ERCÍLIA
COSTA
Ercília
Costa nasceu na Costa da Caparica a 3 de Agosto de 1902. Quando tinha apenas 3
anos a sua família mudou a residência para a Rua Maria Pia, facto que resultou
no grande carinho pelo bairro de Alcântara que a fadista afirmou durante toda a
sua vida.
Para
ajudar na subsistência familiar iniciou a profissão de ajudante de costureira,
mas cedo a trocou por uma carreira artística, começando pelo teatro de revista,
onde se apresentou ao lado de grandes vedetas como Luísa Satanella ou Beatriz
Costa, mas realce-se que registou os seus maiores êxitos e consequente
popularidade, na interpretação do Fado.
A
entrada de Ercília Costa na vida artística resulta do gosto que desde muito
nova tinha em cantar. Ainda adolescente apresentou-se numa audição, em resposta
a um anúncio, para integrar o elenco de uma récita a realizar no Teatro São
Carlos. Apesar de ter sido uma das seleccionadas o projecto acabou por ser
cancelado, mas a qualidade da sua interpretação ficou na memória do actor
Eugénio Salvador, que lhe fez um convite para a Companhia do Teatro Maria
Vitória.
Já
o seu início de carreira como cantadeira de Fado deu-se no ano de 1927, no
Teatro da Trindade, onde fez um dueto com Alberto Reis mas, como revelou
Ercília Costa ao jornal “Trovas de Portugal”: “Antes mesmo de cantar o Fado já
eu cantava em teatro... Na Companhia Almeida Cruz andei três meses pela
província contratada como corista.” (cf. “Trovas de Portugal”, 24 de Junho de
1933)
Em
1930 a fadista vence o 1º prémio de cantadeira, no Concurso de Fados do “Sul
América”, uma organização do jornal “Guitarra de Portugal”. O intérprete
masculino vencedor foi Alfredo Marceneiro, com quem integra, pouco tempo
depois, a “Troupe Guitarra de Portugal”, um conjunto de fadistas e
instrumentistas que se disponibilizam para digressões pelo país. A este grupo
pertenciam, para além dos já mencionados Ercília Costa e Alfredo Marceneiro, os
cantadores Rosa Costa e Alberto Costa, e os instrumentistas João Fernandes e
Santos Moreira.
Ao
longo da década de 1930 Ercília Costa, a exemplo do que já vinha acontecendo
com Adelina Fernandes, fará parte das fadistas convidadas a apresentar-se
regularmente na interpretação do Fado no Teatro de Revista, substituindo as
intervenções de actores no Fado e criando assim um espaço próprio de
apresentação dos profissionais do Fado, que será seguido por grandes nomes como
Berta Cardoso ou Hermínia Silva.
Destacam-se
na sua ligação ao Teatro de Revista as peças “Feira da Luz”, levada à cena em
1930 no Teatro da Trindade; “O Canto da Cigarra”, apresentada, no ano seguinte,
no Teatro Variedades, onde Ercília Costa fez um grande sucesso com o tema “Fado
Lisboa”, de autoria de Álvaro Leal e Raul Ferrão; ou, ainda, “Fogo de Vistas”,
em 1933, no Teatro Avenida; “Fim do Mundo”, em cena no Coliseu dos Recreios, em
1934; e “A Boca do Inferno”, apresentada em 1937 no Teatro Apolo.
A
fadista fez, também, algumas aparições no grande ecrã, nos filmes “Amor de
Mãe”, realizado por Carlos Ferreira em 1932, “Amargura”, “Lisboa 1938” e, por
último, na longa metragem “Madragoa”, onde interpretava o papel de mãe do
protagonista, personagem a cargo de Carlos José Teixeira. Nesta película de
Perdigão Queiroga, estreada em Janeiro de 1952, participavam, ainda, Estêvão
Amarante, Helga Liné, Silva Araújo, Costinha e a fadista Deolinda Rodrigues.
Ercília
Costa exibiu-se ao vivo na rádio, nas emissões da primeira estação de Portugal,
a Chiado CT1AA, e em retiros e casas típicas, como o Ferro de Engomar ou o
Solar da Alegria, mas cedo teve oportunidade de realizar longas digressões de
espectáculos, em Portugal e no estrangeiro.
Assim,
logo em 1932, acompanhada por João da Mata, Armandinho e Martinho d’ Assunção,
faz espectáculos na Madeira e nos Açores e, em 1936 faz a sua primeira saída do
país, para apresentações no Brasil, iniciando uma série de deslocações de longa
duração que a tornarão na primeira fadista a internacionalizar-se junto das
comunidades emigrantes.
Na
sua primeira ida ao Brasil fazia parte da Companhia de Vasco Santana e Mirita
Casimiro, mas o seu sucesso foi de tal forma estrondoso que acabou por
permanecer uma longa temporada nesse país, regressando apenas no ano seguinte,
em 1937, altura em que Lisboa lhe realizou duas festas de homenagem, uma no
salão de chá do Café Chave d’ Ouro e outra no Retiro da Severa.
Ainda
nesse mesmo ano de 1937, Ercília Costa vai a Paris, para fazer espectáculos na
sala Comédie Française nos Campos Elíseos de Paris. Em 1939 desloca-se, a
convite do Secretariado de Propaganda de Portugal, aos Estados Unidos, para fazer
um espectáculo no Pavilhão Português da Feira Internacional de Nova Iorque,
acompanhada por Carlos Ramos.
A
esta actuação na grande exposição de Nova Iorque seguem-se dez meses de
actuações por inúmeras cidades dos Estados Unidos, apresentando-se a fadista
com grande êxito na Califórnia, onde actua em Los Angeles e em Hollywood.
Em
1945 faz a sua terceira digressão para actuações no Brasil, a qual dura quinze
meses, e passa por espectáculos em teatros, cinemas e actuações na rádio. Nesta
temporada Ercília Costa é integrada, como única artista portuguesa, na
Companhia de Alda Garrido.
Muitas
vezes apelidada de ”Santa do Fado”, por colocar as mãos em posição de oração,
Ercília Costa é hoje pouco recordada, fruto possivelmente da falta de reedição
em formato CD das muitas gravações que fez, por estas serem datadas da primeira
metade do século XX. Neste formato encontra-se apenas disponível uma recolha
das suas gravações com Armandinho, editada em 1995 na colecção “Arquivos do
Fado” da Tradisom.
As
suas primeiras gravações discográficas datam de 1929, altura em que se deslocou
a Madrid para gravar para a Odeon, integrando uma comitiva constituída por
Berta Cardoso, Joaquim Campos e Cecília de Almeida, sendo todos os fadistas
acompanhados pela guitarra portuguesa às mãos de Armandinho e pela viola de
Georgino de Sousa. Posteriormente terá também edições discográficas em
Portugal, bem como no Brasil e nos Estados Unidos. O seu último registo
discográfico, o LP “Museu do Fado” data de 1972.
Ercília
Costa popularizou inúmeros temas como: “Amor de Mãe”, “O Meu Filho”, “Fado
Tango”, “Fado Aida”, “Fado Ercília”, “Juro” ou “Fado da Amargura”, sendo também
compositora de alguns dos seus maiores êxitos, caso de “Fado da Mocidade” e de
“O Filho Ceguinho”, este último vulgarizado no meio fadista como o “Menor da
Ercília”.
A
fadista resolveu dedicar-se inteiramente ao seu casamento e, sem despedidas,
retirou-se totalmente da vida artística em 1954. Ercília Costa não fez mais
espectáculos ao vivo até à data da sua morte, em 1985.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização:
Abril/2008