CARLOS CONDE
“Não chamem nomes ao fado, / Que o fado da nossa fé
Não pode ser acusado / De uma coisa que não é”
Do poema “O fado não é isso” ou “Não chamem nomes ao fado”, esta quadra é
um pequeno excerto da abundante obra poética de Carlos Conde.
Carlos Augusto Conde, filho de Maria Antónia da Silva Conde e de Manuel
José Conde, nasceu no dia 22 de Novembro de 1901 na povoação do Monte,
Murtuosa, distrito de Aveiro. Casou-se com Laura dos Santos em 18 de Setembro
de 1936 e desse casamento nasceram três filhas, Noémia, Maria de Lourdes e
Flora. Mais tarde mudam-se para Lisboa, fixando-se na Praça das Amoreiras e
nestes primeiros anos de transição para a cidade, Carlos Conde emprega-se como
chefe de escritório na firma F.H. de Oliveira.
Se antes deste seu percurso profissional, Carlos Conde já escrevia os
primeiros versos, a história do fado veio a consagrá-lo como destacado poeta
popular, autor de inúmeros repertórios de fados e textos de cegadas,
musicados ao longo das décadas de 20 e 30 do século passado. Quando questionado
pela revista “ABC” sobre as temáticas dos seus versos dirá: “O amor, as
mulheres, o campo. Adoro as flores, as águas claras, o sol, a luz, a natureza.
Tudo o que tenha vida, que tenha alma.” (cf. “Revista ABC”, 23 de Janeiro de 1931).
Dono de um talento imenso, a sua pena fixou o imaginário de Lisboa, descrevendo
costumes, personalidades, recantos, becos, vielas, festividades e outros temas
do quotidiano da capital.
Em 1924 o jornal “A Alma de Portugal” dava destaque a Carlos Conde,
caracterizando o jovem poeta: “Carlos Conde pertence a essa plêiade de novos
que nos últimos tempos se tem evidenciado, na sua bagagem literária
encontram-se produções de merecimento (…) Carlos Conde não sendo contudo um
consagrado é no entanto um novel com inspiração, a sua obra encontra-se
espalhada nas mãos dos mais competentíssimos cantadores e dispersa nas colunas
dos inúmeros jornaes onde tem colaborado com proficiente estudo.” (cf. “A Alma
de Portugal”, 1ª Quinz. de Setembro de 1924). A notoriedade de Carlos Conde foi
muitas vezes referenciada pelos periódicos de fado, que surgiram ao longo das
décadas de 20, 30 e 40 do passado século, fulcrais na legitimação e divulgação
desta expressão musical.
Dada a impossibilidade de nomearmos todos os textos de cegadas que Carlos
Conde escreveu destacamos os títulos: “O Crime Daquela Noite” (1946) com música
de Alfredo Silva, “Homem ao Mar” (1950) música de Casimiro Ramos, “Quatro
Contos a Mais” (1959), música de Albertino Vilar, entre muitos outros textos. Estas
e outras cegadas tinham lugar nas colectividades, clubes e festas que povoavam
a cidade de Lisboa e arredores.
A paixão pela escrita leva Carlos Conde a participar e a concorrer em
numerosos concursos poéticos alcançando, na maioria das vezes, os primeiros
prémios e menções honrosas. Destaque para a vitória alcançada, em 1966, com a
letra para o “Hino da Força Aérea”, reforçando os méritos entretanto já
atribuídos ao poeta ao longo de outras décadas.
Profundamente acarinhado pelo universo do fado, os seus poemas foram
cantados na voz dos grandes vultos do fado : Ada de Castro, Adelina Ramos,
Amália Rodrigues, Argentina Santos, Ercília Costa, Fernanda Maria, Lucília do
Carmo, Maria Amélia Proença, Maria da Fé, Alfredo Duarte Júnior, Alfredo Marceneiro,
Carlos do Carmo, Fernando Maurício, Gabino Ferreira, João Ferreira Rosa, Raul
Pereira, Rodrigo, Vítor Duarte, entre muitos outros. Carlos Conde foi autor de
centenas de letras de Fado, e revelam-no como um dos expoentes máximo na área.
Esses fados, traduziram-se em verdadeiros sucessos nas vozes de muitos
fadistas: “A mulher que já foi tua”, “Baile dos Quintalinhos”, “Bairros de
Lisboa”, “Um resto de Mouraria”, “O Fado da Bica”, “Não sou ciumenta”,
“Rapsódia de fado antigo”, “Trem desmantelado”, “Não passes com ela à minha
rua”, “Fins do século passado”, entre muitos outros…
Paralelamente à sua projecção como poeta, Carlos Conde foi alvo de um
grande número de homenagens, com especial destaque para o almoço comemorativo
do seu 50º aniversário, e que teve lugar no dia 22 Novembro de 1951, na Adega
Mesquita, com a presença de Francisco Radamanto, Felipe Pinto, Dr. Amaro de
Almeida, Amália Rodrigues, Teresa Nunes, Alfredo Marceneiro, entre outros.
Outras festas de homenagens ocorreram contando com a presença de muitos nomes
do universo artístico da rádio, do teatro e do fado e que souberam enaltecer a
grandiosidade da sua obra poética e humana.
Vítima de um trágico acidente de viação, Carlos Conde virá a falecer em
Julho de 1981.
Em 2001 a Câmara Municipal de Lisboa, presta ao poeta uma última homenagem,
ao atribuir o seu nome a uma das artérias da cidade situada na zona de
Campolide.
Paulo Conde, neto de Carlos Conde, lançou em Setembro de 2001 o livro
“Fado, Vida e Obra do Poeta Carlos Conde”. Tratando-se de um inesgotável
tributo ao seu avô, Paulo Conde revê toda a vida e consequente obra literária
daquele que é hoje considerado como uma referência na poesia de fado.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Maio de 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário