CARLOS
RAMOS
Na
voz de Carlos Ramos há “tudo o que caracteriza um artista de classe: expressão,
calor e, talvez acima de tudo, aquele timbre tão pessoal, roufenho talvez, mas
incontestavelmente pleno de verdadeiro sentido fadista.” (cf. CD “Sempre que Lisboa
Canta”, 1998).
Carlos
Augusto da Silva Ramos nasceu em Alcântara a 10 de Outubro de 1907. Conviveu
com a música desde criança, uma vez que o pai, João da Silva Ramos, tocava
trompa nas caçadas do rei D. Carlos, de quem era, também, funcionário como Porteiro
da Real Câmara no Palácio das Necessidades.
Carlos
Ramos aprendeu a tocar guitarra portuguesa integrado num grupo de estudantes do
Liceu Pedro Nunes, que se dedicavam à aprendizagem deste instrumento no
intervalo das aulas. Neste grupo incluía-se o Dr. Amaro de Almeida, de quem
Carlos Ramos voltou a ser colega na Escola de Medicina.
Com
a morte do pai, quando tinha apenas 18 anos, foi forçado a desistir da medicina
e empregou-se como escriturário nos estaleiros da CUF e, posteriormente, como
radiotelegrafista na Marconi, experiência profissional que tinha adquirido,
anteriormente, na prestação do serviço militar.
Os
primeiros contactos de Carlos Ramos com o fado surgiram no bairro de Alcântara
onde residia. A sua carreira iniciou-se pelo acompanhamento à guitarra
portuguesa de diversos fadistas, passando depois a cantar, muitas vezes
acompanhando-se a si mesmo. Em entrevista ao jornal "Guitarra de
Portugal" de 30 de Junho de 1945, afirma que apesar de cantar há cerca de
15 anos, apenas se profissionalizou em 1944, por conselho de Filipe Pinto. E
assim, em 1944, fez aquela que considerou como a sua estreia profissional, no
Café Luso.
No
início da sua carreira, como guitarrista, Carlos Ramos acompanhou os mais
conceituados fadistas em espectáculos e digressões várias e em restaurantes
típicos, como o Retiro da Severa ou o Café Mondego, e mesmo nas muitas
solicitações que teve para participar em peças do Teatro de Revista.
Na
sua primeira deslocação ao estrangeiro, em 1939, acompanhou Ercília Costa numa
digressão aos Estados Unidos, por iniciativa do embaixador português em
Washington, Dr. João Bianchi.
Será
na década de 1950 que Carlos Ramos efectuará mais espectáculos no estrangeiro,
conforme ele próprio revela em entrevista, após o regresso a Lisboa de uma
digressão realizada à África Portuguesa. Carlos Ramos enumera os locais onde
realizou espectáculos, caso da América do Norte, Brasil, Espanha, Açores,
Madeira, Itália, França e Egipto. (Cf. "Voz de Portugal", 1 de
Novembro de 1956).
O
seu horário de trabalho para a Marconi não lhe proporcionava integrar os
elencos fixos das casas típicas, no entanto a sua presença nestes espaços era
muito regular. Actuou em muitos desses restaurantes e, em 1952, tornou-se
artista privativo da Tipóia, onde se manteve até abrir o seu espaço em nome
próprio – A Toca.
Carlos
Ramos participou em muitos espectáculos de homenagem a colegas, como nas festas
dedicadas a Alfredo Marceneiro, em 1948 no Café Luso e, em 1963, no Teatro São
Luiz, ou na Festa de Consagração de Manuel de Almeida, realizada no Pavilhão
dos Desportos em 1962.
O
fadista foi também presença frequente na rádio, quer na Emissora Nacional quer
no Rádio Clube Português, e dos primeiros programas de fado transmitidos pela
televisão, o que muito contribuiu para o aumento do seu sucesso e popularidade
junto de um público mais alargado.
Em
1956 já tinha gravado 16 discos e este número foi sempre crescendo. Gravou os
seus primeiros discos ainda em formato de 78 rpm, a que se sucederam vários EPs
e LPs, inicialmente em edições da Columbia e, posteriormente, da Valentim de
Carvalho.
Em
entrevista à revista Plateia, de 1 de Julho de 1964, Carlos Ramos relata a
possibilidade surgida para participar no filme "Fado Corrido" e fala
sobre os outros filmes em que participou: "Cais Sodré" (1946),
"Fado" e "Lavadeiras de Portugal" (1957), afirmando que
apesar de as suas intervenções serem sempre a cantar, gostaria de ter
experiências de participação como actor.
Tal
não viria a suceder e o "Fado Corrido" será a sua última intervenção
em cinema. Este filme foi realizado em 1964 por Jorge Brum do Canto, sobre um
argumento de David Mourão-Ferreira. Uma película protagonizada por Amália
Rodrigues, onde o fadista interpreta temas editados pela Columbia, ainda nesse
ano, no EP "Carlos Ramos canta «Atrás de um Sonho» do Filme Fado
Corrido".
Quando
em 1959 abre a sua própria casa de fado, A Toca, conta com a presença de Maria
Teresa de Noronha, José António Sabrosa e Alfredo Marceneiro na inauguração e
torna-se proprietário daquele que será um dos restaurantes típicos mais
afamados do Bairro Alto.
Apesar
de ser nesse seu espaço que regularmente se passam a poder escutar as
interpretações de Carlos Ramos, o fadista continua a participar em inúmeros
espectáculos, em palcos, na rádio e na televisão e mesmo a colaborar com as
Marchas Populares, como padrinho, em 1963, ao lado de Celeste Rodrigues na
Marcha de Alcântara e, em 1966, com Maria do Espírito Santo, na Marcha do
Bairro Alto.
Carlos
Ramos frequentou regularmente as casas típicas de Lisboa, durante as décadas de
1940 e 1950, fez uma breve carreira internacional, participou em revistas e
filmes e, em 1952, passou a integrar o elenco exclusivo da Tipóia, ao lado de
Adelina Ramos, de onde só sairia em 1959 para abrir A Toca, espaço localizado
na Travessa dos Fiéis de Deus no Bairro Alto.
Uma
trombose ocorrida em meados da década de 60 faria terminar abruptamente com a
sua carreira artística. O fadista morreria alguns anos mais tarde, a 9 de
Novembro de 1969.
A
sua voz particular conquistou o público e popularizou-o em grandes êxitos como:
"Senhora do Monte" (Gabriel de Oliveira – José Marques, Fado
Carriche), "Anda o Fado Noutras Bocas" (Artur Ribeiro), "Não
Venhas Tarde" (Aníbal Nazaré – João Nobre), "Canto o Fado" (João
Nobre). Temas que se eternizaram na memória colectiva e foram interpretados por
inúmeros fadistas ao longo de gerações, que desta forma continuam a homenagear
este nome incontornável do universo do fado.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Julho/2009
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