resultante da conotação do Fado com o regime salazarista e consequente afastamento do público deste género musical. As dificuldades do espaço intensificam-se pela doença irremediável do seu marido, José Coelho, que entretanto falece.
Adelina Ramos retira-se da vida artística em 1975 mas na história do Fado deixa a contribuição de um espaço que durante décadas foi referência obrigatória, bem como algumas interpretações que lhe valeram as considerações de “voz vibrante e autêntica fadista de raça” ou “a verdadeira fadista de raça” que encontramos nos cartazes dos seus espectáculos.
Em 1999 foi homenageada pelo Museu do Fado, no ciclo “Eu lembro-me de ti…”.
Adelina Ramos faleceu na Casa do Artista a 26 de Julho de 2008.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Janeiro/2009

AUTORES DO FADO



 






sábado, 7 de janeiro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS



ADA DE CASTRO

Ada Antunes Pereira nasceu na freguesia do Castelo, em Lisboa. Adoptou o nome artístico de Ada de Castro, sinónimo do seu bairro de berço.
Evidenciando desde cedo a sua natureza artística, Ada de Castro fez parte do Grupo da Juventude Operária Católica, um grupo de teatro amador, onde subia a palco para apresentar os números mais famosos de Hermínia Silva, fadista que a “inspirou para o fado” (entrevista de 9 / 9 / 2006). Foi numa das apresentações destas revistas, no final de 1959, que surgiu a oportunidade e o convite da locutora Julieta Fernandes para actuar num programa da Rádio Graça e, de seguida, na casa Nau Catrineta, para obtenção da, então obrigatória, carteira profissional.
Estreou-se como fadista profissional no restaurante Faia, a 13 de Março de 1960, contrariando a família mas com grande apoio de figuras emblemáticas do universo fadista. Hermínia Silva e Maria José da Guia, em diferentes ocasiões, colocaram sobre os seus ombros o simbólico xaile.
Ciente da necessidade de ter agora o seu próprio repertório, Ada conta que foi Alfredo Marceneiro, “o Ti Alfredo, foi ele que me deu a primeira letra e me ensinou a cantar o meu primeiro fado castiço, o Fado Tango” (entrevista de 9 / 9 / 2006). A partir dessa altura iniciou a selecção do seu repertório e gravou, ao longo da sua carreira mais de 560 temas, entre fados e marchas.
Ada de Castro não actuou em muitas casas de Fado, depois de cerca de ano e meio no Faia fez uma breve passagem pela casa de Carlos Ramos, A Toca, e, em substituição da fadista Fernanda Peres, estabeleceu-se no restaurante Folclore ao longo de 12 anos, entre 1961 e 1973. Posteriormente fez também parte do elenco do Sr. Vinho durante 12 anos.
Numa breve passagem pelos palcos do teatro de revista, a convite de Milton e de Eduardo Damas, estreou-se no Teatro Maria Vitória, na peça "Tudo à Mostra" (1966), onde cantou o tema "Na Hora da Despedida". Também marcou presença numa produção francesa, de título “As 13 Luas de Mel”, filmada no Palácio da Pena, em Sintra, onde cantava vestida de Severa.
A carreira da fadista ganhou grande impulso quando prestou provas na Emissora Nacional e foi convidada a integrar programas de cabine, onde as actuações eram gravadas previamente e, posteriormente, os “Serões para Trabalhadores”, gravados em directo e transmitidos para todo o país.
O seu primeiro disco foi gravado precisamente na Emissora Nacional, em 1961.Depois gravou para a Alvorada, durante cerca de 6/7 anos, para a Valentim de Carvalho, Philips, Estúdio, Movieplay e Ovação. Ada de Castro gravou, ainda, um disco na Holanda, editado pela Polydor naquele país.
Na sua discografia, incluem-se cerca 25 LP's, 80 singles e EP's, edições e reedições em formato CD e participações em várias colectâneas. Dos seus inúmeros sucessos destacam-se temas como "Rosa Caída", "Cigano", "Gosto de tudo o que é teu" ou "Deste-me um cravo encarnado". Ada de Castro foi também uma das mais carismáticas madrinhas das Marchas Populares dos principais bairros de Lisboa e, naturalmente, no seu repertório encontram-se interpretações de temas das Marchas Populares.
