sábado, 29 de fevereiro de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
CIDÁLIA
MOREIRA
Cidália
do Carmo Moreira nasceu no Algarve, na cidade de Olhão. A sua infância é
preenchida por música e dança, e embora tenha perdido a mãe muito nova é por
sua influência que ganha o gosto por estas representações.
Aos
17 anos de idade vem sozinha para Lisboa na perspectiva de concretizar um dos
sonhos da sua vida, dando começo a uma carreira artística. Após ultrapassar um
período mais delicado na sua vida, Cidália Moreira estreia-se na casa típica A
Viela, ao que se segue mais tarde a sua presença no elenco do Restaurante Luso.
Cidália
Moreira, muitas vezes apelidada de “A Cigana do Fado”, tem percorrido todo um
caminho pautado pelo sucesso. Com inúmeras gravações em formato EP, LP e CD,
revisita autores consagrados, casos de Frederico Valério em “Primeiro Amor”
(Frederico Valério/Nelson de Barros), Martinho d´Assunção em “Balada Para Uma
Velhinha” (Martinho d´Assunção / Ary dos Santos), e Moniz Pereira em “Valeu a
Pena”.
É
digno de registo, a participação de Cidália Moreira em vários elencos do Teatro
de Revista, particularmente na década de 70, com destaque para as produções,
“Até Parece Mentira” (1974) e “Alto e Pára o Baile” (1977), entre muitas
outras. São também incontáveis os programas televisivos em que Cidália Moreira
actuou.
Em
todos os momentos de actuação Cidália Moreira revela-se uma artista singular,
com um estilo de interpretação único, pautado pela garra que sempre a
caracterizou. Nos palcos das principais cidades de todo o mundo, estabelece um
forte elo comunicativo com as comunidades portuguesas aí residentes.
Para
celebrar o primeiro aniversário do Museu do Fado, em 25 de Setembro de 1999,
Cidália Moreira juntou-se a inúmeros artistas para um espectáculo de fado que
decorreu no Largo do Chafariz de Dentro.
No
decorrer das “Festas de Lisboa 2004”, nomeadamente no programa da “Festa do
Fado”, Cidália Moreira integrou o espectáculo temático intitulado “As Grandes
Testemunhas”, ao lado de Beatriz da Conceição, João Ferreira -Rosa e Vicente da
Câmara, e que teve lugar no Grande Auditório do CCB, em 11 de Junho de 2004.
Nunca
se afastando dos grandes palcos e numa constante procura de renovação
artística, em 11 de Novembro de 2006, Cidália Moreira juntou-se ao elenco do
espectáculo de Fado e Flamengo “Tablado do Fado”, da Companhia de Dança
Amalgama. Nesta iniciativa única, exalta-se toda a emoção das duas artes que se
“fundem num cenário intimista.”. Em
2008, no âmbito do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, e no decorrer de uma
iniciativa da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, organizou-se
entre os dias 11 a 18 de Outubro, a Semana Intercultural do Projecto Escolhas
Vivias, na qual Cidália Moreira se apresentou em concerto no dia 11 de Outubro.
Presentemente é no Pátio de Alfama que descobrimos Cidália Moreira “em cuja voz
transparece a dor nos fados mais sofridos, ou a brejeirice em fados mais
alegres”
Finalizamos
esta biografia com as palavras de Carlos Albino Guerreiro, retiradas da página
pessoal de Cidália Moreira: “Cidália, possivelmente alheia ao efeito teatral da
sua voz, não se veste com fantasias. Tenta fazer uma história. A história do
fado que se recusa a ser infeliz por um preço qualquer.”
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
CELESTE
RODRIGUES
Celeste
Rodrigues é uma fadista tradicional das mais conceituadas do universo musical
português, considerada uma referência pelas mais jovens gerações de
intérpretes.
Maria
Celeste Rebordão Rodrigues nasceu no Fundão a 14 de Março de 1923. Quando tinha
5 anos os seus pais vieram para Lisboa e estabeleceram-se no bairro de
Alcântara. Celeste Rodrigues frequentou a Escola Primária da Tapada e recorda a
sua infância como igual à de tantas outras crianças, com a excepção de se
reconhecer como uma "maria rapaz", traquina, embora tímida e
envergonhada. Quando não quis estudar mais, empregou-se numa fábrica de bolos. E, mais tarde, junto com a irmã Amália, trabalha num ponto de
venda de artigos regionais na Rocha Conde de Óbidos (cf. “Álbum da Canção”, 1
de Maio de 1967).
