MANUEL
FERNANDES
Manuel
Fernandes nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel do bairro de Campo de
Ourique, no dia 9 de Dezembro de 1921.
Os
seus primeiros estudos foram feitos na escola primária da freguesia onde
nasceu, tendo depois ido viver, com os seus pais, para o bairro de Alcântara.
Aí a família permaneceu apenas até aos seus 7 anos, voltando novamente a
estabelecer a sua residência em Campo de Ourique.
Após
concluir o exame do 2º grau com onze anos de idade, começou a trabalhar nas
oficinas de São José onde esteve em regime de internato durante um ano, colégio
que lhe ensinou o ofício de tipógrafo. Em seguida empregou-se na firma Pires
& Comandita transitando, mais tarde, para a Papelaria Fernandes.
As
tendências artísticas manifestaram-se logo aos cinco anos de idade, quando
improvisava espectáculos "agarrado ao pau de uma vassoura", e
prosseguiu cantando e assobiando, chegando a ser conhecido pelo "rei do
assobio". Dava assim espectáculos entre a miudagem e também junto dos mais
crescidos, o que lhe valia sempre muitos aplausos. (cf. “Álbum da Canção”, 1 de
Outubro de 1964).
Em
1936, quando tinha apenas 15 anos, cantava já, como amador, pelas tabernas e
pelas colectividades de recreio onde habitualmente se faziam apresentações de
Fado aos fins-de-semana.
Sentindo-se
tentado, pelos muitos elogios que recebia, a seguir uma carreira artística,
procurou Filipe Pinto, no Retiro dos Marialvas. E foi nesse espaço que o
empresário José Miguel, instigado pela cantadeira Maria Carmen, que achava que
Manuel Fernandes tinha uma voz agradável e parecenças com Manuel dos Santos (um
cantador em voga que partira para a América onde se radicara), o convidou para
cantar na verbena de Santa Catarina.
Com
apenas 17 anos, em 1938, e um cachet de 15 escudos por noite, Manuel Fernandes
iniciou a sua carreira profissional de fadista. Ainda assim, manteve por algum
tempo a sua profissão de tipógrafo até lhe ser completamente impossível
conciliar o trabalho de tipógrafo com as interpretações nocturnas de Fado.
Posteriormente
passou a cantar no Solar da Alegria e no Café Mondego, a convite do referido
empresário José Miguel, tendo depois integrado os elencos do Luso e dos
Marialvas, até se estabelecer por um longo período no restaurante típico
Folclore.
Em
Abril de 1941 Manuel Fernandes é o protagonista da capa do jornal “Canção do
Sul”, facto bem demonstrativo do grau que já atingia a sua popularidade no
universo do Fado, numa altura em que contava com apenas 19 anos.
Seis
anos depois da sua estreia, em 1944, desempenhou um pequeno papel na opereta
" Os Magalas" onde cantava uma desgarrada com Hermínia Silva e Carlos
Ramos. Terminadas as apresentações em palco da peça regressou às actuações em
casas de fado, conciliando-as com apresentações ao vivo na rádio, em especial
na Emissora Nacional.
Por
mais duas vezes participará em produções teatrais, na opereta "Rosinha dos
Limões", apresentada no Coliseu dos Recreios e na revista “Muitas e Boas”.
Manuel
Fernandes casou em 1946 com Adelaide Cardoso, também ela intérprete de fado,
conhecida pela “Miúda de Alfama”. O casal teve duas filhas, a quem deu os nomes
de Isaura e Maria Manuel. Em homenagem ao nascimento da sua primeira filha, o
fadista compôs o tema “Vassourinha”, que se tornou num dos seus maiores êxitos.
Em
1953 fez a sua primeira deslocação ao estrangeiro, contratado para actuar no
Brasil, país onde esteve por três meses, apresentando-se em São Paulo, na
“Adega do Douro”, em programas de rádio e chegando mesmo a gravar nesse país o
seu primeiro disco.
No
seu regresso foi convidado a ingressar no elenco de "Os Companheiros da
Alegria", um grupo artístico dirigido pelo actor e locutor Igrejas Caeiro
que acompanhou a volta a Portugal em bicicleta e actuava nas localidades onde
finalizava a etapa. Fruto do estrondoso êxito alcançado nesses espectáculos,
terminada a " Volta " o grupo continuou a actuar um pouco por todo o
país.
Em
1957, o fadista foi um dos artistas seleccionados para representar Portugal no
Festival da Canção Latina de Génova. E, três anos mais tarde, a convite de Odir
Odilon, iniciou uma tournée em África acompanhado por Cidalisa do Carmo e o
pianista Tobias. No entanto, por divergências pessoais com o organizador,
acabou por interromper prematuramente a digressão.
Em
4 de Maio de 1962 comemorou as Bodas de Prata numa grandiosa festa realizada no
Coliseu dos Recreios.
Manuel
Fernandes teve uma carreira profissional muito activa e diversificada em
actuações em casas de fado, em apresentações na rádio e, após a inauguração da
RTP, em televisão. Realizou digressões às Ilhas portuguesas, a Angola,
Moçambique, França, Brasil, Inglaterra, África do Sul, Estados Unidos e Canadá.
A
meio da década de 1980 o fadista afastou-se dos palcos e abandonou a carreira
artística, afirmando preferir que as pessoas tivessem saudades suas, em vez de
o continuarem a ouvir sem o brilhantismo de outrora (cf. “DN Magazine”, 16 de
abril de 1989).
Manuel
Fernandes faleceu a 20 de Maio de 1994, deixando a sua marca numa discografia
que ultrapassa os 70 discos, tendo mesmo gravado dois LPs em parceria com as
fadistas Maria Marques e Maria do Espírito Santo, para uma editora americana.
Fonte: Museu do Fado - Última actualização:
Abril/2008
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