LUCÍLIA
DO CARMO
Lucília
do Carmo, de nome completo Lucília Nunes Ascenção do Carmo, nasceu em
Portalegre a 4 de Novembro de 1919, filha de Francisco de Ascenção e de
Georgina Nunes. Iniciou a sua carreira como cantadeira amadora em sociedades de
recreio e festas de beneficência em Portalegre. Veio para Lisboa e, ainda como
amadora, cantou na Verbena do Pessoal dos Caminhos de Ferro Portugueses, em
Alcântara.
Estreou-se
no dia 1 de Abril de 1937, no "Café Mondego", em Lisboa, otendo um
êxito estrondoso. O seu cartão de profissional data de 29 de Março de 1937 e
foi-lhe concedido quando contava apenas 17 anos de idade, graças ao empenho do
escritor e poeta Vítor Machado, que nesse mesmo ano a integrou na sua obra
“Ídolos do Fado”, e lhe escreveu o poema “Canção de Vencedores”.
Cantou
no Solar da Alegria, nos cafés "Mondego" e "Luso" e na
"Parreirinha de Alfama".
Participou
em programas de fados na Emissora Nacional, na Rádio Graça e na Rádio Luso,
sendo através da rádio que alcançou grande notoriedade.
Colaborou
em festas de homenagem a vários colegas em Setúbal e em Lisboa, nunca se
furtando a qualquer gesto de solidariedade.
Casada
com o empresário Alfredo de Almeida, a fadista teve um único filho, em 1939,
que viria a herdar os dotes artísticos da mãe, tornando-se no grande fadista
Carlos do Carmo.
Nos
anos 40 deslocou-se a Lourenço Marques, onde actuou no Casino da Costa, naquela
cidade, dando conta o jornal “Canção do Sul” de 16 de Agosto de 1943 que:
"De Lourenço Marques chegam as notícias do formidável sucesso alcançado
pela popular cantadeira Lucília do Carmo".
Ainda
nessa década, Lucília do Carmo fez uma grande digressão artística pelo Brasil.
Mas a fadista realizou muito poucas tournées, especialmente após 1947, quando,
com seu marido, abriu uma casa de fados em nome próprio, a Adega da Lucília, na
Rua da Barroca, no Bairro Alto, que mais tarde veio a alterar o nome para Faia.
A
partir desta data a fadista concentrou-se cada vez mais neste seu espaço, onde
passou a actuar diariamente, e o qual tornou num dos mais importantes locais de
actuação do circuito fadista, onde os clientes podiam sempre contar com
interpretações de um estilo personalizado e um timbre característico que
tornaram inconfundível o seu estilo de cantar.
Este
exemplo, de abrir restaurantes típicos de fado por nomes que se consagraram no
universo do Fado será posteriormente seguido por muitos dos seus colegas, como
Hermínia Silva, que abre o Solar da Hermínia, Carlos Ramos com A Toca, Adelina
Ramos com A Tipóia, ou Fernanda Maria com a casa Lisboa à Noite, apenas para
salientarmos alguns dos locais de maior êxito.
De
facto nas décadas de 1950 e 60 é neste circuito de casas de Fado que vamos
encontrar os mais conceituados intérpretes deste género musical, seja como
figuras cartaz da sua própria casa, como parte integrante dos seus elencos, ou
mesmo como frequentadores habituais do espaço.
Com
as sua interpretações características, Lucília do Carmo tornou populares muitos
temas, dos quais destacamos: “Maria Madalena” e Travessa da Palha”, com poemas
de Gabriel de Oliveira, musicados por Frederico de Brito; “Anda a Saudade Bem
Alta”, também com poema de Gabriel de Oliveira e música de Alberto Costa; e
“Loucura”, de autoria de Júlio de Sousa.
Lamentavelmente,
Lucília do Carmo não deixou muitos discos gravados, mas os que deixou são
referências muito importantes no universo do Fado. Existem em formato CD
algumas das suas gravações e o seu nome é constantemente incluído em
colectâneas desta forma musical. Com o seu filho, Carlos do Carmo, gravou dois
LPs, “O Fado em duas gerações” e “An Evening at the Faia”, que foram também
reeditados em CD.
Por
sua própria iniciativa, retirou-se da vida artística com 60 anos, optando o seu
filho Carlos do Carmo por deixar o espaço da Casa de Fados Faia, que ainda hoje
se mantém em actividade, mas com outra gerência.
Lucília
do Carmo faleceu aos 79 anos, vítima da doença de Alzheimer. O seu corpo foi
velado na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, saindo o seu funeral para o
cemitério dos Prazeres, no dia 20 de Novembro de 1998.
Considerando
a importância de perpetuar a memória desta grande fadista, a Câmara Municipal
de Lisboa atribuiu o seu nome a uma rua da cidade, na freguesia de São
Francisco Xavier.
Fonte:
Museu do Fado - Última actualização: Abril/2008
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