A
sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, à data proprietário de
várias casas típicas, que depois de a ter ouvido cantar, entre amigos, na Adega
Mesquita, insiste na sua profissionalização como fadista.
Celeste
Rodrigues estreia-se em 1945 no Casablanca (actual Teatro ABC) e, dois meses
depois, ingressa numa Companhia teatral e parte para o Brasil, acompanhando a
irmã Amália Rodrigues na representação da opereta "Rosa Cantadeira" e
da revista "Bossa Nova". Esta digressão acaba por durar cerca de 1
ano. Ao longo da sua carreira Celeste Rodrigues receberá diversos convites para
integrar peças de teatro, mas recusa sempre.
No
regresso a Lisboa dá continuidade à sua carreira de fadista, apresentando-se no
elenco de diversos espaços de fado como o Café Latino, o Marialvas ou a Urca
(na Feira Popular). Mais tarde, transita do Luso para a Adega Mesquita, onde se
mantém por 4 anos. Posteriormente integra os elencos da Tipóia e da Adega
Machado.
No
início da década de 1950 a fadista regressa ao Brasil, desta feita para actuar
na rádio, na televisão e no restaurante Fado, de Tony de Matos, sempre com
assinalável êxito.
Aos
30 anos casa-se com o actor Varela Silva, com quem tem duas filhas. É
contratada para cantar na casa Márcia Condessa e, em Janeiro de 1957, torna-se
proprietária do restaurante típico A Viela, um espaço privilegiado para a
convivência de poetas, intelectuais, cantores e de longas tertúlias, mas ao
qual renuncia 4 anos mais tarde, confessando não sentir “queda para o negócio”
(cf. Álbum da Canção, 1 de Maio de 1967).
Na
década de 1950 Celeste Rodrigues era já uma figura ímpar no universo do Fado,
levando-o além fronteiras, para países como o Brasil, Espanha, Congo Belga,
África Inglesa, Angola e Moçambique. E, em território nacional, era também uma
fadista consagrada, conforme revela à revista “Álbum da Canção”, foi das
primeiras “a actuar no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular
(…)” e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar
passaram da fase de experiências para as emissões regulares.” (cf. “Álbum da
Canção”, 1 de Maio de 1967), actuações em espaços bem demonstrativos da sua
grande popularidade.
Continuando
a pautar o seu percurso profissional pelas apresentações nas casas de fado de
Lisboa, Celeste Rodrigues integra o elenco da Parreirinha de Alfama no início
da década de 1960, e aí permanece por mais de 10 anos, altura em que João
Ferreira-Rosa a convida para o elenco da Taverna do Embuçado, onde faz
actuações ao longo de 25 anos. Posteriormente actuará nas casas Bacalhau de
Molho e Casa de Linhares. A fadista concretiza uma carreira de sucesso, com
actuações nas casas típicas, em programas de rádio e televisão, nacionais e
internacionais. No auge da sua carreira artística, celeste Rodrigues foi também
convidada a gravar para a BBC em Londres, a convite de Richard Engleby. E, no
decurso de todos estes anos de actividade intensa, teve oportunidade de passar
por algumas das maiores cidades do mundo.
Apesar das sucessivas
comparações com Amália Rodrigues, sua irmã, Celeste Rodrigues possui uma
autenticidade única, uma forma singular de interpretação, patente nos temas do
seu repertório, como os populares “A lenda das algas” (Laierte Neves – Jaime
Mendes), “Saudade vai-te embora” (Júlio de Sousa), “O meu xaile” (Varela
Silva), ou o tema de Manuel Casimiro “Olha a mala”, que se tornou o seu maior
êxito de vendas, entre os quase 60 discos que gravou.
Corre o ano de 2005 quando Ricardo Pais, director do Teatro Nacional São João, a desafia a participar no espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" ao lado de outras três grandes vozes do Fado: Argentina Santos, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro. Com este espectáculo a fadista teve a oportunidade de percorrer vários palcos nacionais e internacionais.
