segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS




RODRIGO

Nasceu no seio de uma família com enormes carências económicas, pelo que aos 12 anos deixou de estudar e começou a trabalhar para ajudar a família, na UTIC, uma empresa de peças para automóveis. Mais tarde entra para a Companhia Nacional de Navegação onde se manteve até aos 19 anos. É neste período que dá os primeiros passos na música fazendo parte de um grupo vocal chamado "Os Cinco Réis", que interpretava músicas latino-americanas, em versões portuguesas. Essa banda chega a gravar um disco: "O Pepe" e a aparecer em vários programas de televisão. Mas, entretanto Rodrigo é chamado para o serviço militar e a banda termina.
Aos 21 anos de idade Rodrigo emigra pela primeira vez, com destino a França, impelido por uma vontade de conhecer e aprender novas coisas. Na véspera da viagem, juntamente com os amigos, terminam a noite de despedida numa casa de Fados em Alcântara, a "Cesária", uma experiência singular para Rodrigo, não só pelo ambiente que o rodeia, como pelo facto de cantar pela primeira vez em público o único Fado que sabia: "Biografia do Fado" de Carlos Ramos. Foi esta a sua "apresentação ao Fado", um sucesso entre os que o ouviam, deixando-o definitivamente seduzido pelo género.
Este momento deixa marcas na sua vida e durante a permanência em França sintonizava os programas da Emissora Nacional para ouvir Fado.
Rodrigo regressa em definitivo a Portugal aos 26 anos e passa a frequentar e a cantar assiduamente nas casas de Fado amador, a sua grande maioria situadas em Cascais e arredores, onde conhece uma singular geração de fadistas; Teresa Tarouca, António Melo Correia, João Braga, José Pracana, Carlos Zel, Carlos Guedes Amorim, Teresa Siqueira, entre outros. Começou a ser solicitado para espectáculos ao vivo e convidado para a primeira gravação.
Profissionaliza-se em 1975, mas ainda como amador gravou os seus primeiros discos, como é o caso de "Eu sou povo e canto esperança", em 1973.
A projecção nacional chegará com o álbum "Coentros e Rabanetes", editado em 1976, e com ele inúmeros concertos, entrevistas e programas na televisão. Rodrigo chega inclusivé a ser convidado para uma Gala no Casino da Figueira da Foz.
No início dos anos 80 abriu a sua própria casa de Fados, em Birre, nos arredores de Cascais, "O Arreda", seguiu-se o "Picadeiro" e o "Estribo" que passou para "Forte D. Rodrigo", dedicando-se quase em exclusivo à sua grande paixão, o Fado.
Em meados da mesma década Rodrigo foi um dos impulsionadores da União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV).
Face ao assinalável êxito, são inúmeras as viagens e espectáculos que integra, salientando a forte ligação às comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo. Todos os espectáculos são preparados ao ínfimo pormenor, desde o cuidado na escolha do repertório, dos músicos que o acompanham, -habitualmente António Parreira, José Nobre Costa na guitarra portuguesa, Francisco Gonçalves e Raúl Silva na viola - até a uma pequena introdução sobre o poema que se vai cantar.
Recebeu um título de Cidadão Honorário atribuído pelo Senado do Estado de Rhode Island (E.U.A.)
Do seu repertório destacamos os grandes êxitos: "Cais do Sodré" de Francisco V. Bandeiras, "Gente do Mar" e "Eu sou povo e canto esperança" de João Dias, "Coentros e Rabanetes" de Jorge Atayde.
Com uma personalidade muito própria, Rodrigo continua a ser um assinalável caso de popularidade.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Fevereiro/ 2008




TONY DE MATOS

Tony de Matos é uma das figuras mais carismáticas do meio artístico português. Filho de Afonso de Matos e Mila Graça, António Maria de Matos, nasce no Porto a 28 de Outubro de 1924. Vive até aos 5 anos nesta cidade, altura em que a sua mãe passa a integrar a Companhia de Teatro itinerante de Rafael de Oliveira. Tony, como era tratado por todos, começa cedo a pisar os palcos e passa grande parte da sua infância e adolescência, de cidade em cidade.
Aos 13 anos estreia-se como ponto e, por os pais o quererem afastado da vida artística, aprende o ofício de barbeiro, o qual vai pondo em prática nas terras onde a companhia se vai estabelecendo.
O desejo de cantar fá-lo rumar até Lisboa, onde, paralelamente, se emprega na Comissão Reguladora das Moagens de Ramas. Tony de Matos é recusado, por duas vezes, no concurso de admissão à Emissora Nacional, mas com a interpretação dos temas “Se Eu Morrer Amanhã” e “Noite de Luar” é finalmente aprovado em 1945.
Três anos mais tarde, num regresso à Companhia de Teatro, e em noite de exibição numa das muitas Verbenas, desta feita no Atlético, Tony canta alguns temas do repertório de Alberto Ribeiro e, naturalmente, impressiona quem o ouve. Júlio Peres é, nessa data, director artístico do recinto e logo o convida para se apresentar no Luso, casa onde é de imediato contratado para integrar o elenco, recebendo 50 escudos por noite. É nesta altura que Tony de Matos, com 23 anos, se profissionaliza, num "ambiente puramente fadista", facto que justifica, em entrevista, dizendo: “também sou fadista a meu modo porque, como sabe, entre os meus números de mais agrado encontram-se alguns de fado-canção…” (“A Voz de Portugal”, 10 de Setembro de 1954).
Tony de Matos alcança grande popularidade quando integra a programação da APA (Agência de Publicidade Artística) e o "Comboio das Seis e Meia", com os quais percorre todo o país, em inúmeros espectáculos. São os temas românticos que passam a marcar todo o seu percurso artístico.
Logo a abrir a década de 50, Tony de Matos é convidado por Manuel Simões a gravar o primeiro disco, em Madrid, de onde se destaca o tema "Cartas de Amor", um estrondoso sucesso na rádio. No regresso a Portugal é convidado a filmar o documentário “Almourol”, realizado por Fernando Garcia.
Data de 1953 a sua estreia no teatro de revista, primeiro no elenco de "Cantigas Ó Rosa", a que se segue a peça "Saias Curtas", onde faz um dueto com Maria José da Guia.
Em finais desse mesmo ano, e graças ao sucesso alcançado até então, surge o convite de empresário Mangioni para uma temporada no Brasil. Para além de se apresentar em programas de televisão e rádio, Tony de Matos é contratado para actuar nas casas: Oásis, Lord e Esplanada. Permanece no Brasil por um período de seis meses e grava 4 discos de 78 RPM, onde revela um novo êxito, o tema "Rosinha dos Limões".
Regressa a Lisboa por apenas um mês e volta ao Brasil, a bordo do "Santa Maria", para uma visita às cidades do Rio de Janeiro e Santos. Em entrevista, Tony de Matos revela: "Contratos não faltam, felizmente. O público do país irmão tem-me acarinhado de tal maneira que eu no Rio ou em São Paulo, estou como em minha casa!" (“A Voz de Portugal, 10 de Setembro de 1954).
Tony de Matos é então dos artistas mais destacados da época e passa a ser solicitado em todo o mundo para espectáculos e digressões, que passam pelas ilhas dos Açores e Madeira, e por países como Espanha, Itália, São Tomé, Angola, Moçambique, África do Sul, Congo, Rodésia, Goa, Líbano, Iraque, Egipto, Turquia, entre outros.
Depois de percorrer vários continentes faz, em 1957, nova viagem de regresso ao Brasil, onde ficará por seis anos. Tony de Matos, entretanto casado com a cantora Maria Sidónio, abre com ela, em Copacabana, o restaurante "O Fado", em 1959. Tony de Matos continua com apresentações na rádio e televisão brasileiras, com destaque para a TV Rio, TV Tupi, Rádio Nacional e Clube 36. Corre todo o Brasil e arrecada inúmeras ovações, faz novas gravações e para a sua crescente popularidade também contribuem Joaquim Pimental e António Rodrigues, que lhe escrevem, entre outros, o tema "Vendaval", um dos seus maiores sucessos, rapidamente difundido pela rádio e televisão.
