sábado, 29 de julho de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS



JOSÉ FONTES ROCHA

José Fontes Rocha, "Fontes Rocha", nasce no Porto, na freguesia de Ramalde, em 20 de Setembro de 1926. Descendente de uma família de músicos, o seu avô paterno, Joaquim Rocha foi regente e compositor da Banda de Santiago, uma banda civil, das chamadas "bandas regimentares" que abrilhantavam os coretos e as festas das vilas e aldeias do norte do país. Foi este seu avô que, aos 12 anos, começou a ensinar-lhe solfejo e, simultaneamente, aprendia a tocar violino. O gosto pela guitarra adquiriu-o por influência do pai, António da Silva Rocha que tocava este instrumento em paródias de amigos. Foi assim que aos 16 anos começou a dedicar-se à guitarra, desta feita como autodidacta, aprendendo a tocar sozinho. Dos 16 aos 30 anos exerceu a profissão de electricista, no norte do país, conciliando-a com a actividade de guitarrista amador, que começou a praticar aos 20 anos, tocando entre amigos, em tertúlias e em festas particulares. O seu gosto pela guitarra portuguesa era fomentado também pela audição dos programas de guitarradas, nomeadamente na Emissora Nacional, e de onde se destacam os nomes de Raul Nery, Paredes, José Nunes e Carvalhinho.
Dez anos depois, em 1956 e a convite de José Nunes, vem para Lisboa, e integra o elenco do Restaurante "Patrício", na Calçada de Carriche tocando guitarra portuguesa. Quando o "Patrício" encerrou portas, Fontes Rocha começa a trabalhar nos Correios de Portugal, e de forma esporádica toca no "Pampilho", uma casa também situada na Calçada de Carriche. Pouco tempo depois foi contratado pela "Adega Mesquita", e abandonou definitivamente a profissão de electricista, decidindo tornar-se guitarrista profissional. Neste período acompanha o fadista Fernando Farinha tendo inclusivamente realizado vários concertos no Canadá e E.U.A. (1962). Na "Adega Mesquita" terá um dos encontros mais decisivos da sua carreira, conhece a fadista Amália Rodrigues, com quem irá desenvolver um grandioso trabalho musical.
Como instrumentista, diz-nos Pedro Caldeira Cabral, que tinha "como modelos estilísticos os dos guitarristas Armandinho e José Nunes, cuja influência no seu tipo de sonoridade é perfeitamente reconhecível. Fontes Rocha desenvolveu, no entanto, com uma persistência notável uma série de aperfeiçoamentos na sonoridade das guitarras, introduzindo técnicas de «surdina», redesenhando a forma das unhas e o ângulo de ataque das cordas, etc." (Pedro Caldeira Cabral, “A Guitarra Portuguesa”, Lisboa, Ediclube, 1999).
Fontes Rocha fez parte do Conjunto de Guitarras de Raul Nery (integrado também por Júlio Gomes e Joel Pina), com o qual se deslocou ao estrangeiro, também para acompanhar Maria Teresa de Noronha. Enquanto executante neste conjunto participam todas as semanas em programas na Emissora Nacional, onde interpretam 4 peças diferentes, o que exigia ensaios e uma grande dose de profissionalismo, uma vez que, segundo Fontes Rocha, é muito complicado pôr 4 instrumentos a tocar simultaneamente.
Com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, actuou com a Orquestra de André Kostelanetz, na temporada de 1969-1970, contribuindo para o grande êxito alcançado por Amália Rodrigues no Lincoln Center de Nova Iorque.
Na década de 60 destaca-se como guitarrista de Amália Rodrigues, sendo um dos pontos altos do percurso artístico do guitarrista. Com Amália percorre praticamente todos os palcos do mundo, desenvolvendo um trabalho de elevada qualidade, quer a nível de composições, como de sonoridades, em estreita colaboração com Alain Oulman e aliadas a uma cuidada escolha de poemas. Das numerosas apresentações que fez com a fadista destacam-se espectáculos como o realizado no Olympia de Paris, em 1968, destinado aos emigrantes portugueses, onde, para além do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, participaram também Carlos Paredes, Simone de Oliveira, Duo Ouro Negro e o Grupo de Bailados Verde Gaio.
Além dos discos gravados com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, Fontes Rocha editou ainda três discos com guitarradas, tocou para Natália Correia num disco de poesias e fez o acompanhamento em discos de inúmeros fadistas, caso de Ada de Castro, António Mourão, Carlos do Carmo (no LP "Por morrer uma andorinha"), Fernando Farinha, João Braga, Maria Amélia Proença e Maria da Fé, entre muitos outros.
Das gravações feitas com Amália Rodrigues, Fontes Rocha destaca com orgulho o trabalho realizado para o disco "Com Que Voz", com músicas de Alain Oulman, onde o guitarrista foi autor dos arranjos e do som. Como nos relata o próprio: "tive a sorte de fazer o melhor trabalho dela. Foi um disco que foi premiado em todo o mundo, com um prémio que só se dá a grandes músicas eruditas (…). Esse disco foi feito por mim (…) eu peguei na minha guitarra de Coimbra (afinada por Artur Paredes para o Fado de Coimbra). E foi nessa guitarra afinada de Coimbra que eu fiz esse disco, que está certíssimo para a música, e até inclusivamente para os poemas." (Baptista Bastos, "Fado Falado", Lisboa, Ediclube, 1999).
José Fontes Rocha é autor da música de vários Fados, alguns bastante famosos, tais como "Quentes e Boas" (com letra de José Luís Gordo), "Fado Isabel" (corrido cantado com diversas letras), "Anda o Sol na minha rua" (letra de David Mourão-Ferreira), "Lavava no rio lavava" e "Trago o Fado nos sentidos" (ambos com poemas de Amália). Compôs também melodias de guitarradas, como a "Valsa em Si menor", "Variações à Roda de uma Valsa", "Variações em Ré menor", "Variações em Sol Maior" e "Evocação em Mi menor".
Em 2005 recebe o Prémio Amália Rodrigues para Melhor Compositor de Fado.
O seu talento e sensibilidade são reconhecidos numa justa homenagem aos 80 anos de vida, realizada em 19 de Outubro de 2006, no Fórum Lisboa, com a participação de João Braga, Maria da Fé, Maria Armanda, Joana Amendoeira, Ana Sofia Varela, Gonçalo Salgueiro, Miguel Capucho, Rodrigo Costa Félix, Carlos Gonçalves, Carlos Manuel Proença, Joel Pina, Raul Nery e Ricardo Rocha, que interpretaram melodias de sua autoria.
Exímio acompanhador e compositor de melodias, José Fontes Rocha continua hoje a ser uma fonte inspiradora para todos os instrumentistas e fadistas.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Outubro/2011
(Entretanto, José Fontes Rocha faleceu em 15 de Agosto de 2011)