Mais
recentemente, um dos momentos altos da sua carreira é a edição do álbum “Fado
Celeste”, editado em 2007 na Holanda, e que reúne fados tradicionais e inéditos
com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho e Tiago Torres da
Silva.
Nesse
mesmo ano, em Outubro, decorreu no auditório do Museu do Fado uma homenagem à
fadista, iniciativa da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, num
reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e a regularidade de
uma carreira.” (declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à
agência Lusa).
Actualmente
Celeste Rodrigues vive entre Lisboa e Washington, onde residem as suas filhas e
os seus netos, mas mantém uma actividade fadista regular, participando em
diversos espectáculos e actuando pontualmente em casas de fado de Lisboa. Como
a própria revelou, em 1970: “a idade influi grandemente na maneira como se
canta. Sentimos o que cantamos, com maior sensibilidade e emoção.” (cf. “Rádio
& Televisão”, 11 de Novembro de 1970, in “Cabelo Branco é Saudade”,
programa do espectáculo, 2005). E é certamente essa sensibilidade e emoção que
todos continuamos a registar nas suas interpretações.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Novembro/2009
sábado, 22 de fevereiro de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
CASIMIRO RAMOS
Casimiro Ramos
nasceu no bairro da Ajuda, em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1901. Começou desde
novo a ouvir guitarradas, nomeadamente os ensaios da Troupe Mayerber de que
faziam parte o seu pai e Domingos Serpa, entre outros. Foram também os nomes de
Diamantino Mourão, Agostinho, Júlio Sales, Carlos Cortador que despertaram a
curiosidade de Casimiro Ramos, mas também a aprendizagem e o gosto profundo
pela guitarra portuguesa. (cf. “Guitarra de Portugal, 31 de Março de 1934, p.
1) Casimiro Ramos actuou em diversas casas de fado, com especial destaque para
o Café-Restaurante Luso, na década de trinta, ao lado do irmão Miguel Ramos, e
mais tarde na Tipóia, onde se manteve por mais de 20 anos. Estreia-se no cinema
em 1933 participando no filme “A Canção de Lisboa”, com Beatriz Costa e Vasco
Santana.
Em 1934 o
guitarrista merece o destaque na primeira página da imprensa. Na edição da
“Guitarra de Portugal” escreve-se sobre o seu regresso ao Brasil: “Sim,
Casimiro Ramos vai ao Brasil, como acompanhador da actriz-cantadeira Maria
Albertina (…) Não é impunemente que se é artista. Já há muito tempo que este
guitarrista voltou daquela grande nação e ainda hoje nos não constou uma falta
de brio profissional.” (cf. “Guitarra de Portugal, 31 de Março de 1934, p.1)
Com efeito, na sua primeira deslocação ao Brasil integrou o elenco da Companhia
de José Loureiro, de que faziam parte Estevão Amarante, Adelina Abranches,
Maria Alice, Maria Sampaio e Lina Demoel, o cantador Manuel Cascais e o
violista Armando Silva. Não tardou que em Abril de 1934 os colegas e amigos
proporcionassem ao distinto guitarrista uma festa de homenagem. No ambiente da
Cervejaria Jansen estiveram presentes, entre muitos outros nomes, Maria
Albertina, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Maria Emília Ferreira, Maria
Amélia Martins, Rosa Maria, Joaquim Pimentel, Filipe Pinto, Artur Pinha,
Alfredo Duarte, Júlio Duarte, Mário dos Santos. (cf. “Guitarra de Portugal”, 21
Abril de 1934, p. 6) A 4 de Abril de 1936 a “Guitarra de Portugal” noticia a
“Festa da Guitarra de Portugal”, que decorreu no “Portugal Cinema”, contando
com a presença de Casimiro Ramos e de um vastíssimo leque de artistas. Ainda
nessa edição, e sensivelmente um mês mais tarde, a 30 de Abril de 1936, estava
prevista a realização da primeira festa artística de Casimiro Ramos, também no
"Portugal Cinema"; e que contaria “com um maravilhoso espectáculo de
Fado" integrado por Berta Cardoso e Maria do Carmo Torres, entre outros
nomes. (cf. “Guitarra de Portugal”, 4 Abril de 1936, p. 6).
