MANUEL DE ALMEIDA
Filho de Manuel de Almeida e de Belmira Ferreira, Manuel Ferreira de
Almeida nasceu a 27 de Abril de 1922, em Lisboa, no Bairro da Bica. O fadista
completou a instrução primária, mas sendo pouco interessado pela escola, com o
acordo dos pais, não prosseguiu os estudos.
Com apenas dez anos circulava pelos retiros fadistas, onde assistia às
actuações de inúmeros fadistas, passando, mais tarde, a aventurar-se em
interpretações ainda de carácter amador. Tendo de escolher uma actividade profissional,
Manuel de Almeida enveredou, aos quinze anos, pela carreira de desenhador de
calçado de senhora, profissão que manteve até ser incorporado no exército para
cumprir o serviço militar.
Após cumprir o serviço militar, Manuel de Almeida casa-se, em 1947, e dois
anos depois, o casal tem uma filha a quem dá o nome de Edite.
Antes de se iniciar nos circuitos de interpretação profissional do fado,
Manuel de Almeida começa por ser autor de algumas letras, das quais se destaca
o poema "Ala Arriba", que Alberto Cardia interpretou e gravou em
disco com grande sucesso.
É por sugestão de Maria Pereira, à data contratada da casa típica Tipóia,
que Manuel de Almeida acede ao incentivo de experimentar cantar publicamente
nesta casa. Como o próprio relata: “Fui e cantei dois fados. Desde logo passei
também a participar do elenco da Tipóia”. (cf. “Diário Ilustrado”, 31 de Maio
de 1960).
Assim, Manuel de Almeida só se profissionalizou com 29 anos, em 1951, para
poder actuar regularmente na Tipóia, casa que funcionava sob a direcção de
Adelina Ramos, e onde obteve o seu primeiro cachet de 60 escudos por noite. A partir do momento em fez a sua estreia profissional, Manuel de Almeida
abandonou definitivamente a sua outra actividade e desenvolveu, com grande
sucesso, uma carreira no Fado, mantendo uma estreita ligação com as casas
típicas. O fadista cantou no Retiro do Malhão, no Estribo, no Olímpia Clube, no Faia
e regressou à Tipóia, desta vez permanecendo no elenco durante 12 anos.Da Tipóia transitou para a casa Lisboa à Noite, já na década de 1960,
propriedade de Fernanda Maria, onde se fixa durante onze anos.Ao decidir estabelecer residência em Cascais, o fadista optou por passar a
actuar no Picadeiro da Torre e, posteriormente, no Forte D. Rodrigo, casa
inaugurada pelo fadista Rodrigo, em 1979, e na qual Manuel de Almeida se
apresentou ao longo de dezasseis anos.
As actuações de Manuel de Almeida não se restringem às casas de Fado,
fazem-se também em palcos, nacionais e estrangeiros, em programas de rádio,
particularmente da Emissora Nacional, e de televisão. O fadista participou nas
sessões experimentais da RTP, em 1956, e posteriormente faz aparições em
inúmeros programas.Dos seus espectáculos em território nacional destacam-se as deslocações ao
Porto e a realização de uma festa artística, a 24 de Novembro de 1962, com
lotação completamente esgotada no Pavilhão dos Desportos. Manuel de Almeida iniciou mais tardiamente os espectáculos no estrangeiro,
em 1966 afirma mesmo que foi apenas ao estrangeiro uma vez, a Espanha, para se
apresentar em casas particulares (cf. “Flama”, 16 de Dezembro de 1966). Mas ao
longo da sua carreira actuou em vários palcos das comunidades portuguesas
espalhadas pelo Mundo.Em 1971 deslocou-se com Ada de Castro a Moçambique, a convite do Centro de
Informação e Turismo e voltou a Lourenço Marques, logo no ano seguinte, 1972,
desta vez para actuar no restaurante “Muimbeleli”, em conjunto com Lucília do
Carmo.
A 10 de Junho de 1977 participou nas comemorações do Dia de Portugal em
Joanesburgo e, no mesmo âmbito, actuou, no ano seguinte, em Estugarda. Em
Fevereiro de 1985 fez várias apresentações nos Estados Unidos, na zona da
Califórnia, e, mais uma vez, o sucesso foi tal que o levou a regressar no ano
seguinte. Acompanhando Rão Kyao, fez chegar o Fado à Coreia do Norte, com a
participação no Festival Internacional de Música Típica, no ano de 1986. A sua
colaboração com Rão Kyao prosseguiu no ano seguinte, quando este produziu o LP
“Eu Fadista Me Confesso”, disco que teve grande destaque na imprensa e que foi
reeditado em formato CD em 1992.
Em 1993 participou no Festival Internacional de Music Croisée em Saint
Sever, um marco importante para o longo percurso do fadista, uma vez que
recebeu um prémio de interpretação e, ainda, uma medalha da cidade.
A sua forma característica de interpretar o Fado ficou registada em cerca
de uma dezena de LPs e quase três dezenas de singles. Os seus primeiros discos,
ainda em formato de 78 RPM, foram editados pela etiqueta Estoril, na década de
1950, e incluem os temas: “Tempos que já lá vão”, “Antigamente”, “Fado
Rambóia”, “Fado da Saudade”, “Sofrer d’ Amor” e “Os Teus Olhos”.
O seu primeiro LP individual foi gravado em Barcelona, mas, anteriormente,
em 1963, tinha já lançado em Portugal um disco em parceria com a fadista
Mariana Silva. Alguns dos seus álbuns foram reeditados em CD, sendo também frequente a
inclusão das suas interpretações em colectâneas representativas do melhor do
Fado. É nas décadas de 1960 e 70 que a sua carreira atinge o apogeu, somando no
seu repertório um conjunto próprio de duzentos fados, muitos dos quais da sua
autoria. (cf. “Álbum da Canção”, 1 de Fevereiro de 1967). Manuel de Almeida tornou emblemáticas as suas interpretações do “Fado
Antigo” e “Mãos Cheias de Amor”, mas popularizou, também, vários poemas das sua
própria autoria como “Não vale a pena meu bem”, “Por te querer tanto”, “Tempos
que já lá vão”, “Longe de ti”, ou “É a saudade”. Na Sociedade Portuguesa de
Autores estão registados mais de 50 temas atribuídos ao fadista, seja como
poeta ou compositor. O fadista centrou-se mais na interpretação do fado castiço, considerando
que este era o que melhor se adaptava à sua maneira de ser. É também como
representante fidedigno deste género que ele é mais admirado no universo
fadista. Paralelamente, durante toda a sua vida, Manuel de Almeida foi apaixonado
pelo desporto, tendo praticado, basquetebol, atletismo e boxe, mas foi ao
atletismo que se dedicou durante mais tempo. Mantendo a sua boa forma, o
fadista de 1,80 m, manteve sempre uma actividade física, correndo de forma
regular nas pistas do Estádio Nacional ou praticando ciclo turismo.
A 21 de Fevereiro de 1994, comemorando os 50 anos de carreira com um
espectáculo de homenagem no Teatro São Luiz, Manuel de Almeida continuava a
apresentar-se com regularidade em espectáculos ao vivo, tendo mesmo participado
no ano anterior num Festival internacional de música em França.
O Forte Dom Rodrigo foi a última casa de fados onde o fadista se manteve em
actuação quase até ao final da sua vida. Manuel de Almeida faleceu em Cascais,
com 73 anos de idade, em 1995. Em homenagem ao fadista, os seus familiares e
amigos organizam anualmente uma reunião no dia do seu aniversário. Reconhecendo a sua ligação ao concelho de Cascais o seu nome está atribuído
a uma rua da cidade e a outra situada em Alcabideche.
O Museu do Fado, em co-produção com a Associação Portuguesa dos Amigos do
Fado, prestou homenagem a Manuel de Almeida a 23 de Novembro de 2006, numa
apresentação de Ana Maria Mendes acompanhada por um diaporama de Vítor Duarte,
integrada no ciclo “Amigos – Memórias e Fado”.
Alguns Prémios e homenagens:
- Diploma de agradecimento do Senado de Rhode Island pela sua contribuição
para a Cultura da Comunidade Luso-Americana;
- Prémio da Imprensa, atribuído pela Casa da Imprensa, em 1964;
- Prémio Gratidão, atribuído pela Casa da Imprensa, em 1992;
- Prémio de interpretação no Festival Internacional de Music Croisée,
realizado em Saint Séver (França), em 1993;
- Medalha da Cidade, Saint Séver (França), em 1993;
- Prémio Carreira, atribuído pela Casa da Imprensa a título póstumo, em
1997.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização:
Março/2008