 

AUTORES DO FADO










sábado, 22 de julho de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS




HERMÍNIA SILVA

Hermínia Silva, de seu nome completo Hermínia Silva Leite Guerreiro, nasceu no Hospital de S. José, em Lisboa, na freguesia do Socorro, no dia 23 de Outubro de 1907. Teve dois irmãos, Emília, a mais velha, e Artur, o mais novo. Quando tinha apenas oito meses, a família mudou-se para o bairro do Castelo.
Chegou a ser aprendiza de costureira numa alfaiataria na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa, mas cedo começou a interessar-se por uma vida artística. Frequentadora da Sociedade de Recreio Leais Amigos, acaba por se inscrever no grupo como amadora na arte de representar, em 1925, tendo cantado os primeiros fados acompanhada ao piano.
Hermínia Silva estreou-se como amadora na Sociedade Recreativa Leais Amigos, em 1925. No ano seguinte, 1926, integra a Tournée Artística Gil Vicente, e percorre o país, passando por palcos de Vila Franca, Alenquer, Grândola, Alcácer do Sal, Santiago do Cacém, Sines, Odemira, Albufeira, Silves, Fuzeta, Lagos, Tavira e Vila Real de Santo António. Esta digressão passa ainda por Espanha.
A fadista sempre considerou o seu início de carreira a partir de 1926 quando fez parte da "Tournée Artística Gil Vicente" organizada pelo maestro A. Júlio Machado e pelo seu filho Victor Machado (que anos mais tarde escreveria o livro "Ídolos do Fado").Desta "Tournée Artística Gil Vicente" faziam parte, para além de Hermínia Silva, os actores Maria de Vasconcelos, Berta Moreira, Agripino de Oliveira, Artur Cunha, João Amaral, Pais Condessa e Raquel de Sousa (mais tarde também cantadeira), tendo Hermínia Silva alcançado grande êxito como actriz e como fadista.
No ano seguinte, a 9 de Abril de 1927, Hermínia Silva será mãe de um rapaz a quem dá o nome de Mário Silva. Estabelece-se como cantadeira de fados, primeiro no cinema Malacaio, onde faz as suas interpretações no final da exibição dos filmes, e depois no Valente das Farturas no Parque Mayer.
Hermínia Silva aspira também a ser artista de teatro e começará por interpretar fados em três peças, na Esplanada Egípcia do Parque Mayer, no decorrer de 1929: "Ouro Sobre Azul", "De Trás da Orelha" e "Off Side".
Nos anos seguintes actuará como cantadeira na antiga Cervejaria Jansen, no Salão Artístico de Fados, no Solar da Alegria e no Café Luso. Reconhecida pela sua voz castiça, Hermínia Silva será convidada a integrar o elenco da opereta "Fonte Santa", onde fará a sua estreia neste género, no ano de 1932, cantando alguns fados.
Participa já como actriz na peça seguinte em que participa, a revista "Feijão Frade", em 1933, onde é segunda figura de cartaz logo a seguir à conceituada actriz Beatriz Costa.
A partir desta data sucedem-se as suas interpretações no teatro, onde Hermínia Silva demonstra os seus dotes inconfundíveis de fadista aliados a um notável estofo de actriz cómica, de tal forma que as suas criações são constantemente lembradas na crítica jornalística: "Alegra-nos e encanta-nos o vermos, quer no palco ou no tablado, esta agarotada vedeta do Fado cujos personagens interpretados, são notáveis pelo pitoresco que contêm. Os seus «travesti» desde o «faia de "Tendinha"» ao provinciano «reservista» têm sido dignos dos melhores elogios para a Crítica exigente." (Cf. "Guitarra de Portugal", 10 de Abril de 1939). Nesta década de 1930, e mesmo na seguinte, Hermínia Silva é a grande intérprete do Fado no Teatro de Revista. É nos palcos dos teatros que estreia aqueles que serão os seus maiores sucessos, como a "Velha Tendinha" (na revista "Zé dos Pacatos", em 1934), ou "Rosa Enjeitada" (na revista "Arre Burro!", em 1936), ou "Mãos Sujas" (na revista "Chuva de Mulheres", de 1937).