Casimiro Ramos
foi o responsável pela organização de algumas festas de apoio a membros da
"família fadista", tal como aconteceu com a festa do "Cantador
Solitário", o fadista Manuel José Ribeiro, realizada na sede do Sporting
Club Rio Seco, no dia 5 de Julho de 1936, pelas 15 horas. Em Julho de 1938, na
reabertura de um dos mais emblemáticos locais de fado, Solar da Alegria, e sob
a direcção artística de Filipe Pinto, Casimiro Ramos vem a integrar o leque de
guitarristas e violistas, composto por Armando Machado, Fernando Freitas e
Martinho d´Assunção. (cf. “Guitarra de Portugal”, 25 de Julho de 1938, pp.8 e
9) Casimiro Ramos foi, na sua época e a par do seu talento musical, figura de
destaque no que concerne à defesa dos direitos dos artistas. Requisitado pela
imprensa do género, o guitarrista expressou as suas preocupações: “Registe-se,
pois, na “Guitarra de Portugal”, que não há decadência do Fado. Há, sim coisas,
que não estão certas, mas que, com cuidado e um pouco de trabalho, podem ser
remediadas. E, procedendo-se a uma revisão do actual sistema, muito se fará de
útil para o nosso meio fadista. (cf. “Guitarra de Portugal”, 15 de Outubro de
1946, p. 1) Irmão do violista Miguel Ramos, por quem nutria grande admiração,
com ele actuou durante largos ano tendo acompanhado inúmeros cantadores e
cantadeiras de fado.
Casimiro Ramos
gravou inúmeros discos, sobretudo enquanto acompanhante e colaborou em
programas de rádio, sobretudo na década de 50. Dotado de rara sensibilidade e
autor de célebres composições musicais, nomeadamente “Nocturno”, são de sua
autoria outros inúmeros registos: “Fado da Fé”, “Fado Maria Emília”,
“Fado Pinóia”, “Fado Três Bairros”, "Fado Amélia Martins"; "Apolo";
"Rainha Santa"; "Terezinha"; "Alice", "Fado
do Rio", "Lolita", entre outros. Musicalmente, as suas
composições figuram em gravações de gerações de fadistas; Ada de Castro,
Adelina Ramos, Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo, Fernanda Maria, João Braga,
Maria da Fé, Manuel de Almeida, Vasco Rafael, são alguns dos nomes a que damos
destaque. Gravado em 1952, resultou em 1992 pela etiqueta “Estoril” o CD
intitulado “Guitarradas Imortais”. Consagrado como guitarrista de génio,
Casimiro Ramos faleceu em Lisboa, a 29 de Abril de 1973.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Julho
de 2009
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
CARLOS
ZEL
O
fadista Carlos Zel teve uma carreira marcante na história mais recente do fado,
interpretando de forma muito própria temas que aliam a tradição à
contemporaneidade.
António
Carlos Pereira Frazão nasceu em Setembro de 1950 na Parede. Foi na zona de
Cascais e Estoril que começou a cantar, ainda com estatuto de amador. Com 17
anos profissionalizou-se, adoptou o nome artístico de Carlos Zel, e, no ano
seguinte, 1968, apresentou-se pela primeira vez na Emissora Nacional.
Carlos
Zel cantou em diversos espaços na linha de Cascais, como o bar Galito, ou em
casas de fados como a Guitarra da Madragoa, e chegou mesmo a conciliar a
actividade de fadista com a profissão de torneiro mecânico. Também o seu irmão,
Alcino Frazão, foi um guitarrista de excelência, mas infelizmente viria a
falecer muito prematuramente.
Na
viragem para a década de 1970, Carlos Zel integrou um conjunto de fadistas que
se revelaram nesta época, como é o caso de João Braga, António Melo Correia ou
José Pracana, artistas “muito marcados pela procura de uma tradição
interpretativa que vêem corporizada essencialmente na figura patriarcal de
Marceneiro e na referência mais próxima de Maria Teresa de Noronha (…) ”. São
características do seu modo de interpretar “uma intensidade expressiva e uma
riqueza de variação melódica incomparáveis na abordagem dos fados estróficos
tradicionais” (cf. Nery, 2004:246, 264).
Iniciou
o registo discográfico do seu repertório ainda na década de 1960. Entre os seus
muitos discos, contam-se os seguintes títulos: “Rosa Camareira” (1967), “Poemas
de Eduardo Damas” (1968), “Maria dos Olhos Negros” (1969), “Minha Primeira
Cantiga” (1971), O Seu Nome Era Manuel” (disco de homenagem ao toureiro Manuel
dos Santos, editado em 1975), “Mestre Núncio” (disco de tributo ao toureiro
João Núncio, editado em 1976), “Romeiro (1977), “Lusitano Vagabundo” e “Neste
Rio Vou Morrer” (1978), “Cantigamente” (1980) e “À Volta do Fado” (1986).
Em
formato CD, Carlos Zel editou o álbum “Fados”, pela BMG em 1993, lançou a
colectânea “A Minha Primeira Cantiga”, em 1996, reeditando em CD várias faixas
gravadas em vinil, incluindo as do EP do mesmo título, e participou no disco
“Harpejos e Gorgeios” de Celina Pereira, em 1998.
O
seu último trabalho em disco, de título “Com Tradição” (Movieplay), foi
apresentado com grande sucesso, num concerto do grande auditório do CCB, a 23
de Outubro de 2000. Nesta data é ainda bem notório que Carlos Zel “possui
ligações maiores ao fado tradicional, com tudo o que ele possui de boémio e
castiço”, embora apresente alguns temas provocatórios como o “Fado da
Internet”; um poema de Daniel Gouveia, ou o “Retrato dum Alfacinha Suburbano”,
um poema de José Niza que interpreta no Fado Corrido (cf. “Diário de Notícias”,
1 de Julho de 2000).
Carlos
Zel fez digressões e espectáculos em Espanha, França, Holanda, Escócia,
Dinamarca, Noruega, Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Canadá, Estados Unidos
e Senegal. Em 1997 participa no espectáculo “Raízes Rurais, Paixões Urbanas”,
de Ricardo Pais, levado a palco na Cité de la Musique de Paris, com a presença,
também, de Argentina Santos.
Em
1984, numa parceria com Carlos Escobar, o fadista abriu na Madragoa a casa de
fados O Ardinita (título de um poema de João Linhares Barbosa, interpretado por
Fernando Maurício), mas esta tornou-se numa experiência que durou apenas alguns
meses.
Para
além das apresentações regulares em espectáculos de concerto, em Portugal e no
estrangeiro, Carlos Zel integrou, também, o elenco de algumas peças de teatro
de revista. A título de exemplo refiram-se a “Aldeia da roupa suja”, peça
apresentada em 1978, no Teatro Variedades, “A Severa”, levada ao palco do
Teatro Maria Matos, em 1990, e “Ai quem me acode”, estreada em 1994, no Teatro
ABC.
São
frequentes as apresentações do fadista na televisão. Carlos Zel participou em
programas como o “Piano Bar”, de 1988, ou a série “Pisca Pisca”, de 1989”. Em
1994 o fadista interpretou temas na telenovela “Desencontros” e surgiu, ainda,
como actor, em episódios da telenovela “Cinzas”, de 1992, e da série
“Polícias”, de 1996.
Reconhecido
como intérprete empenhado na divulgação do Fado, Carlos Zel foi um dos sócios
fundadores da Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado, em 1994. Por três vezes
a Casa da Imprensa atribuiu a Carlos Zel prémios distintivos da sua actividade:
em 1993 o “Prémio Prestígio”, em 1997 o “Prémio Neves de Sousa” e, em 2000, o
“Prémio Consagração”.
No
decorrer do ano de 2000, Carlos Zel foi um dos impulsionadores da programação
“Quartas de Fado”, no Casino Estoril, onde actuava todas as semanas.
Destaque-se que Carlos Zel foi o primeiro fadista masculino a fazer uma
temporada de actuações no espaço do Casino Estoril. Em 2010 a Movieplay editou
o CD “Quartas de Fado”, numa póstuma homenagem que deu a conhecer um conjunto
de gravações ao vivo deste programa, com Carlos Zel e convidados, entre 1 de
Novembro de 2000 e 19 de Dezembro de 2001.