Ao longo das décadas de 1960, 70 e 80, para além de ser presença nos elencos das casas de Fado de Lisboa, Ada de Castro conciliou essas actuações com outras apresentações, nomeadamente no Mercado da Primavera (depois chamado Mercado 25 de Abril), onde actuava num restaurante e num barco; ou noutros restaurantes, como a Varanda do Chanceler e a Varandinha; chegando a cantar 4 ou 5 vezes numa noite. Nos meses de Abril a Setembro a fadista integrava, ainda, a programação “Alfama à Noite”, organizada pelo SNI, onde cantava dois fados na escadaria da Igreja de Santo Estêvão e depois fazia nova actuação no coreto do Largo da Palmeira. Fez estas actuações durante 5 anos.
Apresentou-se com regularidade em programas televisivos, nos casinos e salas de espectáculos espalhadas pelo país e ilhas, internacionalmente realizou inúmeras deslocações em representação de Portugal, através do SNI (Secretariado de Informação Nacional), bem como actuações junto das diversas comunidades portuguesas. Acrescente-se que a fadista cantou em espectáculos ao vivo e programas de televisão, em países como: Espanha, Austrália, Dinamarca, Suécia, Bélgica, Holanda, Japão, China, França, Itália, Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Canadá e toda a antiga África portuguesa. De salientar que no Mónaco fez uma actuação para a família do príncipe Rainier nos jardins do Palácio Grimaldi; em 1968, fez uma tournée de mais de 5 meses por todos os Estados brasileiros, a convite do governo daquele país; em 1977 foi seleccionada pela editora Melodia/Alvorada, para representar Portugal num espectáculo mundial de celebração do centenário da Gravação Sonora e, em 1990, realizou uma digressão a Macau e Hong Kong.
Congratula-se por ter conhecido, convivido e cantado com os melhores fadistas, das chamadas décadas áureas do Fado, época de "grandes fadistas e excelentes repertórios" (entrevista de 9 de Setembro de 2006). Ada de Castro menciona Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Manuel de Almeida, Tristão da Silva, Fernanda Maria, Maria José da Guia, sem esquecer aquela que denomina sua fonte de inspiração: Hermínia Silva. Também o acompanhamento é digno de nota, uma vez que foi acompanhada por nomes conceituados como António Chainho, José Maria Nóbrega, José Fontes Rocha ou Pedro Caldeira Cabral.
Para Ada de Castro “O fado não é aquilo que se canta, o fado está na garganta de quem o canta” e, definitivamente Ada de Castro é uma destacada fadista, com uma forma característica e individualizada de interpretação que resultou na atribuição de inúmeros prémios e troféus, demonstrativos tanto da sua qualidade artística como da sua enorme popularidade.
Salientamos, neste âmbito:
- Disco de Bronze e 2 Elefantes de ouro (prémios do Rádio Clube Português – programa Talismã), logo em 1961;
- “Óscar Melhor Fadista da Quinzena", atribuído em 1962, por votação do público para o programa da RTP “Eleitos da Quinzena”;
- Microfone de Prata e Placa de Prata, atribuídos em 1963 pelo: Rádio Clube Português para os discos mais votados pelos ouvintes;
- Galardão Penco/Record, dos Estados Unidos da América, que recebeu nos anos de 1964, 1970 e 1982;
- "Óscar para Melhor Fadista do ano", atribuído pela Casa da Imprensa e Microfone de ouro, atribuído pelo: Rádio Clube Português, em 1966/67;
- Galardão Prémio Rádio Toronto, em 1973/74;
- "Melhor Fadista do Ano", atribuído em 1982, pela Revista Nova Gente;
- Prémio “Melhor Fadista Portuguesa” atribuído na Holanda, em 1987;
- Prémio “Carreira”, atribuído pela Fundação Amália em 2010;
- Medalha da Cidade de Lisboa, Grau ouro, em 2013.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Janeiro/2016