Com a interpretação da personagem Maria da Luz, a fadista apresenta-se pela primeira vez no grande ecrã com o filme "A Aldeia da Roupa Branca", realizado por Chianca de Garcia em 1938. Hermínia Silva contracena com Beatriz Costa, Óscar de Lemos e José Amaro e interpreta os temas: "Fado da Fadista" e "Fado do retiro".
Cinco anos depois, em 1943, voltará a desenvolver um papel para cinema, desta vez no filme "O Costa do Castelo", realizado por Artur Duarte. Aqui, no papel da cantadeira Rosa Maria, canta: "Fado da Saudade" e "Fado Rosa Maria", contracenando com António Silva, Milú e Maria Matos. Hermínia Silva participa, também, nos filmes "Um Homem do Ribatejo", de 1946, e na sua continuação, "Ribatejo", de 1949, ambos realizados por Henrique de Campos. Na primeira película interpreta o "Fado da Sina" e na segunda o "Fado da Cigana". A fadista voltará a aparecer nas telas do cinema apenas mais uma vez, em 1969, no filme realizado por Constantino Esteves, "O Diabo Era Outro". Protagonizada por António Calvário, a película integra duas cenas filmadas no Solar da Hermínia.
A sua relação com o Teatro de Revista será mais constante, sucedendo-se as produções em que participa, desde 1932, até 1958, altura em que opta por abrir a sua Casa de Fado. Assim, a título de exemplo, vejam-se algumas das peças em que integrou o elenco:
"Sempre em Pé" (Teatro Variedades, 1938); "Iscas com Elas" (Teatro Apolo, 1938); "O Banzé" (Teatro Maria Vitória, 1939); "Bailarico" (Teatro Variedades, 1940); "Boa vai ela!" (Teatro Maria Vitória, 1941); "Boa Nova" (Teatro Variedades, 1942); "Toma Lá Dá Cá" (Teatro Maria Vitória, 1943); "Rosa Cantadeira" (Teatro Apolo, 1944); "O Tiroliro" (Teatro Avenida, 1946); "’Tá Bem ou não ‘tá?" (Teatro Avenida, 1947); "Ai, Bate Bate" (Teatro Variedades, 1948); "Ora Agora Viras Tu" (Teatro Variedades, 1949); "Fogo de Vistas" (Teatro Maria Vitória, 1950); "Lisboa Antiga" (Teatro Apolo, 1953); "De bota abaixo" (Teatro Apolo, 1955); "Daqui fala o Zé" (Teatro ABC, 1956); "A Casa da Sorte" (Teatro ABC, 1957).
Em 1950 interpretará, também, duas peças declamadas, "História de uma Fadista" e "Sempre em Festa".
No ano de 1949, Hermínia Silva casa com Manuel Guerreiro, mas como verificámos a sua carreira prossegue muito ligada ao teatro, actuando em diversas peças nos palcos do Teatro Maria Vitória, Variedades, Apolo, Politeama ou Avenida. Neste último Teatro Avenida é-lhe prestada uma homenagem em Dezembro de 1945.
A 13 de Maio de 1958 abre o Solar da Hermínia com o marido e pouco tempo depois, em Benavente, o Pôr-do-Sol, onde apresentava espectáculos de fado ao sábado à noite e ao domingo à tarde. Passa então a actuar essencialmente no seu espaço do Largo Trindade Coelho até ao seu encerramento a 23 de Outubro de1982, altura em a fadista cede o espaço ao poeta José Luís Gordo.
Para delírio dos seus admiradores voltará ao Teatro de Revista, mas apenas de forma esporádica, com as peças: "Ai Venham Vê-las", em 1964; "Afinal como é?", em 1975; e "Cada cor seu paladar", em 1976, todas levadas à cena no Teatro ABC.