Possuidor
de um estilo onde a tradição interpretativa nunca deixou de marcar presença, Carlos
Zel popularizou temas como o “Meu amor morre no mar”, “Sonho louco”, “Palavra à
solta”, “Prece”, “Fado Pechincha”, “Tenho saudades da baixa”, “Amar outra vez”,
“Quero tanto aos teus olhos” ou “Travessa do poço dos Negros”. E, apesar de ser
uma referência nacional enquanto fadista, o seu percurso registou tentativas de
abrir o fado a outras sonoridades, fazendo algumas experiências ao lado de Luís
Represas, no projecto “Cantautores”, da Expo’98, com Maria João e Mário
Laginha, num espectáculo do Anfiteatro da Doca, também na Expo’98, e com Carlos
Zíngaro, Cesária Évora e Celina Pereira, em trabalhos discográficos.
Carlos
Zel faleceu a 14 de Fevereiro de 2002, em Cascais, com 51 anos.
Numa
homenagem póstuma, a Câmara Municipal de Cascais atribuiu o seu nome a uma
travessa na Parede e a uma rotunda em Birre.
Também
o Casino Estoril passou a realizar a “Gala de Fado Carlos Zel”, com
regularidade anual, num evidente tributo ao fadista, onde já marcaram presença
grandes valores do fado como Aldina Duarte, Alexandra, Ana Moura, Carlos do
Carmo, António Zambujo, Jorge Fernando, Ricardo Ribeiro, entre muitos outros.
Fonte.
Museu do Fado - Última actualização: Setembro/2015
sábado, 15 de fevereiro de 2020
BIOGRAFIAS FADISTAS
CARLOS
RAMOS
Na
voz de Carlos Ramos há “tudo o que caracteriza um artista de classe: expressão,
calor e, talvez acima de tudo, aquele timbre tão pessoal, roufenho talvez, mas
incontestavelmente pleno de verdadeiro sentido fadista.” (cf. CD “Sempre que Lisboa
Canta”, 1998).
Carlos
Augusto da Silva Ramos nasceu em Alcântara a 10 de Outubro de 1907. Conviveu
com a música desde criança, uma vez que o pai, João da Silva Ramos, tocava
trompa nas caçadas do rei D. Carlos, de quem era, também, funcionário como Porteiro
da Real Câmara no Palácio das Necessidades.
Carlos
Ramos aprendeu a tocar guitarra portuguesa integrado num grupo de estudantes do
Liceu Pedro Nunes, que se dedicavam à aprendizagem deste instrumento no
intervalo das aulas. Neste grupo incluía-se o Dr. Amaro de Almeida, de quem
Carlos Ramos voltou a ser colega na Escola de Medicina.
Com
a morte do pai, quando tinha apenas 18 anos, foi forçado a desistir da medicina
e empregou-se como escriturário nos estaleiros da CUF e, posteriormente, como
radiotelegrafista na Marconi, experiência profissional que tinha adquirido,
anteriormente, na prestação do serviço militar.
Os
primeiros contactos de Carlos Ramos com o fado surgiram no bairro de Alcântara
onde residia. A sua carreira iniciou-se pelo acompanhamento à guitarra
portuguesa de diversos fadistas, passando depois a cantar, muitas vezes
acompanhando-se a si mesmo. Em entrevista ao jornal "Guitarra de
Portugal" de 30 de Junho de 1945, afirma que apesar de cantar há cerca de
15 anos, apenas se profissionalizou em 1944, por conselho de Filipe Pinto. E
assim, em 1944, fez aquela que considerou como a sua estreia profissional, no
Café Luso.
No
início da sua carreira, como guitarrista, Carlos Ramos acompanhou os mais
conceituados fadistas em espectáculos e digressões várias e em restaurantes
típicos, como o Retiro da Severa ou o Café Mondego, e mesmo nas muitas
solicitações que teve para participar em peças do Teatro de Revista.
Na
sua primeira deslocação ao estrangeiro, em 1939, acompanhou Ercília Costa numa
digressão aos Estados Unidos, por iniciativa do embaixador português em
Washington, Dr. João Bianchi.
