terça-feira, 31 de março de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
FLORÊNCIA
Desde
nova, Florência sente-se fascinada pelo Fado e por esse motivo ouve, decora e
inicia-se a cantar os Fados de maior sucesso, nomeadamente os do repertório de
Amália Rodrigues.
Aos
13 anos concorre como representante da freguesia do Bonfim ao Concurso das
Cantadeiras do Norte de Portugal, que ganha. Este concurso, que teve a sua
final no Coliseu do Porto, foi composto por uma série de eliminatórias
realizadas entre jovens cantoras provenientes de Lisboa e Porto, (12 de cada
cidade), das quais uma seria eleita Rainha das Cantadeiras. (cf. Eduardo
Sucena, Lisboa, o Fado e os Fadistas, p.123)
Os
pais resolvem ir viver para o Brasil onde esteve durante 10 anos, tempo que lhe
permitiu projectar-se como artista, actuando em várias cidade do país. Actuou
em algumas cidade do Brasil, tais como Baía, Minas Gerais, Belo Horizonte.
Florência é convidada para espectáculos pelas diversas televisões do país e na
TV Tupi ganha o Troféu "Melhores da Semana". Neste período Florência
inaugura em S. Paulo o restaurante de Fado "Balada de Coimbra" por
onde passaram os nomes de Tristão da Silva, Tony de Matos e Francisco José,
entre outros. Em entrevista, Florência diz-nos que guarda as melhores
recordações desta estadia no Brasil.
Mais
tarde, quando regressa a Portugal, em 1968 e por convite do empresário Domingos
Parker, começa a cantar no Casino do Estoril ao que se segue todos os outros
Casinos de Portugal. O seu repertório, de influência popular leva-a a percorrer
o nosso país, actuando nas chamadas festas de "província".
Florência
grava os primeiros discos para a etiqueta Orfeu e continua com vários
espectáculos divididos entre a música popular e o Fado. Casa-se com Domingos
Parker de quem tem uma filha, Sónia Cristina.
O
seu percurso artístico não foi consagrado às casas de Fado, mas esporadicamente
teve breves passagens pelos restaurantes típicos "O Fado", a
"Taberna de S. Jorge", "Cozinha Real do Fado e "Arcada João
Vaz".
Nos
seus espectáculos Florência vai ao encontro das comunidades de emigrantes na
Venezuela, Argentina e alguns países da Europa.
Fonte: Museu do Fado - Última Actualização: Setembro/2007
sábado, 28 de março de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
FILIPE
DUARTE
Filipe
Duarte participou num concurso organizado pelo poeta Radamanto, "Primavera
do Fado" e estreou-se de seguida, com 24 anos, no “Faia”, adquirindo a
profissionalização.
A
partir desta data passou a actuar em diversas casas de fado, como a "Mãe
Preta" e a "Parreirinha de Alfama". A última casa em que
integrou o elenco permanente foi o "Senhor Vinho", onde esteve na
década de 70, durante um período de cerca de 12 anos.
Filipe
Duarte deslocou-se ao Porto para uma actuação de 8 dias e acabou por ficar 2
anos, a actuar em casas como o "Mal Cozinhado" e a "Taverna de
S. Jorge".
É
na década de 1980 que se estreia nas actuações a nível internacional, tendo
cantado em países como Espanha, Estados Unidos, Brasil, Roménia, Tunísia ou
Holanda. Acrescente-se que fez uma digressão de 6 meses a Macau.
Também
nesta década de 80 em sociedade com Tony de Matos e Carlos Zel, abre a casa
típica "Fado Menor", no entanto será o “Solar do Fado”, na Calçada da
Memória (Ajuda) a casa que elege como sua, gerindo o espaço por um período de
11 anos.
Posteriormente
continua a fazer as suas actuações em espectáculo, nomeadamente nas 4ªs feiras
de fado do Casino Estoril, a convite de Carlos Zel.
A
sua carreira integrou diversas apresentações na televisão, participando em
programas como o "Fados de Portugal" de António Pinto Basto, ou o
"Parabéns" de Herman José.