Hermínia Silva concentra a sua carreira nas actuações em Portugal. O seu conhecido e parodiado receio em andar de avião, inviabilizou-lhe muitos contratos. Na década de 1930 teve três convites para deslocar-se à Ilha da Madeira e ao Brasil, mas não aceitou.
A sua maior digressão realizou-se em 1952, com destino ao Brasil, para onde viajou no navio Vera Cruz para apresentar vários espectáculos e participar na revista "Há sinceridade nisso?". Ao fim de sete meses não aceitou renovar o contrato por mais um ano porque sentia falta de Lisboa.
Em 1954 desloca-se aos Açores e à Madeira. Actua várias vezes para as comunidades emigrantes em França, a última das quais em 1981, e acta na América do Norte e no Canadá numa digressão realizada em 1971.
Em Portugal fez espectáculos no Porto, nos Teatros Sá da Bandeira, Carlos Alberto e Palácio de Cristal; bem como nos Teatros de Aveiro e Coimbra.
O percurso de grande sucesso e popularidade de Hermínia Silva manifesta-se na sua vasta discografia, infelizmente com poucas reedições em formato de CD. A faceta discográfica da sua carreira começa por estar ligada ao teatro, com edições em 78 rpm de alguns dos seus êxitos nos palcos da revista.
A fadista aprecia bastante trabalhar em televisão e quando a RTP surge, em 1957, Hermínia é já muito conceituada e a sua presença é imprescindível. Participou em vários programas e era uma presença constante no "Natal dos Hospitais" e na "Grande Noite do Fado".
Possuidora de um improviso fácil e cheio de graça, algumas das suas frases popularizaram-na e tornaram-se emblemáticas, caso de : "Eh pá ‘tás à rasca", "Anda Pacheco" (dirigindo-se ao guitarrista António Pacheco) e "Isso bem picadinho que é p’ra voz sobressair".
Atribui-se, também, a Hermínia Silva a inovação de trautear os refrões ou entoar "trolarós" que entusiasmam o público, durante a parte instrumental que antecede os finais das músicas, ao invés de ficar em silêncio como a generalidade dos outros fadistas.
Em 1980 realizou um espectáculo no Teatro S. Luiz, onde lhe foi atribuída a medalha da cidade de Lisboa, actuação que foi gravada ao vivo e editada, posteriormente, em LP.
Em 1992 Nunes Forte realizou para a RTP um documentário sobre a fadista, recolhendo depoimentos de Hermínia Silva, familiares e amigos, bem como imagens de arquivo, o qual foi editado em DVD, em 2005, em conjunto com o programa "15 minutos com Hermínia Silva", realizado por Jorge Alves, em 1961, e várias filmagens com interpretações dos seus maiores êxitos.
Após o encerramento da sua Casa de Fado, Hermínia Silva viveu os últimos anos completamente retirada, na sua casa em Lisboa, aparecendo apenas em algumas entrevistas que a RTP lhe fez com vista a um documentário sobre a sua vida. Faleceu em 1993.
Prémios e Homenagens:
1946 - Prémio Nacional do Teatro Ligeiro, pelo desempenho como actriz na revista "Sempre em Pé";
1980 - Medalha de ouro da cidade de Lisboa;
1985 - Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída a 10 de Junho pelo Presidente da República General Ramalho Eanes;
1990 - Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída a 10 de Junho pelo Presidente da República Dr. Mário Soares;
1993 - Atribuição do seu nome a uma Rua da freguesia da Ajuda, pela Câmara Municipal de Lisboa.

Fonte: Museu do Fado - Última actualização: Dezembro/2007.

AUTORES DO FADO










sábado, 15 de julho de 2017

BIOGRAFIAS FADISTAS




GABINO FERREIRA

De seu nome completo Manuel Gabino Ferreira da Silva, desde cedo que o universo do Fado acompanhou Gabino. Começou novo a ouvir o Fado na rádio e incentivado pelo pai inicia-se a cantá-lo em festas de beneficência, nos arredores da cidade do Porto, em 1936 como amador. Mais tarde, e graças ao seu jeito fadista, passa a frequentar o "Café Portugal" e o "Café Academia", auferindo o seu primeiro cachet. Neste período tornou-se conhecido no meio como o "Miúdo do Bonfim". Em 1938 actuou no "Café Portugal", da Rua de Trás, a "Catedral do Fado" portuense e, sucessivamente, no "Café Mundial" na Rua da Madeira e no "Café Academia" da Avenida dos Aliados.
Em 1942 vem para Lisboa onde completa os 20 anos de idade e logo nessa mesma noite actua na "Esplanada Luso", do ex "Retiro da Severa" onde interpreta "Cabelo Branco", acompanhado por Jaime Santos e Miguel Ramos. (cf. Radamanto, in "Guitarra de Portugal", 15 Junho de 1945). Não regressou ao Porto, como estava previsto, o empresário Lopes Ferreira ("Café Luso") pediu-lhe para ficar e apresentar-se no seu elenco de fadistas.
Em 1945, e após ter cumprido o serviço militar, actuava no "Retiro dos Marialvas" acompanhado por José Nunes (guitarra) e Miguel Ramos (viola). Retorna ao "Luso" de onde volta a sair para ingressar na casa típica "Adega Machado".
O seu repertório é composto por grandes nomes do Porto como sejam Manuel Mendes, Alberto Ferrador e José Maria da Silva, havendo também referências e numa linha mais tardia a poetas como Linhares Barbosa, Francisco Radamanto, "Britinho", e Carlos Conde.
Inaugura o restaurante típico "A Severa" como gerente artístico actividade que concilia com a actividade profissional na Companhia dos Telefones onde trabalhou durante 37 anos. Mais tarde retira-se da vida artística ainda que precocemente.
Durante a sua permanência em Lisboa, nunca esqueceu as suas raízes e regressou, sempre que possível, à terra natal para espectáculos noutras casas, teatros e esplanadas.
Gabino Ferreira actuou em directo na Emissora Nacional, na Rádio Peninsular e na Rádio Graça e foi agraciado pela Emissora Nacional com uma Menção Honrosa.
Do seu vasto repertório destacamos alguns êxitos: "Lenda da Amendoeira", e "O Fado está doente" de Carlos Conde, o eterno "Cabelo Branco" de Manuel J. Nogueira, para além de outros poemas de conterrâneos seus.
Em 1979 foi convidado a gravar para a etiqueta "Riso e Ritmo" um LP intitulado "Fado da Velha Guarda" juntamente com Júlio Vieitas, Manuel Calixto, José Coelho, Frutuoso França. Este é um dos 3 registos discográficos da carreira de Gabino Ferreira.
Figura incontornável da história do fado, Gabino Ferreira faleceu em Novembro de 2011.

Fonte: Museu do Fado - Última Actualização: Novembro de 2011