Será
na década de 1950 que Carlos Ramos efectuará mais espectáculos no estrangeiro,
conforme ele próprio revela em entrevista, após o regresso a Lisboa de uma
digressão realizada à África Portuguesa. Carlos Ramos enumera os locais onde
realizou espectáculos, caso da América do Norte, Brasil, Espanha, Açores,
Madeira, Itália, França e Egipto. (Cf. "Voz de Portugal", 1 de
Novembro de 1956).
O
seu horário de trabalho para a Marconi não lhe proporcionava integrar os
elencos fixos das casas típicas, no entanto a sua presença nestes espaços era
muito regular. Actuou em muitos desses restaurantes e, em 1952, tornou-se
artista privativo da Tipóia, onde se manteve até abrir o seu espaço em nome
próprio – A Toca.
Carlos
Ramos participou em muitos espectáculos de homenagem a colegas, como nas festas
dedicadas a Alfredo Marceneiro, em 1948 no Café Luso e, em 1963, no Teatro São
Luiz, ou na Festa de Consagração de Manuel de Almeida, realizada no Pavilhão
dos Desportos em 1962.
O
fadista foi também presença frequente na rádio, quer na Emissora Nacional quer
no Rádio Clube Português, e dos primeiros programas de fado transmitidos pela
televisão, o que muito contribuiu para o aumento do seu sucesso e popularidade
junto de um público mais alargado.
Em
1956 já tinha gravado 16 discos e este número foi sempre crescendo. Gravou os
seus primeiros discos ainda em formato de 78 rpm, a que se sucederam vários EPs
e LPs, inicialmente em edições da Columbia e, posteriormente, da Valentim de
Carvalho.
Em
entrevista à revista Plateia, de 1 de Julho de 1964, Carlos Ramos relata a
possibilidade surgida para participar no filme "Fado Corrido" e fala
sobre os outros filmes em que participou: "Cais Sodré" (1946),
"Fado" e "Lavadeiras de Portugal" (1957), afirmando que
apesar de as suas intervenções serem sempre a cantar, gostaria de ter
experiências de participação como actor.
Tal
não viria a suceder e o "Fado Corrido" será a sua última intervenção
em cinema. Este filme foi realizado em 1964 por Jorge Brum do Canto, sobre um
argumento de David Mourão-Ferreira. Uma película protagonizada por Amália
Rodrigues, onde o fadista interpreta temas editados pela Columbia, ainda nesse
ano, no EP "Carlos Ramos canta «Atrás de um Sonho» do Filme Fado
Corrido".
Quando
em 1959 abre a sua própria casa de fado, A Toca, conta com a presença de Maria
Teresa de Noronha, José António Sabrosa e Alfredo Marceneiro na inauguração e
torna-se proprietário daquele que será um dos restaurantes típicos mais
afamados do Bairro Alto.
Apesar
de ser nesse seu espaço que regularmente se passam a poder escutar as
interpretações de Carlos Ramos, o fadista continua a participar em inúmeros
espectáculos, em palcos, na rádio e na televisão e mesmo a colaborar com as
Marchas Populares, como padrinho, em 1963, ao lado de Celeste Rodrigues na
Marcha de Alcântara e, em 1966, com Maria do Espírito Santo, na Marcha do
Bairro Alto.
Carlos
Ramos frequentou regularmente as casas típicas de Lisboa, durante as décadas de
1940 e 1950, fez uma breve carreira internacional, participou em revistas e
filmes e, em 1952, passou a integrar o elenco exclusivo da Tipóia, ao lado de
Adelina Ramos, de onde só sairia em 1959 para abrir A Toca, espaço localizado
na Travessa dos Fiéis de Deus no Bairro Alto.
Uma
trombose ocorrida em meados da década de 60 faria terminar abruptamente com a
sua carreira artística. O fadista morreria alguns anos mais tarde, a 9 de
Novembro de 1969.
A
sua voz particular conquistou o público e popularizou-o em grandes êxitos como:
"Senhora do Monte" (Gabriel de Oliveira – José Marques, Fado
Carriche), "Anda o Fado Noutras Bocas" (Artur Ribeiro), "Não
Venhas Tarde" (Aníbal Nazaré – João Nobre), "Canto o Fado" (João
Nobre). Temas que se eternizaram na memória colectiva e foram interpretados por
inúmeros fadistas ao longo de gerações, que desta forma continuam a homenagear
este nome incontornável do universo do fado.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Julho/2009
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
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