MARIA DA FÉ
Maria da Fé, de seu nome de baptismo Maria da Conceição da Costa Marques,
nasceu no Porto no dia 25 de Maio de 1942. A sua mãe teve 17 filhos, mas
actualmente tem apenas 5 irmãos. Na cidade do Porto fez a sua instrução
primária e foi também aí que começou a cantar, por influência da mãe, usando
nessa altura o nome artístico de Maria da Conceição. Durante um curto período
de tempo, ainda muito jovem, para ajudar os pais, trabalhou como ajudante de
costureira e de alfaiate e, também, na fábrica de tecidos Nogueira, actividades
a que juntava as actuações em espectáculos ao fim de semana.
A fadista conta os seus anos de carreira apenas a partir de 1963, dois anos
depois de ter vindo para Lisboa, embora nesta data já tivesse feito vários
espectáculo e inclusive editado gravações discográficas.
Maria da Fé começou a cantar Fado ainda em criança e, com apenas nove anos,
apresentava-se em festas de amadores. Aos 13 anos ganhou um concurso realizado
pelo "Jornal de Notícias" e o empresário Domingos Parquer, na Feira
Popular do Porto. Em 1959, com 16 anos, voltou a ser consagrada vencedora como
Rainha das Cantadeiras, no mesmo concurso, desta vez apresentado no Palácio de
Cristal.
No ano seguinte, acompanhada pela mãe estabelece residência em Lisboa e, incentivada
pelo poeta Francisco Radamanto, rapidamente integrou o elenco de uma das mais
importantes casas de Fado de Lisboa, a Adega Machado. Ao fim de dois meses foi
para a Parrreirinha de Alfama, local onde foi convidada a apresentar-se durante
14 dias num espectáculo do Casino Estoril.
Data também da sua vinda para Lisboa o registo do seu nome artístico como
Maria da Fé, escolha feita por sugestão do fadista Raul Dias, com o objectivo
de tirar a carteira profissional exigida na altura.
Casou com o poeta José Luís Gordo, em 1968, e deste casamento nasceram 2
filhas. Nunca teve outras profissões a não ser a de fadista, até se juntar ao
seu marido na gestão da Casa de Fados que abrem em 1975, o Senhor Vinho. Esta
casa situa-se no bairro da Madragoa, primeiro na Rua das Trinas e, a partir de
1981, na Rua do Meio à Lapa, onde funciona até hoje.
Em 1969 participa no Festival RTP da Canção, estreando o género fado no
certame com a interpretação de "Vento do Norte", da autoria de
Francisco Nicholson e Braga dos Santos.
Maria da Fé actuou em diversas Casas de Fado, mas a "sua casa"
será a que abre com o marido, o Senhor Vinho. As suas interpretações
trouxeram-lhe um imenso sucesso, com um grande protagonismo nos meios de
comunicação social, uma sucessão regular de discos gravados, inúmeros
espectáculos por Portugal inteiro e várias digressões pela Europa, Norte de
África, Guiné, Angola e Moçambique, Américas do Norte e do Sul e Austrália.
A sua primeira actuação no estrangeiro foi numa associação recreativa de
Newark (New Jersey), a que se sucederam inúmeros países e salas de grandes
cidades, de onde salientamos o Brasil, país em que Maria da Fé actuou logo na
década de 1960, voltando em 1984. no âmbito da ponte cultural luso-brasileira,
e novamente na década de 1990.
No ano de 1984 participa no filme "To Catch a King", realizado
por Clive Donner e protagonizado por Robert Wagner, onde interpreta dois fados:
"Cantarei até que a voz me doa" e "Portugal, meu amor".
Maria da Fé prosseguiu com os seus concertos individuais, comemorando no
Teatro S. Luiz os seus 40 anos de carreira, no ano de 2003, com um espectáculo
intitulado "Divino Fado" em que participaram convidados como Ana
Sofia Varela, António Zambujo, Carlos Macedo, Jorge Fernando, Ana Moura, Aldina
Duarte, João Ferreira Rosa e Argentina Santos.
Actualmente Maria da Fé faz apenas os espectáculos que lhe dão prazer,
mantém a gestão da sua Casa de Fados, onde muitas vezes se apresenta ao
público, consciente de que é ela própria cabeça de cartaz da programação da sua
casa, apesar de ter muitos artistas conceituados no seu elenco.
O seu primeiro disco gravou-o em 1960, ainda no Porto, com dois Fados seus
e outros dois de Fernando Manuel, um fadista que à data fazia parte do elenco
da Casa de Fados Viela. A esta edição somaram-se muitas outras, ao longo de
mais de 40 anos como profissional.
Ainda na década de 1960 a convite de José Duarte integra o projecto Pop
Fado, gravando as suas interpretações acompanhada por guitarra eléctrica e
bateria. Um projecto que gerou muita polémica no meio tradicionalista do Fado.
Recentemente, em 2000, integrou o projecto Entre Vozes - conjunto também
constituído por Alexandra, Alice Pires e Lenita Gentil, com o propósito de
interpretar a solo, em dueto, terceto ou quarteto diversos Fados de referência.
Com esta formação foi apenas editado um CD, no ano de 2000, tendo Maria da Fé e
Alexandra saído do projecto e sido substituídas por Maria Armanda e Teresa
Tapadas.
No âmbito comemorativo do 40º aniversário da sua carreira é editado um CD
de inéditos intitulado "Divino Fado", tal como o espectáculo que
apresentou nesse mesmo ano de 2003, no Teatro S. Luiz em Lisboa.
Na sua vasta discografia conta com cerca de 30 Lps e 15 Cds. A sua mais
recente edição discográfica data de 2005 - o CD "Nome de Fado".
Intérprete de temas emblemáticos como "Cantarei até que a voz me
doa", de autoria de José Luís Gordo e de José Fontes Rocha; ou "Valeu
a Pena", composto pelo prof. Moniz Pereira, Maria da Fé é uma figura
incontornável do universo do fado desde a década de 1960. Através da casa
Sernhor Vinho a fadista mantém uma grande ligação com as novas gerações de
fadista, tendo muitos intérpretes registado uma passagem pelo elenco do seu
restaurante, como é o caso de Mariza, Camané, Ana Moura, Aldina Duarte ou António
Zambujo, entre outros.
Selecção de Prémios:
- Prémio da Imprensa, 1970;
- Prémio de Consagração de Carreira, no decorrer da Grande Noite do Fado,
Casa da Imprensa, 1997;
- Cruz de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa, 2005;
- Medalha de Mérito Cultural, Ministério da Cultura, 2005;
- Medalha de Ouro da Cidade do Porto, 2005;
- Prémio Intérprete Feminina, Fundação Amália Rodrigues, 2006.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Fevereiro/2008