Conta
com várias edições discográficas, em formato de LP e Single, gravadas para
diversas editoras, mas apenas uma reedição em formato CD.
Fonte:
Museu do Fado - Última actualização: Julho de 2008
terça-feira, 24 de março de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
FERNANDO MAURÍCIO
Fernando da Silva Maurício nasceu em Lisboa na Rua do Capelão, em pleno
coração da Mouraria em 21 de Novembro de 1933. Oriundo de uma família
centenária naquele bairro, com apenas oito anos de idade cantava já numa
taberna da sua rua, o Chico da Severa, onde se reuniam os fadistas que
regressavam das festas de beneficiência, então frequentes, onde participavam
graciosamente.
Desses tempos idos da infância recorda com saudade as fugas de casa de seus
pais, nas madrugadas em que “abria o ferrolho, abria a porta pela surdina e ia
para a taberna. Eles (os artistas) iam para ali matar o bicho e de vez em
quando tocavam ali um fadinho. Eu tinha uma paixão pela guitarra. Era uma
loucura. Punham-me em cima de uma pipa e eu começava para ali a
cantar...parecia um papagaio...”
Em 1947, com apenas 13 anos de idade, trabalhava já como manufactor de
calçado e cantava em associações de recreio quando se organizou, no “Café
Latino” o concurso de Fados “João Maria dos Anjos”. Depois de obter um
meritório 3º lugar iniciaria, nessa época, com uma autorização especial da
Inspecção dos Espectáculos, a sua carreira profissional.
Em 29 de Junho do mesmo ano, participa já na Marcha Infantil da Mouraria
representando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severa.
Foi então contratado pelo empresário José Miguel para actuar aos
fins-de-semana nas casas que ele, por essa altura explorava, designadamente o
“Café Latino”, o “Retiro dos Marialvas”, o “Vera Cruz” e o “Casablanca” no
Parque Mayer.
Depois de profissionalizado cantou, nos anos 50 no “Café Luso”, no Bairro
Alto, na “Adega Machado” e na casa típica “O Faia”. Nos anos 60 e 70, casas
como a “Nau Catrineta”, a “Kaverna”, “O Poeta”, a “Taverna d’El Rey” e,
novamente, o “Café Luso”, conquistaram novos públicos com as actuações daquele
a que o destino apelidaria de Rei do Fado. Na década de 80, esta sorte bateria
à porta da “Adega Mesquita”.
Durante cerca de 20 anos Fernando Maurício cantou em programas de Fados na
Emissora Nacional, actuou na RTP, gravou discos, obteve prémios – Prémio da
Imprensa (1969) e os Prémios Prestígio e de Carreira da Casa da Imprensa
(1985/1986) – tendo participado em inúmeros espectáculos no estrangeiro:
Luxemburgo, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.
Da discografia gravada destacam-se, para além dos Fados com Francisco
Martinho e da participação em inúmeras colectâneas de Fado, os discos,
actualmente disponíveis no mercado: “De Corpo e Alma Sou Fadista” (Movieplay,
1984), “Fernando Maurício, Tantos Fados Deu-me a Vida” (Discossete, 1995),
“Fernando Maurício, Os 21 Fados do Rei” (Metro-Som, 1997), “Fernando Maurício”,
col. “O Melhor dos Melhores” (Movieplay, 1997) e, finalmente, “Fernando
Maurício”, Clássicos da Renascença (Movieplay 2000).
Despreocupado em relação à necessidade de uma regular carreira
discográfica, e dotado de um perfil pleno de abnegação e humanismo, Fernando
Maurício cantou, durante toda a sua vida, em centenas de festas de
beneficência, por todo o país.
Considerado o maior fadista da sua geração, possuidor de uma das mais
originais vozes de Fado, a sua vasta carreira fez dele Rei do Fado e da
Mouraria.
Recusando os galões, Fernando Maurício manteve-se fiel a uma simplicidade
autêntica, preferindo manter-se ligado às raízes, ali mesmo na Mouraria, que
visitava diariamente.
Ali revia os amigos da sua juventude: das cantorias, dos bailaricos de
Verão, das cegadas na Adega do Luís Saloio, dos passeios pela Praça da
Figueira, a ver os magalas e as sopeiras, do futebol, do jogo da Laranjinha e
do Rei Mandado, da malandrice, dos banhos no Chafariz da Guia, das correrias a
Alfama, da Calçada de Santo André até à Rua da Regueira, das brincadeiras no
Tejo, onde aprendeu a nadar.
Desses tempos recorda com saudade: “havia uma padaria na Rua do Capelão
onde eu nasci e nós naquela altura - nos anos 40 - dormíamos todos na rua. De
manhã levantávamo-nos e íamos lavar a cara ao Chafariz da Guia. Eram muitos
amigos que eu tinha. Tínhamos uma equipa de futebol e jogávamos à bola na Rua
do Capelão. Entre o Capelão e a Guia. Jogávamos descalços. Nessa padaria havia
cestos de verga com pão quentinho, acabadinho de sair do forno. De madrugada,
enquanto o padeiro trabalhava, encostávamo-nos à porta e tirávamos uns pães.
Era uma época muito má. Corriam os tempos da guerra. Nós éramos 5 irmãos,
depois nasceram os dois mais novos. A minha mãe era do Bonfim, do Porto. Lavava
roupa para ajudar em casa”.
Aos amigos e à família estima acima de tudo. A filha, Cláudia, a quem
Amália Rodrigues costumava apelidar de Rainha Cláudia, é, para Fernando
Maurício, motivo de um imenso orgulho.
Com os amigos – o Zé Brasileiro, o Calitas, o Lenine e outros tantos -
adora partilhar memórias, perder o tempo em conversas longas, ao sabor de um
baralho de cartas, evocando as memórias de um quotidiano vivido no bairro da
Mouraria.
Fernando Maurício faleceu a 15 de Julho de 2003.
Observações:
Em Junho de 1989, Amália Rodrigues descerrou, na Rua do Capelão, duas
lápides evocativas das vozes emblemáticas da Mouraria - Maria Severa Onofriana
e Fernando da Silva Maurício.
Em 31 de Outubro de 1994, a comemoração das bodas de ouro artísticas de
Fernando Maurício acontece no Teatro Municipal de S. Luiz, numa Festa de
Homenagem promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.
Em 12 de Maio de 2001, o Município presta-lhe nova homenagem no Coliseu dos
Recreios em Lisboa sendo-lhe atribuído, pela Presidência da República, o título
honorífico da Comenda de Bem Fazer.
A 5 de Fevereiro de 2004, num espectáculo intitulado “Boa Noite Solidão”, o
Município presta-lhe uma homenagem póstuma no Coliseu dos Recreios de Lisboa,
com a participação de inúmeros colegas do Fado.As receitas deste espectáculo
revertem na sua totalidade para a família do fadista Fernando Maurício.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Abril
de 2008
sábado, 21 de março de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
FERNANDO
FARINHA
Fernando
Tavares Farinha nasceu no Barreiro a 20 de Dezembro de 1928, embora no seu
Bilhete de Identidade seja indicada a data de 5 de maio de 1929. Quando tinha
apenas 8 anos a família muda de residência para o bairro da Bica, em Lisboa.
Em
1937, com apenas nove anos de idade começou a cantar o Fado e participou em
representação do bairro da Bica num concurso inter bairros, o que lhe valeu o
subtítulo que ficou por toda a sua vida - o " Miúdo da Bica ".
Fernando Farinha começou assim a cantar nesse concurso realizado na verbena de
Santa Catarina de que era proprietário José Miguel.
Quando
tinha 11 anos o seu pai faleceu e, com uma licença especial e ajuda do
empresário José Miguel, Fernando farinha tornou-se fadista profissional,
contribuindo com os seus cachets para o sustento familiar.