Volta a Portugal com vários discos gravados, onde se encontram músicas que serão futuros êxitos, casos de, por exemplo: "Lugar Vazio", "Lado a Lado", "Procuro Mas Não te Encontro", "Poema do Fim", ou a já referida "Vendaval". Assina contrato com a editora Valentim de Carvalho para as futuras gravações, passando a receber uma percentagem record (7%) da receita das vendas.
Neste seu regresso Tony de Matos sonha em abrir um restaurante semelhante ao que havia possuído no Brasil (O Fado) e, em 1964, inaugura um espaço a que chama Lado-a-Lado. Ainda em 1964, faz a sua estreia no grande ecrã, no filme "A Canção da Saudade", de Henrique Campos, onde interpreta o tema "Só nós dois". A 3 de Abril de 1965 Tony de Matos recebe o Prémio Música Ligeira, para melhor cançonetista, e, nesse mesmo ano, volta ao cinema, protagonizando ao lado de Leónia Mendes o filme "Rapazes de Táxis", realizado por Constantino Esteves.
Em 1966, Tony de Matos concorre ao Festival da Canção, com "Nada e Ninguém", um poema de autoria de António José, mas classifica-se no último lugar. Dois anos mais tarde fará o seu regresso ao teatro no elenco da revista "Arroz de Miúdas", onde criou "O Que Sobrou da Mouraria", com letra de Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha e música de João Nobre.
Tony de Matos é uma das vozes mais proeminentes e populares no mundo da canção portuguesa, como nos diz a revista “Antena”: “cantou em quatro continentes, a sua voz está implantada em milhares de discos, o rosto surgiu na tela grande, a presença firmou-se na retina de quem o aplaude no teatro ou na televisão, quem o escuta nas mais diversas horas do dia penetrando em nossos lares” (“Antena”, 15 de Setembro de 1967).
As suas participações em películas cinematográficas incluem, ainda, os filmes: "O Destino Marca a Hora", realizado por Henrique Campos, em 1970; e "Derrapagem", de Constantino Esteves e datado de 1974.
Após a Revolução de Abril de 74, Tony de Matos sente um decréscimo na sua popularidade e consequente contratação para espectáculos. Inicia uma digressão pelos Estados Unidos da América, volta a apaixonar-se, a casar e por ali fixa residência durante cerca de 8 anos.
O retorno a Portugal coincide com novas experiência no teatro de revista, revelando-se uma das principais vedetas em algumas peças. Estabelece uma relação "séria, feliz, duradoura" com a fadista Lídia Ribeiro, que o acompanhará até ao fim da sua vida (“A Capital”, 24 de Setembro de 1988). No mesmo período, partilha com Carlos Zel e Filipe Duarte a gerência da casa Fado Menor, por onde passam grandes vultos do Fado.
Em 1985 João Henriques escreve-lhe a canção "Romântico" que, aliada ao convite de Vitorino para um concerto realizado no Coliseu dos Recreios, que resultou numa plateia rendida ao seu talento; o vai projectar de novo para a fama. Prova disso mesmo é o concerto em nome próprio que realiza em Novembro de 1985, onde, para gáudio de todos os presentes, interpreta grande parte dos temas mais célebres da sua longa carreira.
Tony de Matos morre a 8 de Junho de 1989, pondo fim a uma carreira repleta de êxitos. Ficará para sempre recordado como o cantor romântico que, com a sua característica voz, moldada num timbre único e inimitável, tão bem soube exaltar o amor.
Em 2006 é editado, numa produção RTP e Ovação, o DVD do último concerto de Tony de Matos e, em 2007, é lançado o álbum "A Vida de um Romântico", sob a chancela da Farol.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Outubro/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário