sábado, 3 de junho de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS





FERNANDA BATISTA

Apesar de no bilhete de identidade constar a data de 11 de Maio, a verdade é que Fernanda Gil Ferreira Martins, que adoptou o nome artístico de Fernanda Baptista, nasceu no dia 7 de Maio de 1919, na casa de família na Travessa do Oleiro nº 11, em Lisboa.
Fernanda Baptista era vizinha do actor Vasco Santana que, por ela em criança já gostar muito de cantar, lhe chamava “o papagaio das cantorias”. Aos 10 anos a fadista participa pela primeira vez numa peça de teatro infantil, mas está ainda longe de enveredar por uma carreira artística.
Com apenas 19 anos casa-se com um funcionário da Companhia Colonial de Navegação e abraça a profissão de modista, trabalhando na Casa Pinto de Almeida, situada na Rua Augusta. É neste atelier e em festas particulares das suas clientes que começa por brilhar na interpretação do Fado. Em 1945 as suas colegas inscrevem-na no Concurso de Outono do jornal “Canção do Sul”, cujas eliminatórias decorrem no Retiro dos Marialvas e no Café Latino. Neste concurso arrecada o 2º lugar, representando o Bairro Alto. A partir desse momento torna-se intérprete profissional, contratada pelo empresário José Miguel e passa a integrar o elenco do Retiro dos Marialvas. As interpretações genuínas de Fernanda Baptista são muito apreciadas pelos críticos de Fado e, ainda não tinha decorrido um ano da sua profissionalização já o jornal a “Guitarra de Portugal” a considerava “um dos valores mais sólidos da moderna geração” (cf. “Guitarra de Portugal”, 30 de Julho de 1945). Passa em 1946 a actuar no Café Luso e nesse mesmo ano é convidada pelos empresários Rosa Mateus e Lourenço Rodrigues para ir actuar no Teatro Maria Vitória. Assim, substituiu Luisa Satanela na Revista "Banhos de Sol", estreando-se no teatro de revista com a interpretação da “Ronda Fadista”.
Até ao final da década participará em quadros musicais de muitas das revistas do Teatro Maria Vitória, caso de “Canções Unidas”, em 1946, com o tema “Trapeiras de Lisboa”, que é premiado pelo SNI como o Melhor Quadro de Revista; “Ó ai ó linda” e “Salada de Alface”, em 1947; “Disto é que eu gosto” e “O Tico-tico”, em 1948. Nesta última revista interpreta o seu tema de maior êxito, o “Fado da Carta”, de autoria de João Nobre e Amadeu do Vale. Com a companhia de Eugénio Salvador no Teatro Maria Vitória, Fernanda Baptista apresentou-se nas revistas “Saias Curtas”, “Cala o Bico” e “Festa é Festa”, entre 1953 e 1955. Ainda no âmbito dos palcos teatrais destacamos a revista “Ena Já Fala”, levada à cena em 1969, no Teatro ABC, onde a fadista interpretou com tal sucesso o tema “Saudades de Júlia Mendes” que este se tornou um fado incontornável do seu repertório.
Apesar dos inúmeros espectáculos e digressões por todo o país e também junto das comunidades emigrantes portuguesas, Fernanda Baptista constrói uma sólida carreira na interpretação de Fado no Teatro de Revista, sendo uma presença nos palcos até 1974.
Fernanda Baptista também protagonizou uma película no grande écran, o filme realizado por José Buchs, em 1949, “Sol e Toiros”. Neste filme participavam, para além de Fernanda Baptista, Manuel dos Santos, Leonor Maia, Amália Rodrigues e Eugénio Salvador, entre outros. O “Fado Toureiro” que integra a banda sonora deste filme será transformado numa das faixas mais famosas da fadista, a que se juntam os temas “Fado da Carta” e “Saudades de Júlia Mendes”, já anteriormente referidos. As suas saídas de Portugal para diversas actuações iniciaram-se na década de 1950, com a digressão a África da revista “Saias Curtas”. A esta somaram-se apresentações de espectáculos de Fado em cidades como Luanda, Lobito ou Nova Lisboa. Posteriormente, Fernanda Baptista acumulará numerosas viagens ao Brasil, local onde uma das vezes chegou a permanecer mais de ano e meio, à Argentina, a África e aos Estados Unidos e Canadá. Nestes dois últimos países da América do Norte a fadista fez mais de 17 tournées.
Em televisão foi também requisitada para aparições em diversos programas como o “Zip Zip” ou o “Fado Fadinho” e, mais recentemente, integrou como artista convidada as séries televisivas de Filipe la Féria “Grande Noite” e “Cabaret”.
Fernanda Baptista voltou ao Teatro de Revista em 1990 para participar na peça “Ai Cavaquinho” no Teatro Capitólio do Parque Mayer e, em 1994, foi homenageada num outro teatro do Parque Mayer, o Teatro Variedades, no decurso da apresentação da revista “Vivó Velho”, a última revista em que Fernanda Baptista participou, ao lado de Artur Garcia, Mariette Pessanha e Joel Branco.
A 29 de Abril de 1996, em homenagem aos seus 50 anos de carreira, realizou-se um concerto no Teatro São Luís, onde participaram Anita Guerreiro, Deolinda Rodrigues, Maria Valejo, Maria José Valério, Fernando Maurício ou Carlos Zel que, entre muitos outros colegas e amigos, do Fado e do teatro de revista, demonstraram o seu carinho e admiração pela artista.
A fadista gravou muitos discos, mas só na década de 1970 editou o seu primeiro LP. Em 2005 a Movieplay lançou a antologia “Fernanda Baptista – a Maior Voz do Teatro de Revista”, reunindo em duplo CD os seus maiores êxitos. Os temas são reedições de gravações feitas pela fadista entre os anos de 1967 e 1981.
Apesar de várias vezes se ter afastado dos palcos e ter pensado retirar-se definitivamente da vida artística, quando completou 87 anos, em Maio de 2006, Fernanda Baptista integrava ainda o elenco musical do espectáculo de Filipe la Féria “A Canção de Lisboa”, em exibição no Teatro Politeama. Faleceu a 25 de Julho de 2008.
Observações: Em 2003, o então Presidente da República Jorge Sampaio condecorou-a com o Grau de Comendadora da Ordem de Mérito.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Outubro/2008

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