sábado, 29 de abril de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS





CELESTE RODRIGUES

Celeste Rodrigues é uma fadista tradicional das mais conceituadas do universo musical português, considerada uma referência pelas mais jovens gerações de intérpretes.
Maria Celeste Rebordão Rodrigues nasceu no Fundão a 14 de Março de 1923. Quando tinha 5 anos os seus pais vieram para Lisboa e estabeleceram-se no bairro de Alcântara. Celeste Rodrigues frequentou a Escola Primária da Tapada e recorda a sua infância como igual à de tantas outras crianças, com a excepção de se reconhecer como uma "maria rapaz", traquina, embora tímida e envergonhada. Quando não quis estudar mais, empregou-se numa fábrica de bolos. E, mais tarde, junto com a irmã Amália, trabalha num ponto de venda de artigos regionais na Rocha Conde de Óbidos (cf. “Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967).
A sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, à data proprietário de várias casas típicas, que depois de a ter ouvido cantar, entre amigos, na Adega Mesquita, insiste na sua profissionalização como fadista.
Celeste Rodrigues estreia-se em 1945 no Casablanca (actual Teatro ABC) e, dois meses depois, ingressa numa Companhia teatral e parte para o Brasil, acompanhando a irmã Amália Rodrigues na representação da opereta "Rosa Cantadeira" e da revista "Bossa Nova". Esta digressão acaba por durar cerca de 1 ano. Ao longo da sua carreira Celeste Rodrigues receberá diversos convites para integrar peças de teatro, mas recusa sempre.
No regresso a Lisboa dá continuidade à sua carreira de fadista, apresentando-se no elenco de diversos espaços de fado como o Café Latino, o Marialvas ou a Urca (na Feira Popular). Mais tarde, transita do Luso para a Adega Mesquita, onde se mantém por 4 anos. Posteriormente integra os elencos da Tipóia e da Adega Machado.
No início da década de 1950 a fadista regressa ao Brasil, desta feita para actuar na rádio, na televisão e no restaurante Fado, de Tony de Matos, sempre com assinalável êxito.
Aos 30 anos casa-se com o actor Varela Silva, com quem tem duas filhas. É contratada para cantar na casa Márcia Condessa e, em Janeiro de 1957, torna-se proprietária do restaurante típico A Viela, um espaço privilegiado para a convivência de poetas, intelectuais, cantores e de longas tertúlias, mas ao qual renuncia 4 anos mais tarde, confessando não sentir “queda para o negócio” (cf. Álbum da Canção, 1 de Maio de 1967).
Na década de 1950 Celeste Rodrigues era já uma figura ímpar no universo do Fado, levando-o além fronteiras, para países como o Brasil, Espanha, Congo Belga, África Inglesa, Angola e Moçambique. E, em território nacional, era também uma fadista consagrada, conforme revela à revista “Álbum da Canção”, foi das primeiras “a actuar no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular (…)” e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares.” (cf. “Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967), actuações em espaços bem demonstrativos da sua grande popularidade.
Continuando a pautar o seu percurso profissional pelas apresentações nas casas de fado de Lisboa, Celeste Rodrigues integra o elenco da Parreirinha de Alfama no início da década de 1960, e aí permanece por mais de 10 anos, altura em que João Ferreira-Rosa a convida para o elenco da Taverna do Embuçado, onde faz actuações ao longo de 25 anos. Posteriormente actuará nas casas Bacalhau de Molho e Casa de Linhares. A fadista concretiza uma carreira de sucesso, com actuações nas casas típicas, em programas de rádio e televisão, nacionais e internacionais. No auge da sua carreira artística, celeste Rodrigues foi também convidada a gravar para a BBC em Londres, a convite de Richard Engleby. E, no decurso de todos estes anos de actividade intensa, teve oportunidade de passar por algumas das maiores cidades do mundo.
Apesar das sucessivas comparações com Amália Rodrigues, sua irmã, Celeste Rodrigues possui uma autenticidade única, uma forma singular de interpretação, patente nos temas do seu repertório, como os populares “A lenda das algas” (Laierte Neves – Jaime Mendes), “Saudade vai-te embora” (Júlio de Sousa), “O meu xaile” (Varela Silva), ou o tema de Manuel Casimiro “Olha a mala”, que se tornou o seu maior êxito de vendas, entre os quase 60 discos que gravou.

Corre o ano de 2005 quando Ricardo Pais, director do Teatro Nacional São João, a desafia a participar no espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" ao lado de outras três grandes vozes do Fado: Argentina Santos, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro. Com este espectáculo a fadista teve a oportunidade de percorrer vários palcos nacionais e internacionais.
Mais recentemente, um dos momentos altos da sua carreira é a edição do álbum “Fado Celeste”, editado em 2007 na Holanda, e que reúne fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho e Tiago Torres da Silva.
Nesse mesmo ano, em Outubro, decorreu no auditório do Museu do Fado uma homenagem à fadista, iniciativa da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e a regularidade de uma carreira.” (declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à agência Lusa).
Actualmente Celeste Rodrigues vive entre Lisboa e Washington, onde residem as suas filhas e os seus netos, mas mantém uma actividade fadista regular, participando em diversos espectáculos e actuando pontualmente em casas de fado de Lisboa. Como a própria revelou, em 1970: “a idade influi grandemente na maneira como se canta. Sentimos o que cantamos, com maior sensibilidade e emoção.” (cf. “Rádio & Televisão”, 11 de Novembro de 1970, in “Cabelo Branco é Saudade”, programa do espectáculo, 2005). E é certamente essa sensibilidade e emoção que todos continuamos a registar nas suas interpretações.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Novembro/2009

AUTORES DO FADO









sábado, 22 de abril de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS





CASIMIRO RAMOS

Casimiro Ramos nasceu no bairro da Ajuda, em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1901. Começou desde novo a ouvir guitarradas, nomeadamente os ensaios da Troupe Mayerber de que faziam parte o seu pai e Domingos Serpa, entre outros. Foram também os nomes de Diamantino Mourão, Agostinho, Júlio Sales, Carlos Cortador que despertaram a curiosidade de Casimiro Ramos, mas também a aprendizagem e o gosto profundo pela guitarra portuguesa. (cf. “Guitarra de Portugal, 31 de Março de 1934, p. 1) Casimiro Ramos actuou em diversas casas de fado, com especial destaque para o Café-Restaurante Luso, na década de trinta, ao lado do irmão Miguel Ramos, e mais tarde na Tipóia, onde se manteve por mais de 20 anos. Estreia-se no cinema em 1933 participando no filme “A Canção de Lisboa”, com Beatriz Costa e Vasco Santana.
Em 1934 o guitarrista merece o destaque na primeira página da imprensa. Na edição da “Guitarra de Portugal” escreve-se sobre o seu regresso ao Brasil: “Sim, Casimiro Ramos vai ao Brasil, como acompanhador da actriz-cantadeira Maria Albertina (…) Não é impunemente que se é artista. Já há muito tempo que este guitarrista voltou daquela grande nação e ainda hoje nos não constou uma falta de brio profissional.” (cf. “Guitarra de Portugal, 31 de Março de 1934, p.1) Com efeito, na sua primeira deslocação ao Brasil integrou o elenco da Companhia de José Loureiro, de que faziam parte Estevão Amarante, Adelina Abranches, Maria Alice, Maria Sampaio e Lina Demoel, o cantador Manuel Cascais e o violista Armando Silva. Não tardou que em Abril de 1934 os colegas e amigos proporcionassem ao distinto guitarrista uma festa de homenagem. No ambiente da Cervejaria Jansen estiveram presentes, entre muitos outros nomes, Maria Albertina, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Maria Emília Ferreira, Maria Amélia Martins, Rosa Maria, Joaquim Pimentel, Filipe Pinto, Artur Pinha, Alfredo Duarte, Júlio Duarte, Mário dos Santos. (cf. “Guitarra de Portugal”, 21 Abril de 1934, p. 6) A 4 de Abril de 1936 a “Guitarra de Portugal” noticia a “Festa da Guitarra de Portugal”, que decorreu no “Portugal Cinema”, contando com a presença de Casimiro Ramos e de um vastíssimo leque de artistas. Ainda nessa edição, e sensivelmente um mês mais tarde, a 30 de Abril de 1936, estava prevista a realização da primeira festa artística de Casimiro Ramos, também no "Portugal Cinema"; e que contaria “com um maravilhoso espectáculo de Fado" integrado por Berta Cardoso e Maria do Carmo Torres, entre outros nomes. (cf. “Guitarra de Portugal”, 4 Abril de 1936, p. 6).
Casimiro Ramos foi o responsável pela organização de algumas festas de apoio a membros da "família fadista", tal como aconteceu com a festa do "Cantador Solitário", o fadista Manuel José Ribeiro, realizada na sede do Sporting Club Rio Seco, no dia 5 de Julho de 1936, pelas 15 horas. Em Julho de 1938, na reabertura de um dos mais emblemáticos locais de fado, Solar da Alegria, e sob a direcção artística de Filipe Pinto, Casimiro Ramos vem a integrar o leque de guitarristas e violistas, composto por Armando Machado, Fernando Freitas e Martinho d´Assunção. (cf. “Guitarra de Portugal”, 25 de Julho de 1938, pp.8 e 9) Casimiro Ramos foi, na sua época e a par do seu talento musical, figura de destaque no que concerne à defesa dos direitos dos artistas. Requisitado pela imprensa do género, o guitarrista expressou as suas preocupações: “Registe-se, pois, na “Guitarra de Portugal”, que não há decadência do Fado. Há, sim coisas, que não estão certas, mas que, com cuidado e um pouco de trabalho, podem ser remediadas. E, procedendo-se a uma revisão do actual sistema, muito se fará de útil para o nosso meio fadista. (cf. “Guitarra de Portugal”, 15 de Outubro de 1946, p. 1) Irmão do violista Miguel Ramos, por quem nutria grande admiração, com ele actuou durante largos ano tendo acompanhado inúmeros cantadores e cantadeiras de fado.
Casimiro Ramos gravou inúmeros discos, sobretudo enquanto acompanhante e colaborou em programas de rádio, sobretudo na década de 50. Dotado de rara sensibilidade e autor de célebres composições musicais, nomeadamente “Nocturno”, são de sua autoria outros inúmeros registos:  “Fado da Fé”, “Fado Maria Emília”, “Fado Pinóia”, “Fado Três Bairros”, "Fado Amélia Martins"; "Apolo"; "Rainha Santa"; "Terezinha"; "Alice", "Fado do Rio", "Lolita", entre outros. Musicalmente, as suas composições figuram em gravações de gerações de fadistas; Ada de Castro, Adelina Ramos, Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo, Fernanda Maria, João Braga, Maria da Fé, Manuel de Almeida, Vasco Rafael, são alguns dos nomes a que damos destaque. Gravado em 1952, resultou em 1992 pela etiqueta “Estoril” o CD intitulado “Guitarradas Imortais”. Consagrado como guitarrista de génio, Casimiro Ramos faleceu em Lisboa, a 29 de Abril de 1973.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Julho de 2009

AUTORES DO FADO



 






sábado, 15 de abril de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS





CARLOS ZEL

O fadista Carlos Zel teve uma carreira marcante na história mais recente do fado, interpretando de forma muito própria temas que aliam a tradição à contemporaneidade.
António Carlos Pereira Frazão nasceu em Setembro de 1950 na Parede. Foi na zona de Cascais e Estoril que começou a cantar, ainda com estatuto de amador. Com 17 anos profissionalizou-se, adoptou o nome artístico de Carlos Zel, e, no ano seguinte, 1968, apresentou-se pela primeira vez na Emissora Nacional.
Carlos Zel cantou em diversos espaços na linha de Cascais, como o bar Galito, ou em casas de fados como a Guitarra da Madragoa, e chegou mesmo a conciliar a actividade de fadista com a profissão de torneiro mecânico. Também o seu irmão, Alcino Frazão, foi um guitarrista de excelência, mas infelizmente viria a falecer muito prematuramente.
Na viragem para a década de 1970, Carlos Zel integrou um conjunto de fadistas que se revelaram nesta época, como é o caso de João Braga, António Melo Correia ou José Pracana, artistas “muito marcados pela procura de uma tradição interpretativa que vêem corporizada essencialmente na figura patriarcal de Marceneiro e na referência mais próxima de Maria Teresa de Noronha (…) ”. São características do seu modo de interpretar “uma intensidade expressiva e uma riqueza de variação melódica incomparáveis na abordagem dos fados estróficos tradicionais” (cf. Nery, 2004:246, 264).
Iniciou o registo discográfico do seu repertório ainda na década de 1960. Entre os seus muitos discos, contam-se os seguintes títulos: “Rosa Camareira” (1967), “Poemas de Eduardo Damas” (1968), “Maria dos Olhos Negros” (1969), “Minha Primeira Cantiga” (1971), O Seu Nome Era Manuel” (disco de homenagem ao toureiro Manuel dos Santos, editado em 1975), “Mestre Núncio” (disco de tributo ao toureiro João Núncio, editado em 1976), “Romeiro (1977), “Lusitano Vagabundo” e “Neste Rio Vou Morrer” (1978), “Cantigamente” (1980) e “À Volta do Fado” (1986).
Em formato CD, Carlos Zel editou o álbum “Fados”, pela BMG em 1993, lançou a colectânea “A Minha Primeira Cantiga”, em 1996, reeditando em CD várias faixas gravadas em vinil, incluindo as do EP do mesmo título, e participou no disco “Harpejos e Gorgeios” de Celina Pereira, em 1998.
O seu último trabalho em disco, de título “Com Tradição” (Movieplay), foi apresentado com grande sucesso, num concerto do grande auditório do CCB, a 23 de Outubro de 2000. Nesta data é ainda bem notório que Carlos Zel “possui ligações maiores ao fado tradicional, com tudo o que ele possui de boémio e castiço”, embora apresente alguns temas provocatórios como o “Fado da Internet”; um poema de Daniel Gouveia, ou o “Retrato dum Alfacinha Suburbano”, um poema de José Niza que interpreta no Fado Corrido (cf. “Diário de Notícias”, 1 de Julho de 2000).
Carlos Zel fez digressões e espectáculos em Espanha, França, Holanda, Escócia, Dinamarca, Noruega, Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Canadá, Estados Unidos e Senegal. Em 1997 participa no espectáculo “Raízes Rurais, Paixões Urbanas”, de Ricardo Pais, levado a palco na Cité de la Musique de Paris, com a presença, também, de Argentina Santos.
Em 1984, numa parceria com Carlos Escobar, o fadista abriu na Madragoa a casa de fados O Ardinita (título de um poema de João Linhares Barbosa, interpretado por Fernando Maurício), mas esta tornou-se numa experiência que durou apenas alguns meses.
Para além das apresentações regulares em espectáculos de concerto, em Portugal e no estrangeiro, Carlos Zel integrou, também, o elenco de algumas peças de teatro de revista. A título de exemplo refiram-se a “Aldeia da roupa suja”, peça apresentada em 1978, no Teatro Variedades, “A Severa”, levada ao palco do Teatro Maria Matos, em 1990, e “Ai quem me acode”, estreada em 1994, no Teatro ABC.
São frequentes as apresentações do fadista na televisão. Carlos Zel participou em programas como o “Piano Bar”, de 1988, ou a série “Pisca Pisca”, de 1989”. Em 1994 o fadista interpretou temas na telenovela “Desencontros” e surgiu, ainda, como actor, em episódios da telenovela “Cinzas”, de 1992, e da série “Polícias”, de 1996.
Reconhecido como intérprete empenhado na divulgação do Fado, Carlos Zel foi um dos sócios fundadores da Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado, em 1994. Por três vezes a Casa da Imprensa atribuiu a Carlos Zel prémios distintivos da sua actividade: em 1993 o “Prémio Prestígio”, em 1997 o “Prémio Neves de Sousa” e, em 2000, o “Prémio Consagração”.
No decorrer do ano de 2000, Carlos Zel foi um dos impulsionadores da programação “Quartas de Fado”, no Casino Estoril, onde actuava todas as semanas. Destaque-se que Carlos Zel foi o primeiro fadista masculino a fazer uma temporada de actuações no espaço do Casino Estoril. Em 2010 a Movieplay editou o CD “Quartas de Fado”, numa póstuma homenagem que deu a conhecer um conjunto de gravações ao vivo deste programa, com Carlos Zel e convidados, entre 1 de Novembro de 2000 e 19 de Dezembro de 2001.
Possuidor de um estilo onde a tradição interpretativa nunca deixou de marcar presença, Carlos Zel popularizou temas como o “Meu amor morre no mar”, “Sonho louco”, “Palavra à solta”, “Prece”, “Fado Pechincha”, “Tenho saudades da baixa”, “Amar outra vez”, “Quero tanto aos teus olhos” ou “Travessa do poço dos Negros”. E, apesar de ser uma referência nacional enquanto fadista, o seu percurso registou tentativas de abrir o fado a outras sonoridades, fazendo algumas experiências ao lado de Luís Represas, no projecto “Cantautores”, da Expo’98, com Maria João e Mário Laginha, num espectáculo do Anfiteatro da Doca, também na Expo’98, e com Carlos Zíngaro, Cesária Évora e Celina Pereira, em trabalhos discográficos.
Carlos Zel faleceu a 14 de Fevereiro de 2002, em Cascais, com 51 anos.
Numa homenagem póstuma, a Câmara Municipal de Cascais atribuiu o seu nome a uma travessa na Parede e a uma rotunda em Birre.
Também o Casino Estoril passou a realizar a “Gala de Fado Carlos Zel”, com regularidade anual, num evidente tributo ao fadista, onde já marcaram presença grandes valores do fado como Aldina Duarte, Alexandra, Ana Moura, Carlos do Carmo, António Zambujo, Jorge Fernando, Ricardo Ribeiro, entre muitos outros.