Desta
forma foi contratado pelo mesmo empresário para cantar nas verbenas do Alto do
Pina, Ajuda, Santo Amaro e outras, a que se segue a sua primeira integração num
elenco de casa de Fado, no Café Mondego, situado na Rua da Barroca.
O
seu primeiro disco foi gravado em 1940 e incluía os temas: “Meu Destino” e
“Sempre Linda”. No ano seguinte, 1941, fará a sua estreia na revista,
participando na revista “Boa vai ela”, no Teatro Maria Vitória. Voltará apenas
a actuar mais uma vez em teatro de revista, muitos anos mais tarde, em 1963, na
peça “Sal e Pimenta”.
Após
a passagem pelos palcos e o lançamento do seu primeiro disco, Fernando Farinha
volta a apresentar-se no circuito de casas típicas, passando pelo “Retiro da
Severa”, “Solar da Alegria”, “Café Latino” ou “Café Luso”, entre outros
espaços.
Fernando
Farinha faz a sua primeira digressão ao Brasil com 23 anos. Permanece quatro
meses nesse país, contratado para actuar na “Taverna Lusitana”, na Rádio Record
e na TV Tupi de São Paulo. Quando regressa a Portugal integra o elenco da
“Adega Mesquita”, onde permanecerá a partir de 1951 por um período de onze
anos.
Em
1960 ganha o concurso "A Voz Mais Portuguesa de Portugal " e, no
mesmo ano, festeja as suas Bodas de Prata artísticas, no Coliseu dos Recreios,
em Lisboa, e depois no Palácio de Cristal, no Porto.
Em
1961 é-lhe atribuída a 2º classificação no concurso Rei da Rádio, no ano
seguinte recebe a Taça Rei da Rádio de 1º classificado e, no ano de 1963, o
Óscar da Casa da Imprensa para o melhor fadista.
Fernando
Farinha filmará a sua história na película "O Miúdo da Bica ", num
filme realizado por Constantino Esteves que se estreia no Éden em Julho de
1963. No ano seguinte, 1964, o mesmo realizador apresentará o filme "A
Última Pega", com Leónia Mendes, Fernando farinha, Júlia Buisel, Cunha
Marques e Vicente da Câmara.
Em
1965 é convidado a actuar em Paris, para os emigrantes portugueses e no mesmo
ano deslocou-se ao Canadá e Estados Unidos da América onde voltou
posteriormente devido ao êxito ali alcançado. Nas décadas seguintes será
sobretudo para as comunidades emigrantes da Europa e da América do Norte que
Fernando Farinha actuará, fazendo espectáculos na Bélgica, França, Alemanha,
Estados Unidos e Canadá.
Para
além de ter popularizado temas como “O Miúdo da Bica” ou “Fado das
Trincheiras”, o fadista foi também autor e compositor de muitos temas, os quais
estão registados na Sociedade Portuguesa de Autores.
Alguns
temas da sua autoria que interpretou com grande sucesso foram o “Belos Tempos”,
“Eu ontem e hoje”, “Um Fado a Marceneiro”, “Estações de Amor” ou “Cinco
Bairros”. Mas muitos desses temas que criou foram interpretados por outros
intérpretes, como é o caso de “O teu olhar”, interpretado por Carlos Ramos;
“Lugar vazio”, cantado por Tony de Matos e Hermínia Silva; “Fado Rambóia” e “Já
não tens coração”, popularizados por Manuel de Almeida; ou ainda “Isto é Fado”,
cantado por Fernanda Maria, apenas para citar alguns exemplos.
Fernando
Farinha gostava também de fazer caricaturas dos seus colegas e companheiros de
profissão, aos quais oferecia muitas vezes os resultados desta sua arte.
O
fadista faleceu a 12 de Fevereiro de 1988.
A Câmara Municipal de Lisboa, no intuito de perpetuar a memória do fadista,
atribuiu o seu nome a um arruamento da Freguesia de Marvila.
Fonte: Museu do
Fado - Última actualização: Abril/2008
terça-feira, 17 de março de 2020
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