Fonte. Museu do Fado - Última actualização: Setembro/2015

AUTORES DO FADO










sábado, 8 de abril de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS





CARLOS RAMOS

Na voz de Carlos Ramos há “tudo o que caracteriza um artista de classe: expressão, calor e, talvez acima de tudo, aquele timbre tão pessoal, roufenho talvez, mas incontestavelmente pleno de verdadeiro sentido fadista.” (cf. CD “Sempre que Lisboa Canta”, 1998).
Carlos Augusto da Silva Ramos nasceu em Alcântara a 10 de Outubro de 1907. Conviveu com a música desde criança, uma vez que o pai, João da Silva Ramos, tocava trompa nas caçadas do rei D. Carlos, de quem era, também, funcionário como Porteiro da Real Câmara no Palácio das Necessidades.
Carlos Ramos aprendeu a tocar guitarra portuguesa integrado num grupo de estudantes do Liceu Pedro Nunes, que se dedicavam à aprendizagem deste instrumento no intervalo das aulas. Neste grupo incluía-se o Dr. Amaro de Almeida, de quem Carlos Ramos voltou a ser colega na Escola de Medicina.
Com a morte do pai, quando tinha apenas 18 anos, foi forçado a desistir da medicina e empregou-se como escriturário nos estaleiros da CUF e, posteriormente, como radiotelegrafista na Marconi, experiência profissional que tinha adquirido, anteriormente, na prestação do serviço militar.
Os primeiros contactos de Carlos Ramos com o fado surgiram no bairro de Alcântara onde residia. A sua carreira iniciou-se pelo acompanhamento à guitarra portuguesa de diversos fadistas, passando depois a cantar, muitas vezes acompanhando-se a si mesmo. Em entrevista ao jornal "Guitarra de Portugal" de 30 de Junho de 1945, afirma que apesar de cantar há cerca de 15 anos, apenas se profissionalizou em 1944, por conselho de Filipe Pinto. E assim, em 1944, fez aquela que considerou como a sua estreia profissional, no Café Luso.
No início da sua carreira, como guitarrista, Carlos Ramos acompanhou os mais conceituados fadistas em espectáculos e digressões várias e em restaurantes típicos, como o Retiro da Severa ou o Café Mondego, e mesmo nas muitas solicitações que teve para participar em peças do Teatro de Revista.
Na sua primeira deslocação ao estrangeiro, em 1939, acompanhou Ercília Costa numa digressão aos Estados Unidos, por iniciativa do embaixador português em Washington, Dr. João Bianchi.
Será na década de 1950 que Carlos Ramos efectuará mais espectáculos no estrangeiro, conforme ele próprio revela em entrevista, após o regresso a Lisboa de uma digressão realizada à África Portuguesa. Carlos Ramos enumera os locais onde realizou espectáculos, caso da América do Norte, Brasil, Espanha, Açores, Madeira, Itália, França e Egipto. (Cf. "Voz de Portugal", 1 de Novembro de 1956).
O seu horário de trabalho para a Marconi não lhe proporcionava integrar os elencos fixos das casas típicas, no entanto a sua presença nestes espaços era muito regular. Actuou em muitos desses restaurantes e, em 1952, tornou-se artista privativo da Tipóia, onde se manteve até abrir o seu espaço em nome próprio – A Toca.
Carlos Ramos participou em muitos espectáculos de homenagem a colegas, como nas festas dedicadas a Alfredo Marceneiro, em 1948 no Café Luso e, em 1963, no Teatro São Luiz, ou na Festa de Consagração de Manuel de Almeida, realizada no Pavilhão dos Desportos em 1962.
O fadista foi também presença frequente na rádio, quer na Emissora Nacional quer no Rádio Clube Português, e dos primeiros programas de fado transmitidos pela televisão, o que muito contribuiu para o aumento do seu sucesso e popularidade junto de um público mais alargado.
Em 1956 já tinha gravado 16 discos e este número foi sempre crescendo. Gravou os seus primeiros discos ainda em formato de 78 rpm, a que se sucederam vários EPs e LPs, inicialmente em edições da Columbia e, posteriormente, da Valentim de Carvalho.
Em entrevista à revista Plateia, de 1 de Julho de 1964, Carlos Ramos relata a possibilidade surgida para participar no filme "Fado Corrido" e fala sobre os outros filmes em que participou: "Cais Sodré" (1946), "Fado" e "Lavadeiras de Portugal" (1957), afirmando que apesar de as suas intervenções serem sempre a cantar, gostaria de ter experiências de participação como actor.
Tal não viria a suceder e o "Fado Corrido" será a sua última intervenção em cinema. Este filme foi realizado em 1964 por Jorge Brum do Canto, sobre um argumento de David Mourão-Ferreira. Uma película protagonizada por Amália Rodrigues, onde o fadista interpreta temas editados pela Columbia, ainda nesse ano, no EP "Carlos Ramos canta «Atrás de um Sonho» do Filme Fado Corrido".
Quando em 1959 abre a sua própria casa de fado, A Toca, conta com a presença de Maria Teresa de Noronha, José António Sabrosa e Alfredo Marceneiro na inauguração e torna-se proprietário daquele que será um dos restaurantes típicos mais afamados do Bairro Alto.
Apesar de ser nesse seu espaço que regularmente se passam a poder escutar as interpretações de Carlos Ramos, o fadista continua a participar em inúmeros espectáculos, em palcos, na rádio e na televisão e mesmo a colaborar com as Marchas Populares, como padrinho, em 1963, ao lado de Celeste Rodrigues na Marcha de Alcântara e, em 1966, com Maria do Espírito Santo, na Marcha do Bairro Alto.
Carlos Ramos frequentou regularmente as casas típicas de Lisboa, durante as décadas de 1940 e 1950, fez uma breve carreira internacional, participou em revistas e filmes e, em 1952, passou a integrar o elenco exclusivo da Tipóia, ao lado de Adelina Ramos, de onde só sairia em 1959 para abrir A Toca, espaço localizado na Travessa dos Fiéis de Deus no Bairro Alto.
Uma trombose ocorrida em meados da década de 60 faria terminar abruptamente com a sua carreira artística. O fadista morreria alguns anos mais tarde, a 9 de Novembro de 1969.
A sua voz particular conquistou o público e popularizou-o em grandes êxitos como: "Senhora do Monte" (Gabriel de Oliveira – José Marques, Fado Carriche), "Anda o Fado Noutras Bocas" (Artur Ribeiro), "Não Venhas Tarde" (Aníbal Nazaré – João Nobre), "Canto o Fado" (João Nobre). Temas que se eternizaram na memória colectiva e foram interpretados por inúmeros fadistas ao longo de gerações, que desta forma continuam a homenagear este nome incontornável do universo do fado.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Julho/2009